sábado, 23 de outubro de 2010

Carolina Dieckmann diz que seria uma ousadia do autor matar a mocinha em 'Passione'


Numa tarde de setembro, sozinha em sua casa, Carolina Dieckmann arregalou os olhos diante da cena escrita em um dos capítulos de "Passione". Sem preparar a atriz para ler tão duras palavras, o autor Silvio de Abreu havia escrito: "Diana não tem tempo de pronunciar o nome do agressor. Um tiro certeiro sai de um revólver com silenciador e estoura o seu peito". Não restava dúvida: era o ponto final da heroína na trama das 21h.

- Parecia que alguém tinha me dado um soco. Li e reli. Fiquei um tempo sem ar, olhando aquilo... Depois, percebi o quanto era incrível e corajoso da parte do autor. Eu ia ser a primeira mocinha a morrer numa novela. Fiquei animada - diz.

Mas tudo não passava de uma pegadinha de Abreu, que afirma que desde o início já havia escolhido Saulo (Werner Schunemann) para morrer. Faltou dividir seus planos com a atriz... Até o assassinato do executivo malvado ir para o ar no último dia 11, Carolina - que assim como Reynaldo Gianecchini, Mayana Moura e Marcello Antony também gravou a morte de sua personagem numa manobra do autor para confundir elenco e público - não descartava a possibilidade de ser o alvo escolhido.

- Um dia depois de ler a cena, cheguei ao Projac e algumas pessoas já me diziam que eu não iria morrer na novela, que o Silvio não escreveria isso num bloco de capítulos onde todo mundo teria acesso - conta ela, que nesse curto espaço de tempo não chegou a questionar se sua personagem estaria sendo limada da novela por estar desagradando: - Seria muito grave se uma mocinha de uma trama das oito não funcionasse a ponto de ter que ser morta. Pelo contrário, as pessoas me veem na rua e falam: "Mauro (Rodrigo Lombardi) tem que ficar com Diana" ou "Mata a Playmobil", como elas chamam a Melina (Mayana Moura).

Carolina afirma que não ligou para o autor pedindo para permanecer na história. Já Abreu diz que a procurou depois de ter enviado o capítulo falso:

- Procurei para dizer que, sim, ela iria morrer, como fiz com todos os outros envolvidos, cada um de um jeito. Para o Gianecchini escrevi uma carta de despedida. Foi tanto trabalho para esconder esse segredo que já estava quase matando quem inventou essa história - diverte-se o autor.

Mas o que anda acontecendo no mundo da ficção a ponto de a mocinha - mesmo que seja como uma estratégia para badalar a atração - ter sua vida ameaçada? Apesar de ter colocado Diana na "mira", Abreu ainda acredita que esse papel é imprescindível num folhetim:

- Só que, talvez, não haja mais espaço para aquela que só chora e fica esperando o príncipe encantado. Diana tem atitude e não sente vergonha de dizer que errou - explica ele, satisfeito com o desempenho de Carolina: - Não poderia ter escolhido melhor. Além de linda, soube captar e imprimir a verdade que a personagem pedia.

O fato é que, no thriller das oito, o papel do telespectador não se resume apenas a acompanhar o desenrolar de uma história de amor vivida pelo casal bonzinho. Na trama, não faltam ingredientes capazes de atrair o público: é a avó cafetina; o italiano apaixonado pela vigarista; uma mãe que reencontra seu primogênito; outra que rouba o namorado da filha; um esportista dependente de drogas; um piloto com problemas sexuais...

- No passado, a maior emoção era esperar o final feliz. Hoje, é mais difícil chamar atenção mostrando o quanto é bom lutar por um amor. Sem falar que, nessa novela, os vilões estão bem fundamentados. Têm um porquê de agirem assim. O Fred (Gianecchini) quer acabar com a metalúrgica porque viu o pai se matar. É compreensível, por mais que a gente não concorde. Já Diana trocar um homem pelo outro ninguém entende. Por que ela se achou no direito de querer os dois a seus pés? O público ficou revoltado - acredita Carolina.

A atriz sai em defesa de sua personagem:

- É toda essa dificuldade que existe em fazer uma mocinha que me faz cada vez mais achar legal encarar esse papel. Diana não é uma chata. É uma pessoa comum, o que torna o trabalho desafiador. Tive que abrir mão do meu brilho próprio, da minha espontaneidade - justifica ela, dando um exemplo de que o esforço tem valido a pena: - Não sinto rejeição. Passei por uma obra e fui chamada de Diana. Se me chamassem de gostosa não me deixariam tão ouriçada quanto isso. Sei que aquele cara imagina o meu nome, mas o ímpeto de olhar para mim e me chamar de Diana é um presentão.

A atriz também não se queixa do espaço que sua personagem ocupa no enredo:

- Não vejo Diana sendo tratada como uma coadjuvante. E não tenho vaidade em relação a quantas cenas tenho por capítulo. O meu interesse é contar a história dessa menina. Não é fazer sucesso ou lançar um bordão.

Carolina fala com a segurança de quem exibe o rosto na tela há 17 anos e protagonizou cenas inesquecíveis como a de Camila, em "Laços de família", quando comoveu o país ao ter os cabelos raspados em frente às câmeras:

- Não vejo ninguém que tenha uma importância desse tamanho nesta novela. Hoje, se me perguntarem quem em "Passione" tem o mesmo peso que Camila tinha em "Laços", eu não saberia responder.

O certo é que, já que escapou da morte, Diana vai ter que fazer jus ao posto de mocinha. Em outras palavras: sofrer um bocadinho. Nos próximos capítulos, o sonho de se casar com Mauro estará ameaçado. Abreu é quem conta:

- Noronha (Rodrigo dos Santos) vai morrer e, como única testemunha da briga entre ele e Mauro, Melina vai chantagear a jornalista. Se ela se casar, a estilista irá à delegacia contar que foi Mauro quem o matou. Diana terá que escolher entre o casamento e a liberdade de Mauro. Agora, se ela será feliz para sempre, só o tempo dirá...

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