sexta-feira, 18 de março de 2011

Jorge Fernando se prepara para viver um ex-gay no seriado 'Macho man'


Decorada com fotos, DVDs, CDs, imagens de São Jorge de vários tamanhos e bugigangas, como uma réplica dourada do Oscar e um tigre de pelúcia, a estante da sala de Jorge Fernando no Projac dá mostras da expansiva personalidade do diretor-geral de "Ti-ti-ti". Ele fala com a rapidez de quem ainda terá que comandar a gravação de 30 cenas da novela das 19h naquele mesmo dia. Aos 55 anos e visivelmente mais magro - perdeu seis quilos recentemente -, Jorge vai pintar o cabelo de louro assim que botar um ponto final no remake assinado por Maria Adelaide Amaral, na próxima sexta-feira. A mudança é uma exigência profissional.

O diretor voltará ainda este mês aos estúdios da Globo, desta vez como ator. Protagonista do seriado "Macho man" - com estreia prevista para 8 de abril, na faixa das 23h30m -, ele se prepara para interpretar Nelson, um cabeleireiro "gayzérrimo", segundo suas palavras. Depois de ser atingido por um globo de espelhos numa boate, o personagem acredita ser heterossexual.

- Ele não vira macho de engrossar a voz. Continua gayzérrimo, mas com o seu apetite sexual alterado. Não pode ver uma mulher que vai atrás e quer. Mas, para seu desespero, precisa aprender a lidar com isso - diverte-se Jorge.

Mais acostumado ao papel principal como ator de teatro - vira e mexe ele sobe aos palcos com o monólogo "Boom"-, Jorge sairá de trás das câmeras para contracenar com Marisa Orth na televisão. A parceira de cena será Valéria, uma assistente de cabeleireiro que foi gorda, mas ainda se comporta como se estivesse obesa.

Responsável pelo sucesso de "Os normais" e "Separação!?", o casal Fernanda Young e Alexandre Machado assina o roteiro da série.

- Jorginho tem um timing de comédia perfeito e transborda de tanto carisma. O Alvarenga (o diretor José Alvarenga Jr.) teve a ideia de chamá-lo para o papel e nós adoramos - conta Fernanda.

Os trejeitos de Nelson darão o tom cômico do salão em que ele trabalha, um dos principais cenários do programa.

- Alexandre e Fernanda têm uma mordacidade no texto e você precisa estar muito afiado o tempo todo. Acho que não tinha mais ninguém para fazer esse papel - afirma Jorge, tirando onda.

A autora adianta que "Macho man" apostará no tipo de comédia "que faz as pessoas rirem delas mesmas".

- Estamos colocando potência máxima no texto - avisa Fernanda, sem saber ao certo se tipos como Nelson existem mesmo na vida real. - Nunca vi um ex-gay. Mas também nunca vi um elétron e sei que ele existe. O problema é que, se tem tanto hétero deixando de ser hétero, e nenhum gay deixando de ser gay, os héteros caminham inexoravelmente para a extinção - teoriza.

Acostumado a dar as caras no vídeo em participações especiais nos trabalhos em que dirige, Jorge não esconde a satisfação com a oportunidade de mostrar seu trabalho como ator.

- Só virei protagonista no teatro porque me produzo. O convite para o seriado foi um insight da direção. Já li os seis primeiros episódios e o programa é hilário. Vou ter que ficar ajoelhado para o Alvarenga a vida inteira - brinca.

Diretor de mais de 30 novelas, como as clássicas "Guerra dos sexos" (1983), "Vereda tropical" (1984) e "Que rei sou eu?" (1989), Jorge garante que sua postura no set do seriado será a de um ator como outro qualquer. Aquele cara que chegava a gritar no estúdio para mascarar sua insegurança, diz, deu lugar a outro profissional. Um homem mais ponderado.

- Percebi que precisava trabalhar essa parte que a gente geralmente não gosta de assumir: a insegurança, a vaidade e o nariz em pé - confessa.

Essa mudança de consciência começou enquanto Jorge dirigia "Sete pecados" (2007).

- Foi uma novela que não deu muito certo e fiquei meio confuso naquele momento. Fui me deixando levar... Ali, talvez, eu não tenha dado a atenção devida ao trabalho. Quando bate a insegurança, você fica nervosinho e dá ataque de pelanca. Dei muito piti. Ridículo! - faz o mea-culpa.

O equilíbrio do diretor começou a ser resgatado durante as gravações de "Caras & bocas", outra trama de Walcyr Carrasco.

- A gente tem que aprender a ouvir. O problema é que ninguém quer ouvir, só falar. Hoje escuto mais do que antigamente. O meu barato é ganhar pontos comigo mesmo. Não adianta botar a sujeira para baixo do tapete - ensina Jorge, dizendo saber muito bem como impor a sua vontade: - Tem horas em que essa parte fascista do diretor vai prevalecer.

Protagonista de "Ti-ti-ti", Alexandre Borges destaca as várias facetas de Jorge Fernando. O ator foi dirigido por ele logo em sua estreia na Globo, na trama de "A próxima vítima" (1995).

- Ele mistura concentração com desenvoltura e alegria. Trabalhei com ele em algumas novelas e só venho comprovando essa minha impressão - afirma o intérprete de Jacques Leclair.

Descrita pelo diretor como uma novela "sem ocorrências", "Ti-ti-ti" termina em clima de sucesso. E calmaria para a sua produção:

- Desde o começo, eu fiz um acordo com o elenco, um código de honra que conseguimos manter. Todos chegavam no horário e com o texto decorado. Essa novela não teve B.O. (boletim de ocorrência).

Autora do remake das 19h, Maria Adelaide Amaral atesta que tudo correu da melhor forma possível.

- A relação entre autor e diretor é como um casamento. E o nosso promete ser longo e muito feliz - avisa ela.

Destaque no horário das 19h, Claudia Raia, a Jaqueline da história, reeditou a antiga parceria com o diretor - de novelas como "Cambalacho" (1986), "Deus nos acuda" (1992) e "As filhas da mãe" (2001) - em "Ti-ti-ti". Agora, ela está pronta para aplaudir o amigo em sua nova empreitada.

- Jorginho é o eterno Peter Pan. Ele é muito bom comediante e trabalhou pouco como ator em TV. Estou torcendo por ele com vela acesa - promete Claudia.

Com um cigarro apagado em uma das mãos, Jorge faz um balanço do trabalho que encerra agora. Ele começa citando o trio Alexandre Borges, Murilo Benício e Claudia Raia como os grandes destaques do folhetim. E elogia o desempenho de Ísis Valverde, que defende Marcela, a mocinha romântica da trama.

- Ísis se tornou uma grande estrela. Comecei a brincar que ela era a nova Regina Duarte, uma atriz com carisma e talento para ser namoradinha do Brasil - diz.

Par de Ísis, Caio Castro, revelado em "Malhação", também ganhou créditos com Jorge:

- Ele foi uma surpresa, deu um passo adiante. Melhorou a sua articulação e trabalhou a dificuldade de passar emoção. Caio abriu esse pote tão importante para qualquer artista durante a novela.

David Lucas e Clara Tiezzi, intérpretes dos gêmeos Lipe e Mabi, foram outros nomes que mereceram comentários do diretor.

- Já tinha trabalhado com o David e agora sou apaixonado pelos dois - conta Jorge, para em seguida falar de outros atores experientes que brilham em cena: - Ter uma Christiane Torloni em um elenco é garantia de elegância. A Nicette Bruno também! E a Malu Mader entrou com um tom diferente do que ela faz normalmente.

Cara conhecida da TV desde 1978, quando estreou como ator na clássica série "Ciranda cirandinha", Jorge Fernando é workaholic. Ele avisa que em 2012 voltará a dirigir um folhetim de Silvio de Abreu no horário das 19h.

- Mas não será o remake de "Guerra dos sexos", que foi adiado. A gente achou que já havia outras tramas parecidas em novos projetos da casa - explica.

Antes disso, deve estrear a peça "Escândalo":

- Dessa vez, não vou mostrar a bunda (gesto repetido por ele no espetáculo "Boom"). Será uma grande mudança: vou mostrar o pau - ri.

Mais magro desde que começou a correr - ele tem 1,71m e 78 quilos -, Jorge descreve seus novos hábitos.

- Nunca tinha corrido e descobri um prazer nisso. O Crispim, que é meu motorista, também virou meu personal. Ele é meu faz-tudo. Só não f...

O diretor também diz ir bem, obrigado, no quesito sentimental:

- Eu nunca termino com ninguém, acumulo relações. Ainda transo com gente de 30 anos atrás.

Nenhum comentário: