sábado, 18 de fevereiro de 2012

Relembre alguns carnavais que marcaram a teledramaturgia

por Nilson Xavier

O Brasil é o país do futebol, do carnaval e das novelas. E quando novela e carnaval se juntam, dá samba!

A novela Bandeira Dois (1971-1972), de Dias Gomes, tinha como cenário principal o subúrbio carioca de Ramos, onde morava o protagonista, o bicheiro Tucão (Paulo Gracind0), figura querida de toda a comunidade, presidente de honra da escola de samba da novela e apaixonado pela porta-bandeira Noeli (Marília Pêra). Ficção e realidade se misturaram na trama: a escola de samba da ficção era a real Imperatriz Leopoldinense. E o samba-enredo da escola para o carnaval de 1972 – “Martim Cererê” -  apareceu na novela: foi composto por Zé Catimba (Grande Othelo na novela) e Gibi (sambista da Imperatriz).


A trama de Duas Vidas (1976-1977), novela de Janete Clair, começava às vésperas do carnaval de 1974, quando se iniciaram as obras do metrô carioca, um dos focos da história. Foi num baile de carnaval que o casal Leda Maria (Betty Faria) e Tomaz (Cecil Thiré) tiveram uma discussão, que culminou com a morte dele, atropelado ao deixar o baile.

A novela Pai Herói (1979), também de Janete Clair, terminou durante o carnaval, quando dois de seus protagonistas tiveram destinos diferentes. Ana Preta (Glória Menezes), desfilando pela Beija-Flor de Nilópolis, conheceu um novo amor (Reginaldo Faria, numa participação). Enquanto isso, durante um baile de carnaval, o malfeitor Baldaracci (Paulo Autran), descobriu que a polícia estava em seu encalço e fugiu num helicóptero. Nem deu tempo de tirar a fantasia de pierrô.


 
Partido Alto (1984), novela escrita por Glória Perez e Aguinaldo Silva, propunha uma fusão entre o samba e o breakdance – dança de rua em voga na época -, como mostrava a abertura, com dançarinos de break ao som da música “Enredo do Meu Samba”, interpretada por Sandra Sá. Uma das tramas da novela abordava os bastidores de uma escola de samba. A manicure Jussara era a porta-bandeira da Acadêmicos do Encantado. Ela era amante do chefão da comunidade, o bicheiro Célio Cruz (Raul Cortez), mas se apaixonava por Piscina (José Mayer), um compositor de sambas-enredo que sonhava em ver uma música sua no carnaval. No último capítulo, a Unidos do Encantado desfilava na avenida tendo Jussara como grande destaque, ao som do samba-enredo “E Agora José?”, de autoria de Piscina, composta em homenagem ao poeta Carlos Drummond de Andrade. Mas ele era assassinado por capangas de Célio Cruz em pleno desfile, e Jussara assistia a tudo do alto de um carro alegórico sem nada poder fazer. Para a gravação deste desfile, a produção da novela interrompeu o trânsito da Avenida Rio Branco e organizou um desfile de carnaval, com a participação de mil passistas de seis escolas de samba. Cerca de vinte mil pessoas assistiram à gravação que durou doze horas.

No ano de 1989, a escola de samba Beija-Flor participou do carnaval carioca com o samba-enredo “Ratos e Urubus Larguem Minha Fantasia”, de autoria de Joãosinho Trinta. O desfile da Beija-Flor impressionou a todos, mas, apesar de ser uma das favoritas, a escola não se sagrou vencedora naquele ano. Na trama de sua novela Que Rei Sou Eu?, o autor Cassiano Gabus Mendes – numa clara homenagem ao carnavalesco Joãosinho Trinta – criou um baile de carnaval no castelo de Avilan onde os nobres dançaram o refrão do samba da Beija-Flor em ritmo de minueto, fantasiados de mendigos.

A novela da Manchete Kananga do Japão (1989), de Wilson Aguiar Filho, também apresentou cenas de carnaval, já que o Grêmio Recreativo Kananga do Japão tinha um bloco de rua, como mostrou a sequência final da novela, em que o elenco dançou o carnaval na Praça XI. A abertura da novela, coreografada por Carlinhos de Jesus, apresentava um casal dançando em meio a imagens de fatos que caracterizavam a época da trama (década de 1930), entremeadas pelo carnaval de rua.

Na trama da novela Felicidade (1991-1992), o autor Manoel Carlos usou entrechos do conto “A Morte da Porta-Estandarte”, de Aníbal Machado. A personagem Tuquinha (Maria Ceiça), uma porta-bandeira, era assassinada pelo ex-namorado (Maurício Gonçalves) durante um desfile de carnaval. Em 2001, a mesma história foi apresentada no episódio “História de Carnaval” da série Brava Gente, com Juliana Paes e Norton Nascimento.

O sucesso de Babalu – que Letícia Spiller viveu em Quatro por Quatro (1994-1995), novela de Carlos Lombardi – foi tanto que a personagem desfilou pela União da Ilha, enquanto seu namorado na trama, o mecânico Raí (Marcello Novaes), integrou a bateria da escola de samba. As cenas reais do carnaval carioca de 1995 foram usadas na novela.


A trama de Quem é Você (1996) – novela de autoria de Ivani Ribeiro, escrita por Solange Castro Neves e Lauro César Muniz – remetia a um baile de máscaras durante um carnaval de Veneza nos anos 70. Na festa, Afonso (Alexandre Borges) foi seduzido por uma mulher mascarada, sem saber que ela era sua cunhada, Beatriz (Cássia Kiss), irmã de sua mulher, Maria Luísa (Elizabeh Savalla). A bela abertura da novela apresentava máscaras de Veneza ao som da canção “Noite dos Mascarados”, de Chico Buarque, interpretada por Emílio Santiago.

Algumas minisséries também apresentaram o carnaval em seus entrechos. Dona Flor e Seus Dois Maridos (1998), inspirada no romance de Jorge Amado – atualmente reprisada pelo canal Viva – começava com a morte súbita do malandro Vadinho (Edson Celulari), enquanto ele desfilava no carnaval de Salvador no bloco Filhos de Gandhi.

Glamurosos bailes de carnaval do início do século passado foram reproduzidos na TV, nas minisséries Chiquinha Gonzaga (1999), de Lauro César Muniz, e Um Só Coração (2004), de Maria Adelaide Amaral, e na novela Chocolate com Pimenta (2003-2004), de Walcyr Carrasco. Chiquinha Gonzaga narrava a trajetória da famosa sambista e maestrina, consagrada por sua música, algumas delas, inesquecíveis marchinhas de carnaval.

Em O Clone (2001-2002), a autora Glória Perez aproveitou o carnaval carioca para explorar o estranhamento do núcleo árabe da novela frente aos costumes e hábitos brasileiros. Numa sequência divertida, a família de Mohamed (Antônio Calloni) assiste – horrorizada – a um desfile de escola de samba – que tinha a presença de alguns personagens, como o passista Miro (Raul Gazola) e a rainha da bateria Deusa (Adriana Lessa).



O canal internacional HBO estreou em 2006 a série Filhos do Carnaval, dirigida por Cao Hamburger. Para atrair espectadores de outros países quando exibida lá fora, a série trabalhou o tema de maior interesse dos estrangeiros pelo Brasil, o carnaval. A escola de samba usada como cenário foi a Mocidade Independente de Padre Miguel. As alegorias e o desfile mostrado foram do enredo “Buon mangiare, Mocidade! A arte está na mesa“, apresentado no carnaval de 2005, quando a série foi filmada. Na trama, o ator Jece Valadão viveu um poderoso bicheiro e dono de escola de samba que tinha a vida abalada pela morte do filho preferido e futuro herdeiro, enquanto assistia os três filhos que restaram – todos bastardos – tentando ocupar a posição do falecido filho.


Aguinaldo Silva usou o carnaval em duas de suas últimas novelas. Em Senhora do Destino (2004-2005) a trajetória da protagonista Maria do Carmo (Susana Vieira) virou enredo da fictícia escola de samba Unidos de Vila São Miguel, onde o bicheiro Giovanni Improta (José Wilker) – apaixonado por Maria do Carmo – era o maior patrocinador. O samba-enredo era de autoria do carnavalesco Ubiracy (Luiz Henrique Nogueira). As cenas para a novela foram gravadas durante o desfile da Grande Rio no carnaval de 2005.


Em Duas Caras (2007-2008), a escola de samba que desfilou na Marquês de Sapucaí foi a Nascidos da Portelinha, da comunidade cujo líder era Juvenal Antena (Antônio Fagundes). A carnavalesca da ficção era Dália (Leona Cavalli) e a rainha da bateria, Gislaine (Juliana Alves). O desfile da novela foi gravado durante a apresentação da Portela no carnaval de 2008.

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