por Thiago Leal
O começo da ruína de Leandro Dantas…
Lembram-se de quando fiz uma pequena analogia dos romances de Leandro
com a construção de um castelo de cartas? Pois foi neste quarto
capítulo que esta torre começou a ruir. Ela não desmoronou por completo,
pois ainda temos muito pela frente, mas foi aqui que Leandro começou a
perceber o castelo tremer e a estrutura dar sinais de que não vai
aguentar muito tempo.
O capítulo, diga-se de passagem, foi o melhor dos quatro já
apresentados. Aliás, a série vem em uma crescente absurda, apresentando
um capítulo melhor que o outro, o que comprova que essa intenção do
roteiro, de ir liberando pouco a pouco a corda com que Leandro vai se
enforcar, está dando muito certo. Não me lembro de nenhum capítulo que
não tenha me deixado curioso para assistir ao próximo e, neste então,
essa sensação chegou ao seu ápice.
Toda a trama deste capítulo foi dedicada a Isabel, sua visão quanto
ao relacionamento que tem com Leandro, a desconfiança de Jaime e a
descoberta da traição. Tudo isso aconteceu em um único capítulo, com a
trama sendo construída cuidadosamente visando a explosão das cenas
finais, que foram absurdamente primorosas.
Aliás, uma coisa que vem me surpreendendo é que “Amores Roubados”
parece que se tornou duas minisséries dentro de uma. De um lado temos as
cenas de Leandro e Antônia, muito românticas e envolventes, que nos dá
motivos para torcer pelo casal, uma vez que sua paixão parece genuína.
Intercalado aos momentos românticos, temos toda a tensão que os
relacionamentos passados do rapaz causaram, com traição, vingança e
ódio. A montagem dos capítulos tá sendo genuína em mesclar esses dois
polos distintos da minissérie, pois joga o telespectador em uma
verdadeira montanha russa, passando de momentos fofos e românticos em
uma praia à explosão homicida de Jaime em questão de segundos.
Quanto ao lado mais romântico de “Amores Roubados”, por enquanto,
tudo o que tenho para falar é que a química entre Ísis Valverde e Cauã
Reymond é ótima e torna o casal crível para o público. Por causa de
todas as suposições que foram feitas acerca dos bastidores da minissérie
sobre um envolvimento dos dois – sobre as quais eu prefiro nem
discorrer muito, pois acho que não convém falar sobre isso e desmerecer
um trabalho tão bonito com boataria. Estou aqui para comentar a obra
“Amores Roubados”, não a vida de seus protagonistas – havia um temor de
que o público fosse rejeitar o casal e, agora que conhecemos a trama,
seria um desastre se isso ocorresse. A minissérie simplesmente não
funcionaria.
O ponto principal quanto a Leandro e Antônia é que, além da excelente
química entre seus intérpretes, o roteiro é inteligente em criar
situações para os dois que tornam suas cenas mais leves, longe do
reboliço que os outros personagens se encontram e extraem o que há de
melhor de cada um dos dois personagens. Não à toa, em uma das cenas mais
belas dos dois no episódio, Leandro afirma que Antônia fazia dele “uma
pessoa melhor” e quando indagado pela moça a forma como ele estava sendo
uma pessoa melhor, ele responde “menos pior”. E é isso que o roteiro
faz por ambos. Os colocam em situações que, somadas à química do casal,
não deixam outra solução ao público senão torcer pelo romance.
Antes de continuar, inclusive, gostaria de destacar as lindas cenas
do casal que são de um romantismo ímpar. Tivemos dois momentos
memoráveis do casal no episódio, em cenas tão lindas que poderiam muito
bem estarem em filmes de romance. A primeira delas foi quando os dois
param o carro e posam para a câmera, se encerrando no momento em que
Antônia dança para Leandro em uma das cenas mais belas que já vi na TV. E
já na reta final do episódio, todo o ato protagonizado pelos dois foi
belíssimo e impactante, pois, além de mostrar a paixão entre eles, ficou
claro também a vontade de ser feliz que é maior que qualquer percalço
que eles enfrentem como, por exemplo, a origem de Leandro. Em comum
entre as duas cenas, além do texto poético, tínhamos fotografias
deslumbrantes e uma química impressionante entre Ísis e Cauã.
Agora é chegada a hora de falar sobre a outra parte de “Amores
Roubados”, aquela mais explosiva, aquela que foi dominada completamente
pela espetacular Patrícia Pillar, que foi o grande nome do episódio.
Como comentei na abertura desta review, o episódio marcou o início da
ruína de Leandro, mas quem desmoronou de vez foi Isabel e foi fascinante
acompanhar seu declínio.
O que mais me fascina em Isabel é a tristeza latente de sua alma, que
Patrícia cuidadosamente demonstra na forma com que sua personagem se
porta, com fala mansa, sempre retraída, tentando não ser notada. Quem já
teve ou conhece alguém próximo que teve depressão, sabe o quão
maravilhosa está sendo a construção da personagem de Isabel. E um dos
fatores da depressão é a escuridão que acompanha a pessoa. Por mais que
ela queira, ela não consegue simplesmente ser feliz e isso estava claro
em Isabel desde suas primeiras cenas.
Mas daí aparece Leandro na vida de Isabel e, com a promessa de
aventuras e poesias, consegue lhe tirar da escuridão. O que Leandro
queria com Isabel era um caso. Mais um troféu para a sua estante. Mas
desconhecendo a realidade de Isabel, a tristeza de sua alma, ele não
percebeu que para ela, o que ele lhe oferecia era muito mais. Era uma
salvação, uma razão de viver, o fim de sua solidão, o fim da escuridão.
Por isso é fascinante acompanhar o surto de Isabel, que passa a
perseguir Leandro e perguntar-se o que ela fez de errado para que o
relacionamento dos dois acabasse, E notem aqui que o significado de
“relacionamento”, para os dois, é completamente oposta. Enquanto Leandro
afirma para Fortunato que eles “apenas se beijaram” deixando claro não
compreender as atitudes de Isabel, fica óbvio que o que ela procura em
Leandro era aquela fuga que ela conseguiu por poucos minutos de seu
casulo. É aquele homem que a fez vislumbrar um pouco de felicidade mesmo
que através de um livro de poemas.
E o mais magnífico nisso tudo é que Patrícia Pillar tem a
sensibilidade para perceber cada um desses detalhes psicológicos de sua
personagem e notou cada nuance da delicada sanidade de Isabel. E desde o
início do episódio, com as cenas na festa de São José, as reações de
Isabel ao marido Jaime, sua busca por Leandro e sua desilusão ao
perceber que o rapaz não correspondia seus sentimentos, Patricia Pillar
foi ABSOLUTAMENTE SOBERBA. Ela pegou o texto, tornou-o seu e apequenou
todos a seu redor. Meu rol de adjetivos seria pequeno para dimensionar o
tamanho de Patrícia neste capítulo.
Mas ainda que dominado quase que completamente por Patrícia, o
episódio deu uma oportunidade grande para que Murilo Benício e Irandhir
Santos também aparecessem. Uma vez desconfiado da mulher, Jaime colocou
seu “capataz” João para segui-la e descobrir se ela estava tendo um
caso. Chegamos então ao ato final do episódio, que se inicia na casa de
Leandro quando Isabel o confronta sobre o relacionamento dos dois. Esta,
para mim, já é a melhor cena que “Amores Roubados” nos apresentou e,
desde seu início na casa de Leandro, passando pela belíssima cena no
morro e concluindo com Isabel tomando os remédios, estávamos diante da
perfeição narrativa. Tínhamos uma Patrícia Pillar sobre-humana, um texto
impecável, uma direção segura, uma fotografia belíssima, uma trilha
tocante na construção de um arco que deixou todo o público com o coração
na mão.
E eis que depois dessa cena magnífica e do show de Patrícia Pillar eu
imaginei que seria impossível que este momento fosse superado. Mas eu
estava enganado. Irandhir Santos e, sobretudo, Murilo Benício ainda
queriam sua parte deste show. Quanto ao primeiro, antes de mais nada,
tenho que voltar um pouco para a cena no morro e destacar o show que
Irandhir deu enquanto desejava o suicídio de Isabel. Enquanto ele falava
para ela pular, a câmera focou seu rosto e era possível ver o prazer
misturado com uma escuridão em seus olhos.
E temos também Murilo Benício. Apesar dos detratores, sou fã do
trabalho do ator e o acho um dos melhores atores de sua geração. Sim,
Murilo tem uns cacoetes que o acompanham em todos os personagens, mas é
um dos únicos atores que consegue se desmontar por completo quando da
composição de um novo personagem. Ele consegue entender o personagem que
tem em mãos e entregar por completo seu corpo para o personagem. Isso é
claramente notado quando pegamos o Dodi (A Favorita), o Victor Valentim
(Ti Ti Ti) e o Tenente Wilson (Força-Tarefa). Na verdade, até mesmo o
Tufão (Avenida Brasil) que, assumo, não foi de seus melhores personagens
– embora tenha sido um dos mais icônicos – tenha uma pureza, uma
doçura, que deixava claro o quanto Murilo havia entendido a alma do
personagem.
Aqui, pela primeira vez, Jaime de fato apareceu, cresceu e tornou-se
enormemente ameaçador. Jaime é aquele típico “coronel nordestino”,
aquele homem duro, firme, dominador, que vê tudo e todos ao seu redor
como objeto. Isso fica claro desde a forma com que ele fala com a mulher
e a filha, até o jeito como ele gosta de ser bajulado por João. E
descobrir a traição de Isabel é um golpe do qual Jaime não pode se
recuperar.
Tenho certeza que veremos muito mais de Jaime/Benício nos próximos
seis capítulos mas, desde já, já ficam aqui todos os meus elogios pela
memorável cena da explosão de Jaime, quando ele quebra o celular com as
fotos de Isabel e Leandro. Mais belo ainda foram os minutos finais em
que, sob a narrativa de João, Jaime pega sua arma e se encaminha em
direção à sua mulher na cama. Foi uma cena de uma beleza sublime e,
misturar a narração de João com as expressões vívidas de Jaime foi uma
experiência transcendental, dando oportunidade para ambos, Murilo e
Irandhir, encerrar com chave de ouro esse capítulo magnífico.
::: Alguns Devaneios Finais:
- Desculpem o “atraso” da review. Quando eu estava no meio do
episódio acabou a energia aqui em casa e me deixou louco. Tive que
procurar um link online para terminar de assistir essa manhã.
- Simplesmente adoro as interações entre Leandro e Fortunato. A
amizade entre os dois é palpável e real e você percebe isso a cada
conselho que Fortunato dá a Leandro e que nós sabemos que ele não vai
seguir. Jesuíta Barbosa está realmente fazendo um excelente trabalho com
o pouco texto que lhe é dado.
- Sobre audiência, o terceiro capítulo teve números finais de 28
pontos na Grande São Paulo. Perdeu apenas três pontos com relação aos
dois primeiros e continua 5 pontos acima da média do horário e 6 pontos
acima do que a Globo esperava da série. A informação que se tem é que a
Globo está maravilhada com o sucesso da minissérie.
- Tivemos uma única cena de Cássia Kis Magro no episódio, o que me
deixa triste. Mas acho que foi até uma questão de respeito do roteiro
não fazer Patrícia Pillar dividir os holofotes com Cassia nem com Dira.
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