Julia Lemmertz revela: 'É como se minha mãe estivesse
comigo' (Foto: Carol Caminha/TV Globo)
Julia Lemmertz diz se sentir abençoada. E não é para menos. Com 33 anos
de carreira, em um momento que ela define como de amadurecimento
profissional e pessoal, a atriz é a escolhida de Manoel Carlos para dar vida à última Helena da carreira do autor. E há um motivo especial para esta escolha: ela é filha de Lilian Lemmertz, a primeira a interpretar uma Helena de Maneco. Um ciclo que se fecha.
Com um jeito meigo e dócil que encanta, Julia não segurou as lágrimas
durante esta entrevista exclusiva, ao falar da homenagem que está
prestando à mãe. "É quase como se ela estivesse comigo aqui", afirma.
A atriz diz que tem características parecidas com
sua Helena (Foto: Carol Caminha/TV Globo)
Mesmo emocionada, ela demonstra a mais pura empolgação ao falar sobre o
desafio de dar vida a uma personagem tão mítica da teledramaturgia
brasileira. Destaca as qualidades da heroína e se reconhece nela em duas
características: o senso de justiça e o lado maternal.
Também faz questão de comentar a parceria com Bruna Marquezine,
intérprete da mesma personagem no início da trama, a quem ela chama de
atriz "concentrada e dedicada". Confira abaixo a entrevista exclusiva
com as revelações da próxima Helena.
Ao convidar você para viver a Helena de Em Família,
Manoel Carlos quis homenagear sua mãe, Lilian Lemmertz, a primeira
Helena do autor, em 'Baila Comigo'. Qual foi sua reação ao receber o
convite para interpretar a última Helena?
Fiquei exultante! É como se fosse uma coisa que eu desejasse, mas nunca
tivesse falado para mim mesma. Eu me contentaria em fazer uma novela do
Manoel Carlos, não precisava ser a Helena. Veio em um momento bárbaro
da minha vida, de força, amadurecimento e me sinto merecedora dessa
graça (risos). Ao mesmo tempo é lindo pensar que dentro da novela tem
essa homenagem à minha mãe, a todas as Helenas, mas especialmente essa
conexão que existe com ela, pelo fato de ela ter sido a primeira Helena.
É uma personagem mítica, uma heróina, mas também não é. É muito
interessante, uma personagem muito rica.
O que é mais desafiador para você: interpretar esta última Helena ou homenagear sua mãe?
Fazer essa homenagem para minha mãe não é desafiador, é maravilhoso. É
um desafio fazer uma novela do Maneco, dirigida pelo Jayme (Monjardim).
Agora, a minha mãe entra meio que nas profundezas, quase como se ela
estivesse comigo aqui, mas não é uma coisa que eu fico falando muito (a
atriz se emociona e chora neste momento)... É difícil de compartilhar
isso, é difícil de dizer o quanto é profundo. É uma homenagem a ela e
também ao trabalho de atriz dela, ao que ela fez de bonito ao longo da
carreira, que foi muito curta. Minha mãe morreu muito jovem, com 48
anos.
Como era a relação com sua mãe? Ela influenciou em sua escolha pela carreira de atriz?
Tanto minha mãe, quanto meu pai eram atores. Filho de ator sempre está
com o pai e a mãe no teatro, ensaiando, no set de cinema. Então, você
fica vendo o processo, como ela se maquia, como ela lida com os outros,
como é uma estreia... Quando comecei minha carreira de atriz, tinha a
sensação de que tinha feito uma faculdade. Sabia muita coisa sem saber
que eu sabia, que tinha um conhecimento tão profundo. Eles inspiraram
não só a mim, mas acho que um monte de gente. O que é mais forte para
mim é que eu me vejo neles. Eu vejo características minhas que herdei de
um, herdei de outro. É bacana isso.
A cada fase da novela o público vai acompanhando o amadurecimento da Helena. Como você vê a personagem na terceira fase?
Ela é uma mulher que passou por uma tragédia... Isso a marcou, apesar
de ela ainda ser muito forte, decidida, para cima e cuidar de todo
mundo. Mas ao mesmo tempo ela tem coisas guardadas, profundas cicatrizes
que ela não revela a princípio. Acho bacana ela ter um tremendo senso
de justiça, porque ela sabe que o que aconteceu foi muito grave, muito
sofrido e as pessoas fingem que isso não aconteceu ou que já passou,
deixam para lá. E ela não deixa para lá, quer a reparação. Sempre foi
muito desafiadora.
Qual característica você acha que tem em comum com sua Helena?
O Maneco sempre fala que escreve as personagens e se inspira na pessoa.
Acho que tenho um pouco esse senso de justiça também. Talvez eu não
seja tão arraigada, prefiro deixar as coisas rolarem. Sou um pouco
budista: o que passou, passou, prefiro não guardar mágoas e
arrependimentos. Hoje é o que importa. Se fez mal é porque tinha que
fazer e a coisa tem que se encerrar ali, vejo o lado bom das coisas,
tudo é um aprendizado. Sou muito maternal também, como a Helena. Ela
cuida do irmão, da irmã mais nova, resolve muito os problemas dos outros
e não resolve os dela.
Julia é só elogios à colega Bruna Marquezine
(Foto: Carol Caminha/TV Globo)
Como está sendo sua relação com a Bruna Marquezine, que vai ser a Helena mais jovem?
Bruna é uma menina do ramo, é atriz desde que se conhece por gente. Por
mais que ela seja nova, tem uma experiência grande no que faz e é muito
concentrada, dedicada. Não foi difícil ela sacar, ficar me observando,
tentar fazer um pouquinho a Helena dela com uma coisa parecida minha.
Mas depois a gente fica pensando, como você era 20 anos atrás? Você não
era igual, talvez nem falasse desse jeito como fala, talvez tivesse um
temperamento um pouco mais introspectivo. Então, a gente tenta ter umas
semelhanças, mas também tem que ser um pouco da vida.
O que mudou no seu visual para viver Helena?
O cabelo cresceu, botei um pouco de megahair para ficar com um pouco
mais de volume. Fui tirando o ruivo, deixando ele um pouquinho mais mel.
Estou gostando, é liso e fácil de manter. Queria deixar um cabelo que
você está trabalhando e prende, solta, sabe aquela pessoa bem carioca?
Que finge que não cuida (risos)?
Em Família é uma novela de Manoel Carlos, com direção
de núcleo de Jayme Monjardim e direção geral de Leonardo Nogueira. A
novela estreia em fevereiro.