A TV Globo tem configurado desde o ano
passado a sua estruturação para séries e minisséries. Acabaram-se as
minisséries longas da década de 2000, aquelas em torno dos 50 capítulos,
apresentadas a partir de janeiro. As minisséries hoje são mais curtas,
uma ou duas semanas, as “microsséries”. Foi assim ano passado e este ano
e será assim no ano que vem. Em contrapartida, as novelas das onze –
mais curtas (“mininovelas”?) – 60, 70 capítulos, exibidas no meio do ano
– vieram para substituir as minisséries longas.
Na segunda semana deste ano, foi exibida a microssérie “Dercy de Verdade”
– uma excelente produção biográfica, mas que pecou pela sua duração. Os
cento e três anos de vida de Dercy Gonçalves foram comprimidos em
apenas quatro capítulos. Tudo pareceu corrido demais. A vida da artista,
tão rica e intensa, merecia, no mínimo, mais uma semana. Ficou aquela
sensação de “quero mais” e de que o apresentado foi pouco para conhecer a “Dercy de verdade”.
A microssérie “O Brado Retumbante”
foi exibida na sequência e mereceu uma atenção maior da Globo, pelo
menos na duração: duas semanas. Narrada em tom de fábula, a estética
cinematográfica conferiu um tom de documentário a uma história fictícia,
onde o país era de mentirinha – mas no qual todos reconheceram o
Brasil.
Entre as séries exibidas em 2012, apenas
duas estiveram na grade da Globo durante o ano todo, e continuarão em
2013. Depois de onze anos no ar, “A Grande Família” –
que enfrentou problemas de bastidores esse ano, como o desentendimento
entre os atores Pedro Cardoso e Guta Stresser, já superado – continua
dando mostras de fôlego para, pelo menos, mais um ano – apesar de, a
cada nova temporada, se cogitar o seu cancelamento. Apenas lamenta-se o
desperdício do talento de atores como Marieta Severo e Marco Nanini, há tanto tempo presos aos mesmos personagens.
“Tapas e Beijos” – na mesma linha humorística e popular de “A Grande Família”
– segue firme e forte. Inserindo novos personagens e tramas, a série se
reinventa – um ótimo recurso para a manutenção e reciclagem do próprio
programa, o que garante a sua sobrevida.
A série “As Brasileiras” não conseguiu dar continuidade ao bom desempenho e à qualidade de sua irmã “As Cariocas”
(exibida em 2010), da qual se originou. Talvez, os 21 episódios
(apresentados ao longo de todo o primeiro semestre de 2012) tenham cansado
o público e desgastado a grife, já que oscilavam entre textos e
histórias muito boas com outras nem tanto. Uma curiosidade: os episódios
de maior repercussão nas redes sociais foram os protagonizados por
Ivete Sangalo, Sandy e Xuxa.
Seguindo uma boa proposta de sitcom, com texto ágil e inspirado, uma direção que abusa de clipagens e câmera nervosa, a solar e colorida série “Louco Por Elas” trouxe um diferencial. A boa repercussão garantiu não só a segunda temporada dentro de 2012, como uma terceira, para 2013.
O já conhecido mundo da dupla Alexandre Machado e Fernanda Young voltou à tona em “Como Aproveitar o Fim do Mundo”. Mas, desta vez, sem muita “ins-piração”, a não ser o já visto em trabalhos anteriores, como “Os Normais”, “Os Aspones”, “O Sistema” e “Separação?!”.
Até algumas piadas eram as mesmas, já usadas anteriormente. Mudou-se
apenas a ambientação, uma fábula sobre o fim dos tempos (temática já
explorada na novela “O Fim do Mundo”, de Dias Gomes, em 1996).
“Suburbia”
trouxe novamente o universo do diretor Luiz Fernando Carvalho, sempre
apresentado como “biscoito fino”, mas nem sempre facilmente digerível
pelo telespectador médio. A série, que começou agitada na estreia, foi
perdendo o gás ao longo de seus oito episódios. Um subúrbio carioca que
misturou realismo e lirismo, com referências no filme “Cidade de Deus”, no cinema blaxploitation americano da década de 1970 e na minissérie “Hoje É Dia de Maria”. O elenco, formado na maioria por atores desconhecidos, revelou o carisma de Érika Janusa, a Suburbia do título.
O ano de 2012 foi difícil para a
dramaturgia da Record, que enfrentou sua pior crise desde 2004 (quando o
setor foi renovado). A emissora viu suas duas novelas (“Máscaras” e “Balacobaco”) naufragarem no Ibope. Em contrapartida, o sucesso de sua minissérie bíblica “Rei Davi”
mostrou que a emissora está no caminho certo ao explorar esse filão.
Com uma produção mais apurada que as minisséries anteriores (“A História de Ester” e “Sansão e Dalila”), o retorno foi proporcionalmente maior. “Rei Davi” chegou a liderar o horário no qual era exibida em mais de vinte ocasiões. Em janeiro de 2013 estreia uma nova produção: “José do Egito”.
Nesta última semana de 2012, a Globo apresenta ainda “Xingu”, a versão televisiva para o filme de Cao Hamburger, exibida como microssérie (4 capítulos).
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