O
time de atores pode ser de primeira linha, mas se o público não
simpatizar com a história e não se identificar com os personagens nada
pode salvar uma novela do fracasso. Relembre quais foram as piores
investidas da TV nos últimos tempos:
10. Tempos Modernos
Primeiro, a culpa foi do horário de verão. Depois, recaiu sobre as
intensas chuvas de fim de tarde que atingiram grande parte do país desde
o fim de dezembro. Por fim, o Carnaval. As desculpas para justificar o
fracasso de Tempos Modernos (Globo, 2010) estão sempre na ponta
da língua, mas nenhuma convenceu. O fato é que a história do empresário
Leal (Antônio Fagundes), seu computador Frank e suas três filhas não
agradou como se esperava. É verdade que a novela está apenas no começo –
estreou em 11 de janeiro -, mas já registrou a pior audiência de todas
as novelas das 19h da Globo e ligou o sinal de alerta da emissora.
9. Viver a Vida
A nova Helena (Taís Araújo) de Manoel Carlos, dessa vez, não
encantou. A química entre ela e Marcos (José Mayer) também não
convenceu. A trama não esquentou, e o resultado disso só poderia ser
baixa audiência. Começa-se a ter certeza de que uma novela vai mal
quando personagens secundários começam a ofuscar os protagonistas, neste
caso, como os gêmeos Miguel e Jorge (Mateus Solano), a língua afiada de
Isabel (Adriana Birolli) e a esperta Rafaela (Klara Castanho). Viver a Vida
(Globo, 2009) tem o pior ibope de toda a história das novelas das 20h e
21h da emissora. O autor promete uma reviravolta para dar fôlego à
história que tem fim marcado para maio.
8. O Beijo do Vampiro
Não é porque uma novela fez um imenso sucesso que ela pode ser copiada com o mesmo resultado. Esse foi o pecado cometido por O Beijo do Vampiro (Globo, 2002), que foi vista como uma réplica de Vamp (1991),
com mais efeitos especiais. A mais notável semelhança entre as duas,
além do autor Ântônio Calmon, são os personagens de Ney Latorraca, que
foi Conde Nosferatu e Conde Vlad, respectivamente. Mas quem guia a
história na nova versão são os vampiros Bóris (Tarcísio Meira) e
Mina (Claúdia Raia) e os mortais Lívia (Flávia Alessandra) e Beto
(Alexandre Borges), que se encontram entre uma reencarnação e outra.
7. Vira-Lata
Carlos Lombardi já assumiu, em um evento de TV, que Vira-Lata
(Globo, 1996) é uma mancha em seu currículo de novelista. “Às vezes,
você descobre que foi problema seu, ou um erro de escalação, ou em geral
uma mistura de tudo isso. Foi o que aconteceu com Vira-Lata“, disse o autor de fenômenos como Bebê a Bordo (1988) e Quatro por Quatro
(1994). No fracasso, Andréa Beltrão é Helena, uma mulher com duas
filhas pequenas e um pai criminoso, que ela tenta esconder do marido, o
promotor Viana (Murilo Benício). A empatia dos protagonistas com o
público foi tão fraca, que o autor decidiu virar a história e
transformar o então casal coadjuvante – Fidel (Marcello Novaes) e
Renata (Carolina Dieckmann) – em principal. Deu menos errado.
6. Bela, a Feia
Bela, a Feia (Record, 2009) foi anunciada com toda a pompa e
prometendo 20 pontos no ibope. Começou com 10 e foi caindo cada vez
mais, chegando a marcar até 5, muito diferente de novelas bem-sucedidas
da emissora, como Promessas de Amor e Os Mutantes. A
culpa pode não ser da Record, e sim da história da heroína feia e
bobinha que se apaixona pelo lindo chefe garanhão e um dia aparece linda
e fatal. A fórmula pode, simplesmente, ter cansado o público, que já
foi apresentado à original colombiana (Betty, la Fea), exibida no Brasil pelo SBT e pela Rede TV, que também deu origem a um seriado americano (Ugly Betty).
Para tentar mostrar alguma novidade e chamar a audiência de volta, a
Record promete um final diferente, no qual a feia não suma.
5. Vende-se um Véu de Noiva
Silvio Santos nunca se fez de rogado ao mudar de horário, encurtar a
duração ou simplesmente limar da telinha algum programa que não
estivesse dando a audiência necessária. Não é porque Íris Abravanel é
sua mulher que seria diferente. Vende-se um Véu de Noiva (SBT,
2009), do qual ela é a autora, fez a emissora – que deve sentir saudades
dos bons índices que conquistava com as novelas mexicanas – amargar o
quarto lugar no ibope durante todo o período de exibição. Por isso,
terminou quase dois meses antes do previsto. Baseada na obra homônima de
Janete Clair, a história gira em torno do casal Maria Célia (Thaís
Pacholek) e Rubens Baronese (Nando Rodrigues). Nem as insistentes
chamadas feitas pelo patrão impulsionaram o ibope.
4. Negócio da China
Miguel Falabella já tinha enfrentado alguns fracassos como autor de novelas, com Salsa & Merengue e A Lua Me Disse, ambas escritas em parceria com Maria Carmem Barbosa. Mas foi em Negócio da China
(Globo, 2008), a primeira escrita sozinho, que sua carreira de
novelista foi colocada em xeque. O que era para ser uma história de ação
para atrair o público jovem, tornou-se na prática uma história sem pé
nem cabeça, que misturava máfia chinesa, um pendrive que guardava uma
grande fortuna e atiçou a ambição de metade do elenco, lutas marciais,
romances e implicância de sogras. Uma das piores audiências das novelas
da Globo e a saída precoce de Fábio Assunção, protagonista ao lado de
Grazi Massafera, acabaram mudando o rumo da história e ajudaram a
antecipar o (desejado) fim da história. Ao fim, o autor disse que só
volta a escrever novela “se estiver morrendo de fome”.
3. Bang Bang
A Globo inovou abordando o tema faroeste em uma novela. Mas não foi à toa que isso não virou moda. Bang Bang
(Globo, 2005) foi um fiasco. A trama confusa e as piadas do velho oeste
não colaram. Os baixíssimos índices de audiência chegaram a afetar,
inclusive, o imaculado ibope do Jornal Nacional, que vinha logo
em seguida. Nem o autor aguentou a história de Ben Silver (Bruno
Garcia), que aos 8 anos teve a família morta pelos capangas de Paul
Bullock (Mauro Mendonça) e volta para a cidade pronto a enfrentar o
inimigo, quando se apaixona pela filha dele, Diana (Fernanda Lima).
Alegando problemas de saúde, o novelista Mário Prata abandonou o
folhetim nas primeiras semanas de exibição, deixando o abacaxi nas mãos
de Carlos Lombardi, que não conseguiu fazer milagre.
2. Zazá
Nem o peso do nome da única atriz brasileira indicada ao Oscar foi o suficiente para fazer Zazá
(Globo, 1997) decolar. Fernanda Montenegro era a protagonista Zazá
Dumont, uma mulher apaixonada por aviação e que jurava ser filha de
ninguém menos que Santos Dumont. A história fraca se refletiu em
audiência pífia. O autor, Lauro César Muniz, não lembrava nem de perto o
grande sucesso de O Salvador da Pátria (1989). Ele assumiu em
entrevista, pouco depois do fim da novela, que chegou a perder o
controle da história e a vontade de fazer novela depois de Zazá, “porque aquilo me traumatizou um pouco”.
1. Metamorphoses
Talvez muita inovação pode afastar o público.
A principal explicação para este fiasco estava no próprio texto. A trama
rocambolesca era contada de forma linear, como se fosse um filme.
Os folhetins, desde sempre, têm a característica de a cada capítulo
recontar toda a trama para quem está vendo, ouvindo ou vendo pela
primeira vez. Tanto que é possível acompanhar qualquer novela normal
assistindo a um capítulo por semana, por exemplo. O que Metamorphoses
fez é desprezar a técnica desenvolvida desde os primeiros folhetins. E
conseguiu com isso afastar quem não é telespectador assíduo. A telenovela começou em um dia atípico, um domingo; A emissora apostou na mistura ousada de ficção com realidade e alguns
artistas passaram por cirurgias plásticas, que foram gravadas e usadas
dentro da trama. A novela já teve problemas antes mesmo da estreia. Inicialmente, o autor seria Mário Prata. Depois, foi convidado Marcílio Moraes.
Ambos chegaram a começar a trabalhar no texto e na história, mas
abandonaram o projeto devido aos desmandos e interferências da produtora
Arlette Siaretta. Muitos atores deixaram a novela em sua segunda fase, quando foi contratada nova autora, Letícia Dornelles,
para tentar salvar a telenovela. O elenco foi quase todo renovado, mas a
audiência não melhorou. Ainda, antes mesmo do fim da primeira fase,
quem deixou o projeto, pelo mesmo motivo de Prata e Moraes, foi a
diretora Tizuka Yamasaki. A novela terminou com vinte capítulos a menos que o previsto e a maioria dos personagens não teve desfecho apropriado.