segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Contracenando em 'Ti-ti-ti', Luis Gustavo e Murilo Benício falam sobre Victor Valentim


Luis Gustavo não para de repetir: não se lembra de nenhum outro ator que tenha passado pela mesma experiência que ele está vivendo na novela "Ti-ti-ti". No folhetim de Maria Adelaide Amaral, ele encarna Mário Fofoca, o atrapalhado detetive lançado em "Elas por elas", de 1982. Mas, nos últimos dias, seu personagem ganhou mais uma tarefa: agora, Mário Fofoca também finge ser Victor Valentim, personagem de Murilo Benício, mas que foi de Luis Gustavo na primeira versão da trama, em 1985. Parece confuso, mas tudo se encaixa no universo fantástico da novela que, na opinião do empolgado Tatá - como ele é conhecido pelos colegas -, é uma verdadeira festa.

- Não conheço ninguém que tenha feito o mesmo personagem depois de quase 30 anos. A novela é muito gostosa. Ia fazer só uma participação nos seis primeiros capítulos, mas pedi ao Jorginho ( Fernando, diretor) que desse a Maria Adelaide a ideia de eu ficar até o fim. Curto demais o texto dela, com quem ainda não havia trabalhado. É brilhante. Ela soluciona as situações resgatando o original e, ao mesmo tempo, homenageado o Cassiano ( Gabus Mendes, cunhado de Luis Gustavo e autor do folhetim original).

Do outro lado, Murilo Benício também está animado com essa reunião entre passado e presente.

- Nossa... O Tatá é um gênio. É um ator diferenciado. Ele é tão bom que os personagens dele continuavam após as novelas. Foi assim com uns dois. Inventavam uma série ou um filme só para ele. Esse é o Luis Gustavo, nem precisa dizer mais nada - derrete-se em elogios o ator, citando Mário Fofoca e Beto Rockfeller, que deram origem a filmes e séries.

A rasgação de seda é mútua: Luis Gustavo diz que é fã de Benício há muito tempo, destaca sua atuação nas comédias e sua composição de um Victor Valentim totalmente novo e igualmente bem-sucedido.

- O Murilo é ótimo. Só ele tem esse tempo de comédia, essa pausa, essa ironia. Adoro o trabalho que ele está fazendo. É um Victor Valentim próprio, que não tem nada a ver com o meu. O dele é mais atual, moderno e engraçado. O meu era mais austero e tradicional. Ele montou um novo personagem, do qual eu gosto muito.

Quem assistiu à primeira versão de "Ti-ti-ti" faz uma espécie de viagem no tempo. Luis Gustavo conta que a ideia discutida com os diretores da novela foi buscar as referências de seu antigo personagem e não criar um terceiro Victor Valentim. Esse exercício, diz ele, tem sido difícil, mas recompensador.

- Estou procurando resgatá-lo, na medida do possível. Claro que hoje estou de cabelos brancos, velho e barrigudo, isso não tem solução. Mas o olhar, a voz, o charme, isso eu consigo fazer - brinca o ator, dizendo que contou com a ajuda do diretor Jorge Fernando para entrar no clima da novela: - No início eu fiquei meio envergonhado. Numa cena, alguém me pergunta como falo espanhol tão bem e eu digo: "É porque eu sou amigo do Tatá, o Luis Gustavo, um ator que interpretou um personagem espanhol.". Olha como essa novela é louca! Mas depois entrei na onda.

Feliz por matar as saudades de seu personagem, o ator confessa que sentiu um tantinho de ciúme no início da trama. Um "ciúme entre aspas", segundo ele. Na verdade, uma mistura de nostalgia e saudade. A importância de Victor Valentim em sua carreira é visível na hora em que o ator descreve exatamente como se sentiu ao gravar sua primeira cena no remake.

- Não tinha ideia de como seria. Era uma cena com a Regina Braga, uma atriz incrível. Entrei no estúdio com muita coisa na cabeça: marcação, o texto em espanhol e o fato de ser uma atriz com quem eu nunca tinha trabalhado. Não estava exatamente nervoso ou preso, mas é algo quase como uma surdez, um transe. O engraçado é que disse a primeira fala e, quando ela respondeu, me soltei completamente. Parecia que tinham cortado a corda da âncora, sabe? Aí comecei a voar, a falar coisas que vinham na cabeça, do mesmo jeito que fazia antigamente. Você não ouve mais nada. Olha, foi uma das melhores sensações que eu tive nos últimos anos - diz, emocionado.

Benício afirma que se sente privilegiado em ver a performance de Tatá. Um dos aspectos que mais fascinou o ator, um iniciante na língua espanhola, foi o domínio demonstrado pelo veterano.

- Ele fala espanhol, não é como eu que preciso ficar estudando. O mais engraçado é que, em algumas cenas, eu não entendia nada do que ele estava dizendo. Era muito rápido, e ele ainda enfiava os palavrões no meio sem ninguém perceber - revela, rindo: - O meu Victor Valentim fala um espanhol totalmente enrolado, porque eu tive muitas dificuldades. Na primeira cena que fiz como Valentim, o estúdio teve que ser cancelado porque eu não conseguia dizer as falas. Tive muita ajuda do Rodrigo Lopez ( o Chico, na trama), que é filho de espanhol e ia lá em casa me ensinar. Coitado, ficava até 2h da manhã e eu não entendia nada.

Já na reta final da novela, o ator comemora o sucesso, mas admite que teve medo das comparações. Segundo Benício, o fato de reviver um personagem tão querido de uma novela tão bem-sucedida só atrapalhou sua preparação.

- O remake trouxe uma expectativa muito grande. Era, de certa forma, minha responsabilidade que a novela fosse boa. E o Tatá estava genial na versão original. Ou seja, era tudo contra. Mas deu muito certo. Acho que a Maria Adelaide superou qualquer expectativa. Além de juntar dois folhetins e reescrever maravilhosamente, ela partiu para esse universo de brincadeira entre os atores que é sensacional. Na verdade, eu diria que é mais que uma novela, é uma verdadeira homenagem ao Cassiano, esse autor maravilhoso que tivemos.

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