A terapia não é a cura, é a grandeza da descoberta.
Sessão de Terapia começou intimista,
deixando muita gente com o pé atrás sobre a qualidade da adaptação
brasileira, mas fomos surpreendidos. Por mais que alguns digam que a
versão brasileira só foi uma tradução da americana, é de se admirar a
fiel adaptação sob a direção de Selton Mello.
Além disso, Sessão de Terapia foi bem
aceita pela crítica e pelo público, as atuações cresceram
consideravelmente durante a série e a qualidade se sobressaiu. Em época
de tanta mesmice na programação brasileira, Sessão de Terapia veio como
uma ótima e inteligente escolha para as nossas noites.
Foi uma bela caminhada, uma longa
jornada em que vimos a evolução de cada personagem. Esse último episódio
serviu para dar um fim no dilema do terapeuta Theo, para mostrar se ele
decidiu ficar ou não com Júlia. Como eu imaginava, Theo realmente saiu
de casa para resolver tudo, sem pressa. Quando ele tocou a campainha do
apartamento de Júlia, eu tive a certeza de que o que estava para
acontecer seria definitivo. E foi.
Theo bem que tentou dizer que queria
acabar tudo com Júlia durante a terapia, ele quis convence-la a voltar
porque aquele consultório é a sua zona de conforto, e não só a dele, a
nossa também. Confesso que achei bem estranho ver os personagens em
outro ambiente. Parecia que Theo continuava a analisar o comportamento
de Júlia, mesma ela não sendo mais sua paciente, é a velha mania de ser
um terapeuta fora do consultório. Júlia estava ciente que o tinha em
suas mãos, ela pediu para que ele relaxasse e disse mais uma vez, que
Theo estava muito preso em suas convicções, que ele era sem vida,
apático.
Quando Júlia se levantou do sofá e
caminhou para o quarto, ela fez o convite que ele tanto esperava. Aliás,
Júlia não teve a evolução que eu esperava, apesar de conhecermos a
origem de sua transferência erótica com os homens, ela começou a série
querendo seduzir Theo e acabou dessa mesma maneira, uma pena. Ao vermos o
terapeuta atravessando o corredor, nos lembramos do sonho dele e
sentimos sua tensão a cada passo em que ele se aproximava da bela mulher
que tanto desejava.
O efeito da tela escurecer para nos
deixar curiosos foi bem utilizado, e ficou ainda melhor depois que Théo
apareceu no consultório de Dora para desabafar. O “rolou ou não rolou?”
ficou em nossa mente naqueles segundos de dúvida.
Theo acabou traído por seu desejo, a expectativa pelo momento e a vontade foram tão fortes, que ele acabou tendo um ataque de ansiedade e não “compareceu” diante daquela mulher. Confesso que a situação de tão dramática, acabou soando cômica quando Theo revelou não ter conseguido fazer nada. Não havia desculpas naquele momento, era ele e Júlia, mais ninguém. Sendo assim, o único que o atrapalhou aquele momento, foi ele mesmo.
Dora tentou ajudá-lo, dizendo que o seu
lado mais nobre se opôs diante daquela tentação. Mas Theo não queria
ajuda, ele buscava respostas, algo que o fizesse entender porque ele
agiu daquela forma diante de tudo o que queria. A psicologia não teve
respostas para ele, Dora não teve palavras de apoio e ele terminou
frustrado. É incrível a dualidade de Theo, a complexidade desse
personagem, a primeira temporada foi espetacular em demonstrar um
profissional acostumado em resolver problemas alheios, mas que estava
perdido em seus dilemas. Zécarlos cresceu durante a temporada e eu
consegui me conectar com ele. Já não consigo imaginar outra pessoa como
Theo.
A sequência final foi brilhante, a
temporada terminou absolutamente realista e simples. Theo escolheu sair
de casa e acabou terminando tudo com Júlia, então o que restou para ele
foi a solidão nas ruas de São Paulo. Na luta interna, ele descobriu não
ser capaz de se libertar de suas convicções morais e pessoais, mesmo que
quisesse tanto isso. O vai e vem nas ruas de São Paulo, Theo como
segundo plano ao fundo, o mundo não parou diante do sofrimento dele. Mas
nós paramos diante da TV para acompanhar a sua trajetória, e só quem
viu sabe o quanto foi profundo, inesperado e inesquecível. Não houve
finais felizes ou problemas solucionados com facilidade. Afinal, a
terapia não é a cura, é a grandeza da descoberta.
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