No ar em três emissoras diferentes ao mesmo tempo, Jussara Freire solta mais uma das suas tiradas para comentar a coincidência:
- O meu marido falou que terá uma overdose de mim.
Bem-humorada, a atriz de 57 anos vem se destacando em "Chamas da vida", da Record, onde faz, pela primeira vez, uma perua (o visual louro foi inspirado em Hebe Camargo). E pode ser vista ainda em dois papéis rurais, em tempos distintos: nas reprises de "Pantanal", exibida agora pelo SBT, e de "Cabocla", na Globo.
- O meu marido não precisa pular a cerca. Ele, que está obcecado com "Pantanal", pode me ver novinha (a trama da extinta Manchete foi gravada há 18 anos), gordinha em "Cabocla" e loura - lista a atriz, que ainda não se acostumou com o tom de cabelo de Arlete, mulher rica que não esconde sua origem pobre e coleciona anões de porcelana com a cara da família. - Ainda estou me achando parecida com um traveco com esse cabelo, mas vai que algum jogador me vê e se apaixona - debocha.
Eleita recentemente pela Associação Paulista dos Críticos de Arte como melhor atriz por seu papel na novela "Vidas opostas" (ela dividiu o prêmio APCA 2007 com Camila Pitanga), Jussara diz que agora tenta fugir do estereótipo da perua.
- Ela usa roupa de onça, muita legging, mas quero fazer uma perua pé no chão, se é que é possível. A Hebe é a inspiração. Não sou amiga dela, mas a conheço e sei que é de Taubaté. Apesar de ser uma mulher cheia de dinheiro, não perdeu sua raiz - diz a atriz, que recebeu a Revista da TV em sua casa, na Barra.
Paulistana, ela mora em sua cidade natal, tem uma "base" no Rio, e pretende construir uma casa ecologicamente correta no interior de São Paulo.
- Descobri que menos é mais e quero cortar os supérfluos - enfatiza. - Não sou uma atriz de marca: minha bunda não é outdoor para sair por aí fazendo propaganda. Sabe, isso enche o saco na minha classe. Todo mundo quer ostentar e ninguém mais tem coragem de dizer que passou o fim de semana em casa namorando e vendo DVD.
Jussara, que estreou na TV em 1974 na extinta Tupi, já passou por altos e baixos. Teve síndrome do pânico em 1985, quando ninguém, nem ela, sabia direito do que se tratava a doença; e engordou 22 quilos durante a menopausa (em "Cabocla" ela está bem acima do peso). Na TV, passou por várias emissoras. Depois da Manchete, foi para o SBT, onde fez "Éramos seis", "Sangue do meu sangue" e "Os ossos do barão".
- O Señor Abravanel (Silvio Santos) criou uma fábrica de dramaturgia e chamou o Nilton Travesso para dirigir. Valia a pena trabalhar lá - recorda, antes de alfinetar: - Como sempre, o Señor Abravanel se encheu e não quis mais brincar de fazer novela. Vieram as produções mexicanas, um horror. Nada contra quem gosta, mas isso deveria ser proibido de passar no horário nobre.
Depois de quatro anos no SBT, Jussara ainda fez duas novelas da Record, no fim da década de 1990, antes de estrear na Globo.
- Todo mundo acha que sou cria da Globo. Mas fui a última de "Pantanal" a ir para lá. Estreei em 2001, na minissérie "Os Maias". Fiz duas cenas, mas o Luiz Fernando Carvalho queria atores de primeira linha até para dizer "bom dia" - lembra a atriz, que ficou na emissora até "Belíssima", de 2005.
Com mais de 30 anos só de TV, Jussara diz que não engole mais sapo para não cair em depressão. A atriz volta sua munição contra a emissora de Silvio Santos, que passou a exibir "Pantanal" sem avisar os atores - ela recusou R$ 9 mil do canal pelos direitos conexos da obra.
- Não é pelo dinheiro. Já recebi R$147,80 por uma novela que fiz e foi vendida para três países - faz as contas. - Mas eu surtei quando soube da reprise do SBT, me senti violentada nos meus direitos de profissional. Posso estar errada, mas alguma coisa me diz que essa jogada do SBT não é lícita.
Sincera, Jussara também não teme criticar o despreparo de certos atores.
- Você vê gente muito ruim trabalhando em todos os canais. Na minha profissão não era para ter pára-quedista. Há pouco, depois de verem uma atriz péssima em sua primeira peça, disseram que ela iria melhorar. Se fosse assim, o engenheiro derrubaria a ponte e pediria desculpas, dizendo que da próxima vez não iria cair. (Fonte: Zean Bravo, O GLOBO)
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