quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Analisando a primeira semana de Sessão de Terapia


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Eu não assisti Be Tipul, a versão original de Sessão de Terapia. Também não assisti a In Treatment, a aclamada versão americana da HBO – na época eu não tinha o canal e o formato de um episódio por semana era desencorajador para quem já tinha uma agenda cheia de outras séries.

A agenda continua impossivelmente cheia, mas resolvi dar uma chance a produção nacional bastante elogiada antes de sua estréia. E, se falarmos somente de produção, ela realmente merece elogios: o formato de 30 minutos sem comerciais, o cenário acolhedor, a fotografia caprichada nos entregam um produto de qualidade comprovada.

Só que eu quase desanimei logo no primeiro episódio: a história de Júlia, anestesista que se “apaixona por seu terapeuta”, não me desceu. Sinceramente não acho que, como alguns disseram, Maria Fernanda Candido estivesse excelente, na verdade ela não conseguiu me vender seu sofrimento, sua confusão. O roteiro recheado de frases e palavras de impacto me parecia querer se mostrar moderninho, mas ao invés de chocar soou forçado, a agressividade na postura e na voz não estavam de acordo com o discurso. Quase desisti da empreitada.

Apesar de tanta decepção tentei novamente na terça. Consegui sentir certa melhoria, mas também não consegui empatia com Breno, um atirador de elite que acaba por matar um menino por acidente ao matar um traficante. Sérgio Guizé padeceu do mesmo mal de Maria Fernanda ao soar forçado demais.

O que mudou foi uma presença mais acertada de Theo, o terapeuta de Zécarlos Machado. Se no primeiro episódio ele praticamente desaparece sob o ataque de Júlia, aqui ele começa a mostrar a que veio, contrapondo os ataques do paciente de forma mais contundente.




Sessão de Terapia

Na quarta o seriado sofre uma virada: Theo encontra seu tom ao atender Nina (Bianca Müller), uma garota que sofreu um acidente de bicicleta, mas que pode esconder tendências suicidas. E o que cada paciente esconde e como Theo tenta baixar as barreiras que estes levantam é justamente o que leva a esta virada.

O Theo que parece assustado no primeiro episódio deixa de existir e não deve ser à toa que este seja o primeiro episódio em que a vida pessoal do terapeuta é mostrada, primeiro pelo aparecimento de seu filho caçula, depois pela citação de outra filha.

Na quinta-feira temos o meu episódio favorito quando Theo recebe um casal que discute a possibilidade de um aborto quando deveria estar avaliando melhor os problemas reais de seu casamento. Não sei vocês, mas eu tenho um bom tempo de divã e sempre considerei que os problemas descobertos assim, aqueles que negamos existir ou que simplesmente não conseguimos enxergar são os que realmente precisamos resolver.
E as mudanças em Theo também continuam: aqui ele já se mostra mais impaciente, mais seguro do que pensa ao mesmo tempo em que tenta não tornar a sessão de terapia em um confronto.

Finalmente, depois da explosão ocorrida na sessão com João e Ana – João o enerva a tal ponto que o terapeuta chega a dizer com todas as letras que o casal deve abortar – Theo procura por ajuda e recorre a sua antiga supervisora, Dora. E, assim como com Nina ou Ana, percebemos que o problema que nos faz buscar a terapia nem sempre é o que nos leva a terapia de verdade.

Theo fala sobre sua falta de paciência ou sobre o que pensa de seus pacientes na maior parte do tempo, mas Dora, com quem ele já teve uma briga no passado, conduz para que ele revele que sua vida pessoal pode ser o real problema – um casamento não tão feliz, para ser mais exata.

Ao final da semana conclui que Sessão de Terapia teve mais acertos que erros, que podem ser inclusive atribuídos a uma certa falta de ritmo para alguns personagens e resolvi insistir mais uma semana completa. Sim, nada impede que eu acompanhe apenas no dia em que os pacientes já me ganharam, mas fiquei curiosa para saber se as rotas de Júlia e Breno podem ser ajustadas – caso os episódios tenham sido filmados na ordem em que estão sendo exibidos isso pode explicar o ganho de ritmo ao longo da semana, a relação criada por diretor e personagem principal.

Mais que isso fiquei curiosa pelo que poderá acontecer com Theo, como ele irá lidar com a difícil descoberta de que seu casamento possa estar bem pior do que ele consegue colocar em palavras, como ele irá lidar com os reflexos de sua vida que vê nas histórias de seus pacientes.

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