terça-feira, 5 de maio de 2009

Paraíso começa a erguer a audiência do horário das seis


Pastos que se perdem na linha do horizonte, boiadas, rodas de viola, sotaques carregados e muitas canções sertanejas embalam a clássica receita das novelas rurais. Foi essa a aposta da Globo ao ressuscitar Paraíso, trama de Benedito Ruy Barbosa, exibida pela primeira vez em 1983.

Adaptada por Edmara e Edilene Barbosa, a produção tem a difícil missão de reerguer a audiência do horário das seis, nocauteada pelos fracassados golpes de kung fu de Negócio da China. E começa a dar conta do recado. Enquanto a história de Miguel Falabella respondia com míseros 18 pontos de média, a novela rural tem obtido 23 pontos de média, com pico de 27 pontos. Mérito de tentar despertar a atenção do público-alvo do interior, que costuma se identificar com as tramas campestres de Benedito.

Nesse clima de bota de caubói, cavalo selado e cheiro de mato molhado, a história se torna uma espécie de oásis de tranqüilidade em meio a grade de programação da emissora, de temática urbana e com uma edição de imagens cada vez mais eletrizante. Na história conduzida pela direção de Rogério Gomes, as cenas são mais longas, a fotografia é meticulosamente trabalhada, o movimento das gruas é mais lento e a história caminha num tempo antigo.

Essa morosidade, tão necessária ao clima de uma história rural, não interfere na agilidade dos acontecimentos com os personagens. Um dos que mais movimenta os núcleos é o simpático e até irônico Padre Bento, de Carlos Vereza. O ator conseguiu puxar quase para a comédia a interpretação de um papel religioso, mas sem cair na caricatura.

Igualmente interessante é o entrosamento cênico dos protagonistas Nathália Dill e Eriberto Leão, que vivem Santinha e Zeca. Ambos têm acertado ao protagonizar a trama, mesmo diante da pouco crível abordagem de uma menina que faz milagres diante do ceticismo que assola as demais tramas e de um tema meio "demodé" nos dias atuais.

Aliás, o argumento inicialmente abordado pela primeira versão da novela, em 1983, foi sugestão do autor durante uma conversa com Boni ¿ vice-presidente de operações da Globo na época. Na reunião, Boni disse que o SBT começou a alavancar a audiência com o programa O Povo na TV. Na produção, um padre benzia as pessoas e pedia que o público colocasse um copo d'água em cima das televisões para virar água benta. Pensativo, Benedito disse que a solução seria casar um diabinho com uma santa e Boni topou na hora.

Falar em religiosidade é, de fato, virar as câmaras para o interior do país para tentar lidar com a fé mais inocente das pessoas. Esta fé tão latente na história também está presente nas sôfregas canções de toda a trilha sonora, embalada principalmente pelas vozes de Zezé Di Camargo e Luciano, com Faça Alguma Coisa, Chuá Chuá, de Chitãozinho e Xororó, ou Longe, de Leandro. Para completar o sexteto sertanejo, a voz de Daniel, cantor que interpreta Zé Camilo e solta a voz nas rodas de viola.

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