Escolhas e suas difíceis consequências…
Neste capítulo que encerrou a primeira semana de “Amores Roubados”
vimos um novo Leandro surgir ante os nossos olhos. Um Leandro mais
calmo, mais amolecido pela paixão fulminante que sente por Antônia e,
sobretudo, um Leandro com consciência de que seus atos passadas não
serão esquecidos e que, por este motivo, teme que sua felicidade lhe
seja tirada por causa de um dos inúmeros esqueletos em seu armário.
No outro oposto tivemos Jaime, mordido, traído, sedento por vingança,
saindo um pouco da postura defensiva que manteve nos três primeiros
capítulos da minissérie e assumindo o centro das ações, explicitando sua
personalidade forte, seu coronelismo, sua vontade pelo poder. Jaime
bufou, esquentou-se, fez piada e zombou de seus “inimigos” enquanto,
pelos bastidores, com a ajuda de João, arquitetava a eliminação completa
de quem lhe ameaça. Como ele bem disse para João logo no começo do
capítulo, ele quer fazer Isabel sangrar… Mais do que isso, Jaime quer
pura e simplesmente sangue.
Na review passada destaque a curiosa divisão da série, que agora
parece duas: uma com as cenas entre Leandro e Antônia, dotadas de tons
românticos, e outra que é praticamente um thriller de ação, assumida por
Jaime e Isabel. E neste episódio, essa divisão, além de tornar-se mais
evidente, também ganhou uma justificativa. Único elemento em comum entre
essas duas faces de “Amores Roubados”, Leandro passou por um processo
de mudança neste capítulo e, mesmo em suas cenas com Antônia era visível
sua preocupação. O sommelier falou em fugir e pareceu, em todo o
tempo em que estava com a amada, incomodado com algo. É como se
Leandro, de dentro da trama, estivesse tendo essa mesma visão que eu,
daqui de fora, já tive. Ele sabe que por mais bonitos que sejam os
pores-do-sol com a amada, o perigo está rondando aquela relação.
E se for isso mesmo, Leandro está correto, pois já na primeira cena vimos Jaime arquitetar a morte do sommelier.
Como era de se esperar, o empresário não matou a mulher e conseguiu
domar o ódio que sentia e pensar melhor. Decidiu que o caminho mais
correto era matar Leandro – e não podemos nos esquecer de duas coisas. A
primeira delas que a vinícola que ele comanda é, na verdade, do sogro
e, logo, de Isabel. A segunda é que sumir com o corpo de uma grande dama
da sociedade é mais difícil do que sumir com o Leandro, que não é
ninguém – ou seja, eliminar o amante da mulher e fazê-la sofrer de
outras formas, o que não é muito difícil dada a fragilidade mental de
Isabel.
Assim o plano rodou durante todo o capítulo, com o sádico João
fazendo tudo o que seu “padrinho” queria que fosse feito, com o único
propósito de acabar de uma vez por todas com Leandro. Era bastante óbvio
que este seria o grande gancho que encerraria a primeira semana de
“Amores Roubados”, então eu não esperava outra coisa senão aquela cena
final, com Jaime levando Leandro para uma emboscada.
O bom desse plano todo foi que ganhamos atuação brilhante de um
Murilo Benício que entendeu a cabeça de Jaime sabendo transitar bem
entre o ameaçador, o vingativo e manter-se perante todos impassível,
como se nada estivesse acontecendo. Até mesmo por isso, as duas cenas de
Murilo no capítulo que mais chamaram a atenção foram justamente aquelas
em que ele deixa escapar algo por detrás da máscara, como quando brinca
com Isabel falando que ela não havia motivos para ser infeliz naquela
casa ou, já no final do episódio, quando começa por meio de indiretas em
um dos momentos mais fantásticos desse roteiro, na cena do carro,
tornar-se gradativamente mais ameaçador.
Quem merece todo o destaque também é Irandhir Santos que foi
sadicamente perverso durante todo o planejamento da execução de Leandro.
O ator que tem sido a grata surpresa da minissérie desde sua estreia
finalmente cresceu e mostrou toda sua perversão. Se é compreensível o
ódio de Jaime em razão da traição da mulher, as atitudes de João
demonstram somente maldade, de uma pessoa que é pura inveja. João quer a
vinícula, quer Antônia, quer o luxo, o glamour… João quer tudo. E
Irandhir foi perfeito em imprimir o prazer de sua personagem em ver essa
família desmoronando durante cada uma de suas cenas no capítulo.
E retornando a ideia que trabalhei anteriormente, de que Leandro
esteve diferente durante todo este capítulo, acredito que isso foi o que
mais me fascinou. É como se Leandro soubesse que iria morrer. A
proposta de fuga feita à Antônia pelo rapaz deixa isso claro. Ele sabe
que quanto mais tempo permanecer em Sertão, menores são suas chances. E
todas as cenas de Leandro passaram exatamente essa mensagem.
É de se destacar as ótimas conversas entre Leandro e Fortunato que,
interpretado pelo ótimo Jesuíta Barbosa, é mais uma das gratas surpresas
da minissérie. Fortunato funciona para Leadro como uma consciência fora
de seu corpo. Fortunato é como aquele anjinho dos desenhos animados. De
maneira crua e às vezes direta até demais o amigo aponta a Leandro o
caminho de ruína que ele está seguindo. E foi bom ver neste capítulo,
pela primeira vez, Leandro dando ouvidos ao amigo.
O crescimento do relacionamento dos dois foi tão bem desenvolvido que
reservou a grande virada do episódio exatamente para essa dupla, com
Leandro ligando para Fortunato quando sentiu o perigo da emboscada em
que se metera. E não tenho dúvidas que o rapaz vai à procura do amigo e
será, provavelmente, quem salvará Leandro da morte (por enquanto).
Mas nada no capítulo foi mais maravilhoso que Leandro e sua mãe,
Carolina. O perdão, a superação dos problemas entre os dois, a
reaproximação dos dois e a explicitação de que o rapaz encontra-se
ameaçado e precisa da mãe foi um dos momentos mais marcantes que a
minissérie nos apresentou até hoje. A cena toda foi belíssima, a troca
de olhares entre Cauã e Cássia foi de fazer brotar lágrimas nos meus
olhos. E o abraço emocionado entre os dois simplesmente fez essas
lágrimas rolarem pelo meu rosto. Foi mais uma daquelas cenas que beiram a
perfeição. Um roteiro magnífico que com poucas falas deixou
escancaradas todas as mágoas existentes entre mãe e filho e uma direção
minimalista, sem muitos cortes, focando-se quase que exclusivamente nos
rostos de Cauã e Cássia, permitindo que os atores brilhassem. E eles
brilharam. Foi uma cena de uma sensibilidade impressionante.
E assim “Amores Roubados” encerrou sua primeira semana de exibição,
nos mostrando ser uma minissérie poderosa que trata de sentimentos
pesados como a vingança, a ganância e o ódio, mas nos tocando da forma
mais impressionante possível com o pedido de perdão mais palpável e
emocional que já vi na televisão brasileira.
A expectativa pros próximos cinco – e últimos – capítulos é a melhor possível.
::: Alguns Devaneios Finais:
- Sobre a audiência, a série se recuperou da pequena queda e voltou a
registrar 30 pontos no quarto capítulo (com picos de 33), e pela prévia
de sexta, deve fechar sua semana de estreia com média de 30 pontos, se
tornando o maior sucesso comercial da faixa nos últimos 8 anos e
consolidada como a segunda maior audiência da Globo no dia, perdendo
apenas para a novela das 21h.
- A audiência, no entanto, irá sofrer quedas na próxima semana uma
vez que, com a estreia do BBB, “Amores Roubados” que hoje ocupa a faixa
das 22h, passará a ocupar a faixa das 23h (chegando ao fim próximo das
00h). Não há previsões, na Globo, de qual vai ser o tamanho dessa queda,
pois ninguém na emissora aguardava o sucesso estrondoso de “Amores
Roubados”.
- De qualquer forma, a Globo espera que “Amores Roubados” ajude a
aumentar a audiência do BBB, que é o que eles chamam de “sala de
espera”, ou seja, o programa que o público assiste antes do que
verdadeiramente quer ver. A minissérie já fez isso om Amor à Vida, que
aumentou quase 4 pontos em sua média semanal depois da estreia de
“Amores”.
- Sobre a emocionante cena entre Cauã Reymond e Cássia Kis Magro,
vale destacar que em entrevista dada esta semana, Cauã revelou que, a
pedido de Cássia, eles levaram as desavenças de seus personagens para a
vida real em uma espécie de laboratório para construir essa relação.
Desta forma, mesmo que juntos durante um grande período no qual a equipe
gravou no Pernambuco, Cauã e Cássia mal dirigiam a palavra um ao outro,
só retornando a um relacionamento ao término das gravações quando, de
acordo com Cauã, Cássia lhe deu um grande abraço e os dois choraram
juntos.
- Já há conversas entre Globo e George Moura sobre uma possível nova
minissérie no começo do ano que vem. Após os sucessos do roteirista em O
Canto da Sereia (2013) e agora em Amores Roubados (2014), Moura ganhou
um novo patamar na emissora. O problema é que José Luiz Villamarim
provavelmente não vai renovar a parceria com o roteirista em razão da
nova novela de João Emanuel Carneiro que deverá estrear exatamente no
primeiro trimestre de 2015 e deve contar, mais uma vez, com o diretor ao
lado de Amora Mautner.