segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Review: Ó Paí, Ó


Eu não tenho problemas em assistir cinema nacional, séries nacionais, novelas, etc. Se eu gosto, eu vejo. Quando assisti Ó Paí, Ó, o filme, lembro que a experiência foi das melhores. A história não era tão leve quanto eu pensava. E mais do que a alegria do Carnaval, souberam mostrar com competência a violência e os problemas enfrentados por aqueles que não podem pagar para usufruir de todo o ‘conforto’ disponível atualmente. No caso da Bahia, os preços abusivos do abadás.

Ao ler que o filme seria transformado em seriado confesso que fiquei com receio de mudarem a essência da história. Dar uma cara mais ’sulista’ ao projeto para que o público da região sudeste ficasse mais aberto a ‘novidade’ de não se ver na TV. Coisa que os norte-americanos gostam muito de fazer quando adaptam séries de outros países. E que pode não funcionar e acabar não agradando ninguém. Como no caso de Coupling.

Acompanhando o site do seriado li duas declarações dos responsáveis por trás do projeto que dão uma idéia do objetivo da série. A diretora-geral Monique Gardenberg declarou que “vários assuntos sérios serão tratados com muito humor, de uma maneira leve”. Guel Arraes - de quem sou fã confessa - disse que “incluiu nos episódios muito da vivência das pessoas na Bahia, como é o dia-a-dia real delas, quais são as dificuldades que elas encontram, como é seu cotidiano”.

No primeiro episódio posso garantir que tiveram sucesso em tratar com humor os problemas comuns a muitos de nós. A personagem Neusão - vivida pela atriz, desconhecida por mim, Tânia Toko, está às voltas com as dívidas que não param de aumentar por conta do dinheiro que não consegue arrecadar em seu bar já que ela vende fiado e raramente tem o retorno. Ela precisa também lidar com Queixão (personagem criado para a série e vivido por Matheus Nachtergale) que resolve vender bebidas na calçada em frente ao estabelecimento com preços bem mais baixos. Afinal, ele não paga imposto. E sabe Deus aonde consegue as mercadorias.

Durante todo o episódio todos os personagens por motivos diversos precisam de uma determinada quantia em dinheiro e nós acompanhamos as formas para se atingir o objetivo. E no final todos conseguem a grana (R$50,00) que passa de mão em mão até chegar as mãos de Neusão, que deposita a nota no banco, numa maneira bem interessante de apresentar ao público que não teve a oportunidade de assistir ao filme a ligação entre esses personagens. Além de uma crítica bem humorada a pirataria, a religião, as instituições bancárias - a cena do gerente do banco explicando a Neusão o porquê do aumento diários dos juros foi bem engraçada e ao mesmo tempo deu aquela raiva que só quem já pegou empréstimo sabe o que é -, a polícia e ao racismo.

Se eles tiveram sucesso em mostrar o cotidiano da parte da Bahia que eles retratam, isso eu já não posso saber. Afinal, eu não sou baiana e nunca sequer visitei Salvador (objetivo que pretendo alcançar em breve). A maior parte do meu ‘conhecimento’ sobre a Bahia vem de livros (Jorge Amado, João Ubaldo Ribeiro, etc) e da própria TV. E levando em conta que como carioca posso afirmar que nem todo mundo vive como nas novelas do Manoel Carlos e nem todo mundo ‘estuda’ como o povo de Malhação. Essa parte eu deixo para quem for da Bahia julgar.

Eu fiquei com vontade de acompanhar a história. Não é nenhuma obra-prima, pelo menos não ainda, mas os atores são muito bons, a direção está bem feita. E a trilha sonora está bem divertida. Recomendo a assistirem sem tentar comparar com as séries americanas. Ou com as novelas do Aguinaldo Silva.

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