sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

“O Brado Retumbante” é realidade disfarçada de ficção

A máxima televisiva “esta é uma obra de ficção e qualquer semelhança com nomes, fatos ou acontecimentos terá sido mera coincidência” deve ser seguida à risca para a minissérie global O Brado Retumbante, que estreou nesta terça-feira (17/01/2012). Mas é impossível ficar imune a tantas referências com a realidade. Mesmo quando disfarçada de um “Brasil fictício”, ao que a atração se propõe – em que, por exemplo, a sede do governo foi transferida de Brasília de volta para o Rio de Janeiro.


A TV brasileira já apresentou várias críticas ao Governo e governantes de nosso país, recheadas de metáforas com a realidade – O Salvador da Pátria, Que Rei Sou Eu?, Vale Tudo, O Bem Amado, Roque Santeiro, O Rei do Gado. Mas nunca se escancarou tanto uma realidade disfarçada de ficção como na trama de O Brado Retumbante, com personagens tão parecidos com os da vida real, em aparência ou atitudes – como os políticos e jornalistas que cercam o presidente protagonista.

O produto final é de uma qualidade inquestionável. A fotografia, a linguagem moderna e a temática remetem a alguns seriados da TV americana. Mas é no texto de Euclydes Marinho e seus colaboradores – Nelson Motta, Denise Bandeira e Guilherme Fiuza – que está o maior mérito da minissérie. Diálogos ágeis, irônicos, repletos de frases feitas, mas ácidas, com referências à história moderna de nosso país.

A direção segura – de Gustavo Fernandez em núcleo de Ricardo Waddington – prioriza o texto e valoriza a atuação dos atores. Domingos Montagner e Maria Fernanda Cândido apoiam-se em um elenco de coadjuvantes forte e interessante. Montagner vive o deputado Paulo Ventura, que vira Presidente da República da noite para o dia – literalmente – e tenta lidar com todas as consequências que isso lhe acarreta.


A audiência não correspondeu à qualidade da atração. O Brado Retumbante ficou poucos pontos acima do segundo lugar, o blockbuster A Hora do Rush 2 apresentado pelo SBT. Nesses tempos em que a “nova classe C” dita a programação da TV e comanda a audiência, é sempre bom festejar produções voltadas para um público “diferenciado”.

por Nilson Xavier

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