domingo, 23 de novembro de 2008
Filhos do Carnaval com samba e jogo do bicho
Quando Jece Valadão morreu em novembro de 2006, deixou no ar a dúvida se seria possível produzir uma segunda temporada de "Filhos do Carnaval", série original da HBO produzida no Brasil. Seu personagem, Anésio Gebara, era o patriarca de uma família muito doentia, banqueiro do jogo do bicho e dono da escola de samba onde a história se passa. E era também o ponto central de uma trama, que tinha três filhos de mães diferentes brigando pela posição de preferido do pai, depois que o irmão Anesinho (Felipe Camargo) se suicida logo no primeiro episódio da série.
Como dar continuidade e reescrever o conflito do roteiro? A solução foi interiorizar essa briga e fazer os irmãos competirem pela posição de poder que antes era do pai. Mas também foi preciso trazer um novo personagem para substituir Gebara como porta-voz da velha guarda do samba. Foi assim que a roteirista da série Elena Soarez e o diretor Cao Hamburger resolveram convidar o ator Walmor Chagas para viver Comodoro.
"O personagem do Walmor foi criado com o pano de fundo do conflito entre a velha e a jovem guarda, entre o jogo do bicho e os jogos eletrônicos, entre a máfia italiana e a oriental", contou Elena.
As filmagens da segunda temporada, que estréia por aqui em 2009, só começaram este ano, dois anos depois de a primeira ter sido exibida na televisão em toda a América Latina. E, ao contrário do que possa parecer, trazer o luto de Gebarão e fazer os atores entrarem de novo em seus personagens não foi tão complicado.
"Fizemos uma leitura e parecia que eles não tinham parado. O Jece está com a gente nessa temporada. Uma foto dele foi pintada na entrada da quadra da escola ao lado da do filho que já morreu. Essa temporada é dedicada a ele", disse Cao.
Um pouco mais complicado é fazer com que os três irmãos calcem devidamente os sapatos do pai. O único filho legítimo, Claudinho, assume os negócios ilícitos da família. Mas ele é muito atrapalhado e vai enveredar por um caminho de contravenção que não vai agradar em nada a sua esposa burguesa.
Brown, um dos filhos bastardos, assume a escola de samba e tenta tocar a festa e a farra que é o que ele gosta. Mas também vai tentar tomar o lugar de Claudinho e assumir a "chefia" da família.
"Não existe nenhuma união entre os irmãos. Só trairagem. O conflito fica mais evidente", disse Rodrigo dos Santos, que faz o Brown.
Nilo, o outro filho bastardo que trabalhava como segurança de bicheiro, vai continuar narrando a série, mas vai começar a falar mais também. O silêncio, sua marca registrada, já teve seus dias.
"O Nilo vai ter uma grande virada. Ele começa a falar e a decidir. O silêncio dele muda muita coisa", contou Thogun, intérprete do Nilo e exatamente o oposto de seu personagem. Alto e com o vozeirão de cantor que é, Thogun é o mais despachado do elenco.
Além da trama dos irmãos, a série vai mostrar a força de seus personagens femininos. As mulheres vão ganhar poder, controlar suas famílias em momentos de crise e também se entregar às drogas, ao amor e ao adultério, como uma luta por si mesmas.
"Quando vi a Rosana, fiquei assustada com o quanto ela mudou da água para a vala. Ela passou por muita dificuldade, nunca quis ter filho ainda nova e teve que mudar por causa disso. E o Nilo, para ela, é o cara que vai cuidar da filha dela. Então, ela relaxa e faz o que quer. O bizarro para os outros é o belo para ela. Que se exploda o mundo, ela está focada nela", disse Roberta Rodrigues, intérprete de Rosana, namorada de Nilo.
Walmor Chagas não será o único rosto novo da produção. Carlos Alberto Riccelli vai fazer uma participação como um juiz que se envolve com uma das mulheres casadas. E Carlo Mossy, famoso ator de pornochanchadas, também vai viver um agente da lei.
Durante as filmagens da série na quadra da Mocidade Independente de Padre Miguel, fica claro o porquê de tanto burburinho sobre a qualidade de cinema e a indicação ao Emmy Internacional de minissérie e filmes para a TV que "Filhos do Carnaval" conquistou em 2006. Nada ali lembra um set de televisão. Os equipamentos são de cinema, os produtores e diretores envolvidos são famosos por seus trabalhos na área, as cenas levam de três a quatro horas para serem gravadas (na TV, a média é de trinta minutos), tudo já foi meticulosamente ensaiado e trabalhado com os preparadores de elenco, não existem cenários - tudo é gravado em locações-, a fotografia é de cinema e a continuidade é tão meticulosa que chega a cansar os atores.
"Passar um dia filmando dentro de um carro, tendo que ajeitar cabelo e cordão toda hora é complicado", contou Enrique Diaz, intérprete do Claudinho.
Em uma série cujo foco é um drama familiar, é bacana ver que o elenco e a equipe criaram entre si uma família também. Mais do que uma relação de cordialidade, eles parecem ser amigos no set, com implicâncias típicas de irmãos.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário