quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Giulia Gam diz que papel em ‘Ti-ti-ti’ é um dos mais complicados da carreira


Giulia Gam esperava viver uma personagem leve quando recebeu o convite para atuar em Ti-Ti-Ti. E não esconde a surpresa que teve ao saber que, em uma trama repleta de comédia, ela seria uma paciente de câncer em estado delicado. Mesmo depois de interpretar sucessivos papéis dramáticos na TV, a agitada atriz de 43 anos decidiu mergulhar fundo na composição da frágil Bruna, mãe do falecido Osmar, de Gustavo Leão, e amiga da doce Marcela, personagem de Ísis Valderde que finge estar grávida do neto dela. “Quando recebi o convite não sabia qual seria a personagem. Como era uma novela das sete, pensei: ‘vou relaxar agora porque já está bom de drama’. Fiquei tensa quando li sobre a Bruna”, confessou a atriz, que classifica sua personagem na trama de Maria Adelaide Amaral como uma das mais difíceis que já fez. “Acho que, em termos de composição, foi um dos meus trabalhos mais complicados. Diria até que tanto quanto a Dona Flor. A Bruna exige uma dosagem muito certa”, avaliou.

Ti-ti-ti é uma novela voltada para a comédia. Como você recebeu a notícia de que viveria um dos papéis mais dramáticos da história?
Confesso que me assustei. O Nelsinho (Fonseca, produtor de elenco), que é muito meu amigo, me ligou e perguntou se eu gostaria de fazer a novela. Ele disse que mandaria os textos para eu ler. Na hora falei: “Não precisa mandar nada. Com vocês, estou dentro”. Queria muito voltar a trabalhar com o Jorginho (diretor) e admiro muito o texto da Maria Adelaide Amaral. Quando veio o convite achei que fosse fazer uma perua ou uma mulher engraçada. Depois, quando li sobre a Bruna, me espantei. Vi que o contraste era muito grande em relação aos outros personagens. A primeira impressão é de que eu estaria doente, em uma cadeira de rodas, fazendo quimioterapia. Respirei fundo e pensei “Meu Deus, lá vou eu para o drama”.

Isso exigiu um trabalho de composição mais intenso do que o normal?
Sim. No início eu não conseguia visualizar a Bruna. Não sabia o quanto ela era tradicional e a importância que a gente daria ao câncer. Conversei com o Jorginho e ele disse que não poderia cair no melodrama porque é uma novela das sete. Teria de achar um tom que fosse um contraponto ao humor, gerando movimento na história, mas sem pesar muito. Fui construindo e agora vejo nitidamente que ela é uma personagem de composição. É um papel forte, interessante e mais teatral. Tenho muito texto para decorar, emoções e nuances para passar. É outro tipo de raciocínio.

E como você lidou com o câncer?
Estou feliz porque não é uma história sobre o câncer. O foco principal é a família. O fato de ela estar doente é para trazer fragilidade à personagem e justificar a relação da família com a Marcela, personagem da Ísis Valverde. Essa história de câncer já foi mostrada antes. Não é novidade. Nem quis pesquisar ou saber onde era o câncer dela justamente para não ter de fazer de forma realista. A doença entra no conjunto da história dessa mulher religiosa que não sabe que tinha um filho homossexual. Tive de juntar essas informações e fazer uma personagem que não fosse desinteressante.

Você se comporta de uma maneira bem agitada. Como faz para entrar no clima mais contido da personagem?
Fico agitada quando o esquema de gravação é mais intenso. Geralmente gosto de ficar na sala de leitura escutando música. Tem todo um ritual, eu fico mais quieta. O nosso núcleo, por enquanto, não está na algazarra de moda, modelo, figuração e externa. Ficamos muito concentrados. A hora em que coloco o aplique, enrolo o cabelo e visto as roupas da Bruna, a postura já vem. Mas teve todo um condicionamento para chegar nisso. Tenho ficado mais calma, falado mais calmamente. A Bruna é uma personagem meio que flutuante, então tenho de entrar em outra vibração.

Você costuma viver tipos pouco comuns em seus trabalhos na TV, como a traficante Diva de A Favorita, a cafetina Vegas Locomotiv de Bang Bang e a neurótica Heloísa de Mulheres Apaixonadas. É uma opção sua?
Comecei minha carreira no teatro, aos 15 anos. Como vinha dos palcos, achava que devia ser muito difícil fazer televisão. Ainda mais se fosse algo muito próximo de mim, usando um tênis, uma calça e o meu próprio cabelo. É como se eu não tivesse essas composições que a gente tem no teatro, com muitos ensaios. Comecei fazendo muitos trabalhos de época e, mais recentemente, fiz uma contemporânea bem intensa, que foi a Heloísa de Mulheres Apaixonadas. A personagem foi crescendo e me surpreendeu bastante. Fazia cinco anos que eu não trabalhava, então voltei com um vigor, energia e desejo que depositei tudo ali. Gosto de personagens assim, fortes e interessantes.

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