sábado, 23 de outubro de 2010

CRÍTICA: ‘As cariocas’, altos e baixos


“As cariocas” apresentou seu time pelos prenomes, sugerindo intimidade e abrindo a porta para a generalização. No episódio de estreia, “A noiva do Catete”, a estrela, por exemplo, era simplesmente Alinne. Qual Alinne? Ora, Alinne/Nádia, a Noiva do Catete, uma figura da mitologia de Sérgio Porto, mas pinçada no cotidiano comezinho nas redondezas do Largo do Machado e da Silveira Martins. Alguém comum, que você pode ter conhecido.

Deliciosamente narrada por Daniel Filho, “As cariocas” tem fotografia impecável (de Nonato Estrela), trilha inspirada e direção de mestre de Daniel. A sacanagem, o espírito libertino, e a possibilidade de uma mulher ter não duas, mas mil caras estão ali o tempo todo. No entanto, a linguagem visual não poderia ser mais elegante. São meros relances dos jogos sexuais, das brincadeiras nunca 100% mostradas, como a do escambo da calcinha pela toalha, e depois pela cueca. Alinne Moraes, Pedro Nercessian, Ângelo Antônio e Nélson Baskerville estiveram perfeitos. Fica visível ali também a mão de um bom diretor.

Um erro de conceito, entretanto, atrapalha a série. Diferentemente de “A vida como ela é...”, programa de 1997 baseado na obra de Nelson Rodrigues (e também com adaptação de Euclydes Marinho e direção de Daniel Filho), “As cariocas” foi trazida para os dias de hoje. O Catete que se vê aqui não é o idílico bairro ainda com resíduos de pose por causa do palácio, como testemunhou Sérgio Porto. Difícil também conceber, nos tempos atuais, uma mulher na cama com um homem casado que goste de vê-la usando avental e falando “paizinho”.


Ao atualizar a obra de Sérgio Porto, Euclydes automaticamente transformou em ponto fraco o que poderia ser uma viagem ao Rio dos anos 60. Ficou datado.

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