domingo, 6 de junho de 2010
Minissérie 'Anos rebeldes' ganha livro que relata seus bastidores
Dezoito anos depois de "Anos rebeldes" ir ao ar na TV Globo, uma cena, em especial, ainda mexe com a emoção de seu autor, Gilberto Braga: o exato momento em que os protagonistas da história, a individualista Maria Lúcia (Malu Mader) e o engajado João Alfredo (Cássio Gabus Mendes), constatam que, mesmo tão apaixonados um pelo outro, são pessoas incompatíveis. No diálogo, ele diz: "Eu tive pensando... esses anos todos... Numa coisa eu acho que você tinha razão. Sobre o festival...'Sabiá' era mais bonita sim, mereceu ganhar". Em vão. Ela retribui com um abraço e vai embora.
- É a minha preferida, o rompimento do casal. Eles se amam e não dá certo. Me dá vontade de chorar - admite ele, que lança, na terça-feira, pela Rocco, o livro "Anos rebeldes, os bastidores da criação de uma minissérie" (R$ 59).
Além de proporcionar um déjà vu valioso para quem ficou de olhos grudados na telinha durante os 20 capítulos da série, a publicação mostra também os detalhes que cercam uma cena antes de ela ir ao ar.
- A ideia veio do fato de muitos jovens terem interesse em ver um trabalho escrito para a tevê exatamente como os diretores, atores e equipe recebem. Além disso, meus comentários paralelos devem provocar algum interesse - diz Braga.
No livro, está o esqueleto da história da minissérie, passada no Rio da década de 1960 e protagonizada por um grupo de colegas do tradicional Colégio Pedro II. A trama acompanha o desenrolar da paixão de Maria Lúcia e João Alfredo, que têm ideologias diferentes no Brasil da ditadura militar e acabam se distanciando quando ele resolve entrar para a luta armada.
Mas a obra vai além de um simples roteiro. Pelas suas 640 páginas, relembram-se diálogos, cenários e trilha sonora. Outro barato da leitura está justamente nas explicações do autor, que traça os paralelos entre a vida pessoal e a ficção presente nos personagens da série. E também na provinha que Braga oferece de uma autobiografia.
- Acho que sou autocentrado, gosto de falar de mim - conta. - Todos os personagens têm um pouco de mim, ou eu não consigo escrever. Acho que até o grande vilão, o banqueiro, tem pontos em comum comigo, na sua vida particular, nos mecanismos de controle - continua o autor: - Na minissérie, aqueles em que eu apareço mais devem ser o Galeno (Pedro Cardoso), por causa da crônica de costumes, a Maria Lúcia, porque sou individualista como ela (simplificando, claro) e a Natália (Betty Lago), por causa do meu apego a dinheiro, conforto. João Alfredo é a pessoa que eu admiro, gostaria de ser como ele, não sou.
Consagrado na TV com folhetins como "Dancin' days", "Vale tudo" e "Celebridade", Braga conta como ele, que passou a juventude no escurinho do cinema, se aventurou a escrever uma história que retrata os anos tensos de ditadura militar no Brasil.
- Nessa fase, eu era muito alienado. Escrever essa história foi uma espécie de ajuste de contas comigo mesmo. Estudei a época, Sérgio Marques (que também assinou a trama) ajudou, e a minissérie ficou boa - avalia.
Ao longo do relato, nota-se que suas vivências de garoto no Rio também contribuíram para a trama não ficar de difícil digestão.
- A cena das peruas que se encontram na praia para falarem abobrinhas deve ter contribuído muito para isso. É uma espécie de coro grego comentando a ação. E, de certa forma, são os anos rebeldes que eu vivi, porque vivi aqueles anos cercado de pessoas assim, totalmente alienadas - diz.
Desde cenas de amor mal-resolvido entre João e Lúcia a momentos dramáticos vividos por Heloísa (Cláudia Abreu), que culminam com sua morte, um detalhe não passou despercebido pelo autor enquanto escrevia a minissérie: a trilha sonora. Isso fica claro em seus comentários. No capítulo 10, por exemplo, Braga indica "Roda viva", pedindo atenção pois "a letra da canção é importante na cena". E, cuidadoso, ao fim do bloco, escreve para toda a equipe a letra de Chico Buarque:
- "Anos rebeldes" é quase um musical. Há cenas escritas em função das canções. Fui diretor musical do programa, fiz a sonorização. Queria ir de "Las secretarias", por Harold Nicholas, até o "Sabiá", "Senza fine", "Can't take my eyes off you", aquilo tudo.
E foi justamente "Sabiá", de Chico Buarque e Tom Jobim, vencedora do terceiro Festival Internacional da Canção, em 1968, a fonte de inspiração para concluir a série.
- "Anos rebeldes", sem dúvida, foi escrita em função da última cena. "Sabiá" era mais bonita, sim - afirma Braga.
EM TEMPO >>> A minissérie já teve um livro lançado, sendo que ao invés dos bastidores, era a história completa. Nos melhores sebos, com certeza você irá encontrar.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário