Se a morte assombra o Homem, a ideia da
finitude do Universo sempre perseguiu a Humanidade. Haja vista a enorme
produção do cinema sobre o tema, em filmes como “Independence Day“, “Armageddon“, “Impacto Profundo“, “O Dia Depois de Amanhã“, “Guerra dos Mundos“, “2012“, “Melancholia“,
e outros. Aproveitando todo o burburinho em cima do dia 21 de dezembro
(data do fim do mundo, de acordo com uma profecia maia), a Globo levou
ao ar a série “Como Aproveitar o Fim do Mundo”, de Fernanda Young e Alexandre Machado.
No ano de 1996, o Apocalipse não era um
assunto comentado. A virada do milênio só aconteceria em cinco anos. Mas
Dias Gomes já criara uma história que explorava esse filão: “O Fim do Mundo“, exibida como “mininovela” (35 capítulos). Com o questionamento “o que você faria se só te restasse um dia”
(da letra da música da abertura, cantada por Paulinho Moska), o autor
brincou com a fantasia do apocalipse, do que o homem seria capaz de
fazer ante a iminência de um fim coletivo.
Naquele ano, a novela ”O Rei do Gado“ (de Benedito Ruy Barbosa) seria a substituta de “Explode Coração”
(de Glória Perez), mas a Globo não conseguiu produzi-la no tempo
planejado para a estreia. A solução foi pegar o texto que Dias havia
escrito para ser uma minissérie. A hipótese de espichar a trama de
Glória chegou a ser cogitada, mas a emissora a descartou, pois tinha
assumido o compromisso de liberar a novelista para o julgamento dos
acusados do assassinato de sua filha (Daniela Perez).
Lançada como um “tapa-buraco”, “O Fim do Mundo”
foi exibida como “mininovela”. A nomenclatura se justifica não só pela
quantidade reduzida de capítulos, mas também pelo horário em que a
atração foi ao ar: o tradicional horário das oito da noite. Se fosse
apresentada mais tarde, certamente seria chamada de “minissérie”.
Os efeitos especiais foram um chamariz,
mas, aos olhos de hoje, envelheceram, parecem “toscos”. A campanha de
lançamento anunciava: “Uma super novela em 35 capítulos“. “O Fim do Mundo” manteve a audiência do horário, mas de “super” não trouxe nada, a não ser o universo tão característico de Dias Gomes.
Para contar sua história, Dias criou uma
cidadezinha perdida no interior da Bahia, repleta de tipos curiosos:
Tabacópolis, famosa pelas plantações de fumo. Lá vivia o paranormal
Joãozinho de Dagmar (Paulo Betti), um místico conhecido pelos seus
poderes de curandeiro e vidente. Acusado de charlatão por uns, Joãozinho
atendia diariamente uma fila de romeiros em busca de conforto para seus
males, da alma e do corpo. Mas se beneficiava da fé alheia.
Quando o vidente previu o fim do mundo,
Tabacópolis entrou em polvorosa. Fenômenos começaram a assombrar o
lugarejo: nasceu um bezerro com duas cabeças, barulho de sinos
assustaram os moradores, que sabiam que a igreja não possuía um sino, a
terra começou a tremer, e uma tempestade de excrementos emporcalhou a
cidade.
Diante dos fatos, não restava dúvida
para a população local. O fim dos tempos estava próximo. Era a
oportunidade para cada um extravasar seus desejos e aproveitar os
últimos momentos para ir à forra. Para tentar resolver seu problema de
impotência, o fazendeiro Tião Socó (José Wilker) assediou sexualmente a
cunhada, a bela Gardênia (Bruna Lombardi), por quem sempre fora
apaixonado. Letícia (Paloma Duarte) desistiu de casar virgem com o
insistente Josias (Guilherme Fontes) e se entregou ao peão Rosalvo
(Maurício Mattar), que acabou capado pelo noivo ciumento dela.
O malandro Vadeco (Tato Gabus Mendes)
começou a vender “terrenos no céu”. As pudicas e carolas irmãs Badaró
(Lúcia Alves e Cininha de Paula) partiram para cima do doente mental
Emiliano (Ricardo Blat), para satisfazerem seus desejos mais reprimidos.
Chico Veloso (Tonico Pereira) pôde finalmente se vestir de mulher. Os
malucos do hospício foram soltos. Também os presos da delegacia.
A
autoritária prefeita Florisbela (Vera Holtz) tentou colocar ordem na
população diante do caos generalizado que se estabeleceu em Tabacópolis.
Mas o mundo não acabou. E todos tiveram que arcar com as consequências
de seus atos impensados e de suas extravagâncias.
Fonte: UOL / Nilson Xavier
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