Cena do assassinato de Salomão Hayalla, inspirada em "Assassinato em Gosford Park"
Dinâmica, curta, com diálogos inteligentes, muitas referências cinematográficas, cenas de sexo, ótimas interpretações e uma atmosfera meio kitsch meio retrô. Esta é a novela do futuro. Ou do presente. “O Astro”, remake de Janete Clair no ar na faixa das 23h da Globo foi feita para dialogar com um público diferente do da novela das 21h. É o que diz o diretor de “O Astro”, Mauro Mendonça Filho. Leia abaixo a íntegra da entrevista:
UOL - Por que você acha que a Globo resolveu investir em novelas no horário das 23h? Teve influência da alta audiência que as reprises do canal “Viva” têm obtido ou é também para concorrer com outras produções de outras emissoras que vão ao ar no mesmo horário?
Mauro Mendonça Filho - Existe uma demanda por uma dramaturgia mais adulta, na qual os autores possam desenvolver temas mais delicados com certa tranquilidade. Uma novela das 21hs tem classificação de 12 anos. A das 23hs, 16 anos. Aliado a isso, percebeu-se que tem muita gente chegando tarde em casa, a fim de ver novelas e séries. A Globo vem sentindo que precisa dialogar com esse público. Outro dia, o Tiago Leifert, do esporte, falou que ‘não somos mais o País do Futebol, mas o País das Novelas’. Acho que ele está certo.”
Mauro Mendonça Filho - Existe uma demanda por uma dramaturgia mais adulta, na qual os autores possam desenvolver temas mais delicados com certa tranquilidade. Uma novela das 21hs tem classificação de 12 anos. A das 23hs, 16 anos. Aliado a isso, percebeu-se que tem muita gente chegando tarde em casa, a fim de ver novelas e séries. A Globo vem sentindo que precisa dialogar com esse público. Outro dia, o Tiago Leifert, do esporte, falou que ‘não somos mais o País do Futebol, mas o País das Novelas’. Acho que ele está certo.”
UOL - Então a Globo descobriu um novo segmento de público de novelas, mais jovem, mais sofisticado e com menos paciência para certos clichês da teledramaturgia tradicional?
Mauro Mendonça Filho - Acho que esse público é ávido pela renovação do gênero e celebra as mudanças que dão certo. O sucesso de "Cordel Encantado" é um bom exemplo. Mas os clichês nunca deixarão de existir. Clichê só existe porque funciona, senão não seria clichê.
UOL - “O Astro” terá 64 capítulos. Você acredita que o futuro das novelas é serem mais curtas?
Mauro Mendonça Filho - A novela longa nunca deixará de fazer parte do cotidiano do brasileiro. Ela é como um companheiro, alguém íntimo. Você vai para a casa, sabendo que vai encontrá-lo. Acho, porém, que esse formato de 60 capítulos também chegou para ficar, pois é uma novela mais ágil, mais dinâmica, sem barriga. Você fica com vontade de não perder nem um capítulo sequer.
UOL - “O Astro” terá 64 capítulos. Você acredita que o futuro das novelas é serem mais curtas?
Mauro Mendonça Filho - A novela longa nunca deixará de fazer parte do cotidiano do brasileiro. Ela é como um companheiro, alguém íntimo. Você vai para a casa, sabendo que vai encontrá-lo. Acho, porém, que esse formato de 60 capítulos também chegou para ficar, pois é uma novela mais ágil, mais dinâmica, sem barriga. Você fica com vontade de não perder nem um capítulo sequer.
Regina Duarte se inspira em cena clássica de Bette Davis no filme "A Malvada" para "O Astro"
UOL - Na cena da festa que antecede o assassinato de Salomão Hayalla, há uma clara referência a “Assassinato em Gosford Park” de Robert Altman, inclusive na maneira com que a câmera desliza por entre os convidados. Clô Hayalla diz, em determinado momento, “apertem os cintos que a noite será turbulenta”, frase de Bette Davis em “A Malvada”. O assassinato de Salomão também lembra cena de “Watchmen”. Que outros filmes você usa ou utilizará como inspiração na novela?
Mauro Mendonça Filho - Num sentido geral, me inspirei em Pedro Almodóvar, pela renovação do melodrama; em Hollywood dos anos 50, pelo glamour das festas; nas novelas das 22h dos anos 70, pela adequação ao novo horário das 23h; na série “Mad Men”, pelo comportamento sexual no trabalho; em “Hamlet”, pela tragédia após o crime de Salomão; em Quentin Tarantino, que é o rei do retrô; em David Cooperfield, que faz magia com o uso de mídias modernas e em Brian de Palma, que faz suspense, inspirado em filmes do passado. Pincei referências ora aqui, ora ali de filmes como “Ladrões de Bicicleta”, “Lenny”, “Watchmen”, “Caçadores de Emoção”, “Assassinato em Gosford Park”, “Estômago”, “Um Beijo Roubado”. Mas a grande referência é a própria Janete Clair, a lembrança de novelas como “Irmãos Coragem”, “Pecado Capital” e “Pai Herói”.
UOL – Quando você foi criticado no Twitter por suas referências, disse que essa patrulha da originalidade é muito chata. Por quê?
Mauro Mendonça Filho - Num sentido geral, me inspirei em Pedro Almodóvar, pela renovação do melodrama; em Hollywood dos anos 50, pelo glamour das festas; nas novelas das 22h dos anos 70, pela adequação ao novo horário das 23h; na série “Mad Men”, pelo comportamento sexual no trabalho; em “Hamlet”, pela tragédia após o crime de Salomão; em Quentin Tarantino, que é o rei do retrô; em David Cooperfield, que faz magia com o uso de mídias modernas e em Brian de Palma, que faz suspense, inspirado em filmes do passado. Pincei referências ora aqui, ora ali de filmes como “Ladrões de Bicicleta”, “Lenny”, “Watchmen”, “Caçadores de Emoção”, “Assassinato em Gosford Park”, “Estômago”, “Um Beijo Roubado”. Mas a grande referência é a própria Janete Clair, a lembrança de novelas como “Irmãos Coragem”, “Pecado Capital” e “Pai Herói”.
UOL – Quando você foi criticado no Twitter por suas referências, disse que essa patrulha da originalidade é muito chata. Por quê?
Mauro Mendonça Filho - Quando falo da “patrulha da originalidade” não quero dizer que sou contra a criação original. Falo desse movimento que vem da internet, essa coisa de não deixar passar nada de ninguém, de tudo ser comentado, dissecado e por vezes execrado. Também não sou contra a liberdade da internet, mas sempre onde há excessos, aparece a polícia, o clima de denúncia, de patrulha, que quando não atinge, soa até ingênua. A verdade é que todo o audiovisual trabalha com referências, seja filme, TV, comercial, clipe etc. É uma eterna cadeia. A própria cena do “Watchmen”, na qual me inspirei, vem de uma cadeia. Vou provar: sou fã absoluto do Alan Moore, não do filme, mas li a HQ umas quatro vezes. Veja o caso do personagem Comedian, o mesmo que é jogado pela janela. Ele foi inspirado em outro personagem de um quadrinho dos anos 1950, chamado Peacemaker. A associação Comedian/Joker (o Coringa do Batman), é fácil de ser feita. Esse Peacemaker foi provavelmente inspirado em algum Flash Gordon ou similar dos anos 30, que se inspirou em Meliés, que se inspirava na literatura infantil do século 19. Que nome dão para a cena da escadaria em “Os Intocáveis”, de Brian de Palma, totalmente igual à cena do “Encouraçado Potemkim” ou a “Dublê de Corpo”, do mesmo Brian de Palma, inspirado em “Janela Indiscreta”? Que nome dão para “Kill Bill”, que é totalmente igual ao original do Bruce Lee? No fundo, soa até engraçado, uma cena de morte de uma novela no Brasil causar essa pequena polêmica, pois ainda estamos a anos-luz dos efeitos especiais das produções do cinema Sci-fi americano. No fim das contas, nada disso tem a menor importância.
UOL - Há muitas cenas de festa em “O Astro” e muitas em outras novelas. Por que as cenas de festa funcionam tão bem?
Mauro Mendonça Filho - Os autores adoram uma festa, onde todos estão reunidos e coisas constrangedoras podem acontecer. Mas a verdade é que dá um trabalho danado gravá-las, pois os atores são muito brincalhões, ficam muito tempo sem fazer nada, a figuração fala alto, toda hora temos que pedir silêncio, ordem. A direção e a equipe ralam em dobro. Mas percebo que funciona. Gosto de fazer uma festa, com a câmera dentro dela, perdida entre os convidados. Em uma festa boa, na vida real, depois de uns goles, a gente perde a referência do tempo e do espaço (e, às vezes, de si mesmo). Procuro passar esse clima.
UOL - A polícia entrou no caso Salomão Hayalla e, ao contrário de outras novelas, parece mais realista. Foi uma opção estética de ter diálogos e policiais menos estúpidos?
Mauro Mendonça Filho - Os autores adoram uma festa, onde todos estão reunidos e coisas constrangedoras podem acontecer. Mas a verdade é que dá um trabalho danado gravá-las, pois os atores são muito brincalhões, ficam muito tempo sem fazer nada, a figuração fala alto, toda hora temos que pedir silêncio, ordem. A direção e a equipe ralam em dobro. Mas percebo que funciona. Gosto de fazer uma festa, com a câmera dentro dela, perdida entre os convidados. Em uma festa boa, na vida real, depois de uns goles, a gente perde a referência do tempo e do espaço (e, às vezes, de si mesmo). Procuro passar esse clima.
UOL - A polícia entrou no caso Salomão Hayalla e, ao contrário de outras novelas, parece mais realista. Foi uma opção estética de ter diálogos e policiais menos estúpidos?
Mauro Mendonça Filho - A gente esbarra no clichê policial, pela tangente. Não acho que estamos tentando ser realistas e sim fazer um Poirot moderno, com o investigador vivido pelo Daniel Dantas, obcecado com a solução do crime. Algo como um “Zodiac”, sem perder o romance, a tragédia. Márcio Hayalla também vai ficar também obcecado com a solução desse crime e se portará como um Hamlet, inconformado. Não faltarão emoções.
UOL - Não espero que você conte quem será o assassino de Salomão Hayalla, mas espero que você me responda que não vai ser o Felipe [como na versão original], estou certo?
Mauro Mendonça Filho - Isso é segredo de Estado. Só posso adiantar é que haverá surpresas.
UOL - Não espero que você conte quem será o assassino de Salomão Hayalla, mas espero que você me responda que não vai ser o Felipe [como na versão original], estou certo?
Mauro Mendonça Filho - Isso é segredo de Estado. Só posso adiantar é que haverá surpresas.
*Colaborou Edu Fernandes
Nenhum comentário:
Postar um comentário