Quando o passado traz novos ares.
Spoilers Abaixo:
A Grande Família é a série brasileira há
mais tempo no ar. Começou em 2001 num horário ingrato (após o Linha
Direta, um programa nada “família”) e hoje, 12 anos depois, estreia sua
nova temporada com a próxima já garantida. O segredo do seu sucesso é a
identificação do público com os personagens. Toda família tem um Lineu,
uma Nenê, uma Bebel, um Tuco, um Agostinho.
Mas tanto tempo no ar traz desgaste ao
programa. Afinal, muito do que poderia ser explorado, já foi. Problema
semelhante ao que acontece com Os Simpsons na TV americana. Ano passado,
tentaram renovar o programa com um salto temporal de quatro anos após
um coma do Lineu. Não deu certo, e a temporada não empolgou crítica nem
público.
Agora, é feita uma nova tentativa de
renovação. E a ideia não poderia ser mais simples. Foram as situações do
cotidiano desta família que fizeram da série um sucesso, anos atrás. E
nada melhor para recuperar o interesse do público do que voltar ao
básico: colocar todos para morar na mesma casa de novo e focar o roteiro
nas relações familiares.
O artifício utilizado para que todos
voltassem a viver sob o mesmo teto foi a decisão do Lineu e da Nenê de
deixar os seus bens ainda em vida para os filhos. Como o Tuco precisava
do dinheiro para investir na sua nova peça de teatro (uma montagem de
Hamlet), livrou-se da sua parte da casa logo no primeiro dia, vendendo-a
para a irmã.
Assim, Bebel e Agostinho retornaram ao
lar dos Silva, mas desta vez como proprietários. E para comemorar,
decidiram fazer o tradicional cozido da Dona Nenê (só que desta vez
pelas mãos da Bebel, com ingredientes nada tradicionais como shitake e
shimeji).
Todas as picuinhas familiares e as
confusões causadas pelo conflito de gerações ganharam força por serem
facilmente identificáveis como situações reais. Enquanto Bebel e
Agostinho lutavam para provar que podem assumir a liderança da família,
Nenê e Lineu protegiam os seus “cargos” originais com unhas e dentes.
Aplausos para o recurso narrativo de passar toda a briga principal em fast forward
e depois colocar os personagens em frente à TV para assistir o que
aconteceu. O peso da situação tornou-se maior ao vermos antes as feridas
abertas e só depois o que as ocasionou.
Os coadjuvantes até apareceram neste
primeiro episódio, mas foi a família Silva que teve espaço para brilhar.
E para reverenciar seu próprio passado. Cenas dos doze anos do programa
foram inseridas com maestria na narrativa deste que foi um dos
episódios mais nostálgicos da série.
A Grande Família está de volta e, ao olhar para o seu passado, ganha fôlego para um longo futuro.
PS. Tem gente que não gosta de spoilers
de séries e filmes. Lineu Silva não gosta de spoilers do telejornal.
Afinal, qual a graça de ouvir uma notícia sabendo antes o que vai
acontecer pela internet?
PS2. Que bom que a trama do Agostinho
ex-presidiário não durou nem um bloco inteiro. Era preciso resolver isso
para dar continuidade aos eventos do final da temporada passada, mas se
alongar nessa história iria contra a nova proposta da série.
PS3. Ver o Rogério Cardoso nos
flashbacks tornou o episódio ainda mais nostálgico. O ator interpretava o
Seu Floriano, avô da família Silva, e morreu durante a terceira
temporada da série.
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