domingo, 1 de agosto de 2010

Elenco de 'Araguaia, grava as primeiras cenas entre belas paisagens, mosquitos e calor


Pirenópolis. Pousada. Dentro da van. Dia. São 7h em ponto e Cleo Pires entra no veículo da produção toda encolhida de frio e perguntando ao motorista qual lugar é o melhor para evitar os solavancos da estrada. Já instalada, Mariana Rios coloca enormes óculos escuros e liga o iPod, companheiro na viagem de cerca de uma hora até a Cachoeira do Abade, nos arredores da cidade goiana. No banco ao lado, a promessa de galã Raphael Viana repassa o texto todo rabiscado de observações.

É mais um dia nas gravações de "Araguaia", novela de Walther Negrão que vai substituir "Escrito nas estrelas" em setembro. A turma - em torno de 70 pessoas entre elenco, produção e técnica - é comandada por Marcos Schechtman, diretor que volta depois do megassucesso de "Caminho das Índias". Empolgado com o novo projeto, ele explica que vai apresentar ao público um estilo até então inédito na TV brasileira, apegada a rótulos:

- Dizemos que "Araguaia" é uma novela 'rurbana'. Ela não é apenas rural ou urbana, mas reúne os dois estilos, que surgem integrados. É um universo totalmente novo e um jeito de mostrar um lado da região do Araguaia que ainda não foi explorado na televisão.

Além de Pirenópolis, as gravações já captaram lindas imagens em Aruanã e Luiz Alves, dois pequenos municípios no entorno do rio Araguaia que atraem centenas de turistas - e mosquitos - durante o período de férias. A trama vai mostrar que o chique por lá é ficar nos acampamentos, muitos deles de luxo, lotados de gente em busca das praias de rio, com direito a jet ski, helicópteros e jacarés.

É justamente neste período pré-estúdio, nas locações de externas longe de casa, que surge - ou não - a liga entre membros de uma equipe de novela. E liga é o que não falta à trupe de "Araguaia". Da cantoria logo cedo para esquentar o corpo - que vai entrar literalmente numa fria, nesse caso as águas gélidas da belíssima Cachoeira do Abade -, passando pelo coro de músicas sertanejas na hora do jantar, e terminando nas festinhas regadas a cerveja antes de dormir, não resta a menor dúvida: se depender de entrosamento, o folhetim é sucesso garantido.

- Entre nós, é um tema recorrente como a novela está inteira, como estamos todos envolvidos e empolgados - diz Cleo Pires, que vai interpretar Estela, sua primeira protagonista em novelas: - Claro que é mais responsabilidade, me sinto como uma das capitãs do projeto. Tenho muitas cenas e mais trabalho. Mas eu gosto de trabalho.


"Araguaia" conta a história de Solano (Murilo Rosa), homem marcado para morrer por conta de uma maldição indígena que assombra sua família há muitas gerações. Mas como é novela, claro que desta vez será diferente e ele segue desafiando o destino. O coração do rapaz, um domador de cavalos batalhador e capaz de tudo para combater injustiças, será disputado por Manuela (Milena Toscano), uma mocinha cheia de atitude, e Estela, mulher misteriosa e descendente distante da tribo que jogou o tal feitiço.

- Ele é um típico herói romântico, mas com suas complexidades. No entanto, o mais importante é a bandeira que Solano vai defender, que é o fim da violência contra animais. Vamos falar de doma racional, mais afetuosa com os cavalos - conta Murilo, nascido em Brasília e, por isso, à vontade no universo goiano que será retratado na trama, assim como Cleo Pires, acostumada às temporadas na fazenda da família naqueles arredores.

No dia das filmagens na cachoeira, a equipe gravou uma cena que promete. Sob um calor inclemente e diante de um cenário de tirar o fôlego, surge Cleo Pires enrolada numa canga. O clima do set era de expectativa e preocupação: todos os (poucos) curiosos que estavam ali foram retirados, e os cuidados redobrados com a segurança, para que nenhuma imagem fosse clicada clandestinamente por câmeras ou celulares. Por que tanto cuidado? O corpo da atriz estava coberto apenas por um sumário traje indígena e por uma linda pintura que demorou quase três horas para ser concluída pela equipe de caracterização. Cleo, que no próximo dia 9 chega às bancas como capa da edição da "Playboy" mais comentada dos últimos tempos, se emocionou durante a cena. Naquele momento, sua personagem repetia o ritual responsável pelo infeliz destino de seu amor.

Logo em seguida, ela, Murilo e Milena gravaram um encontro do triângulo amoroso. Empolgada com seu primeiro grande papel em novelas, a intérprete de Manuela não conseguia disfarçar o sorriso de felicidade.

- Minha carreira vem num caminho muito bacana. Há um ano, até poderia ter medo, mas, agora, estou segura. Tudo acontece no momento certo - afirma Milena, que fez teste para o papel e até então tinha feito pequenas participações na TV, sendo a última no humorístico "Os caras de pau", exibido aos domingos na Globo.

No dia seguinte às externas na cachoeira, foi a vez de o elenco partir para a Fazenda Babilônia, antigo engenho de açúcar datado do fim do século XVIII, que hoje é patrimônio histórico. Basta passar pela porteira para voltar no tempo, desacelerar e se deixar levar. Isso sem falar nas comidinhas servidas pela proprietária, Telma Machado, que conseguiram tirar até mesmo as atrizes mais disciplinadas de suas dietas à base de Coca Zero.

- Pirei nesse doce de leite... Almocei duas vezes hoje, meu Deus - conforma-se uma animada Suzana Pires, dona de um dos papéis mais interessantes de "Araguaia", a jovem viúva Janaína.

Ninguém, contudo, estava tão confortável ali quanto Lima Duarte. Quem chegava para tomar café da manhã na pousada, antes de partir para as gravações na Babilônia, já se deparava com o ator todo paramentado de Max, seu personagem, com direito a bombacha, lenço, bota, chicote e chapéu. No set, enquanto os jovens atores conversavam esperando sua hora de entrar em cena, quem procurava por Lima o encontrava no meio dos peões, trocando um dedo de prosa.

Logo ao lado, nos bastidores, a agitação corria solta na produção. Maquiadoras e caracterizadoras sofriam para apagar as tatuagens de Cleo Pires, a produção de arte sofria para acalmar um cavalo que resolveu não entrar em cena, e a figurinista Emília Duncan sofria com seu perfeccionismo de craque para que tudo parecesse irretocável.

- É o figurino mais difícil de fazer, porque o telespectador olha e não vê um figurino saltando na tela. É diferente - acredita Emília.

Agora, é só esperar setembro chegar para mergulhar nesse rio.

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