terça-feira, 6 de janeiro de 2009
Review: A Lei e o Crime
A questão sobre um mercado para seriados brasileiros vai muito além de encontrarmos um hit, uma série que seja quase uma unânimidade e desperte em anunciantes, emissoras e telespectadores o desejo de ver mais deste tipo específico de teledramaturgia. A questão é outra: é de encontrar a fórmula para isto, encontrar um jeito genuíno de fazer seriado de televisão no Brasil.
Em 2008, a Fox fez sua tentativa, tentando abrasileirar a fórmula do seriados policiais americanos com 9mm:São Paulo. A Globo seguiu namorando a classe C e D, com sua abordagem leve da vida nas favelas, desta vez visitando Salvador com Ó Paí Ó. Na HBO, Alice apostou em um drama jovem e veio com a boa idéia de criar um vínculo com o telespectador através de uma visão apaixonada da cidade de São Paulo.
Com algum atraso, chegou a vez de Record investir no gênero. Já era hora. Se existe uma chance de se derrubar a hegemonia da Globo, ela se dera através do investimento em novas fórmulas e não em emular o comportamento de emissora líder (ou em telenovelas com super-heróis).
Assim como as séries acima, A Lei e o Crime tem suas carências e tem seus méritos. Mas o mais importante é que ela tem uma proposta, tem um caminho e o caminho é autêntico.
A Lei e o Crime se propõe um seriado diferenciado. Mais que um típico drama policial, que quer mostrar através de uma série de personagens os múltiplos lados (e as motivações) do confronto entre polícia e crime organizado. A fórmula remete a alguns shows americanos diferenciados, como Line of Fire e Brotherhood e mesmo Família Soprano (sem o charme da máfia).
Num primeiro momento vai parecer ousado o fato de não termos mocinhos ou bandidos – o que poderá ser o fracasso da série, uma vez que não permite muito espaço para o telespectador se identificar.
Mas grande sacada do roteiro de Marcílio Moraes, no entanto, não é a tentativa de fugir do maniqueísmo típico do gênero ou a opção por um ponto de vista diferenciado para abordar a criminalidade. A sacada é que A Lei e o Crime tem uma narrativa de telenovela.
A diferença para as telenovelas vem na segunda fase da produção – nas locações, na direção de arte, na fotografia e na direção esperta de Alexandre Avancini. Aqui a série me fisgou. Há um ponto do episódio que não importa mais se o roteiro é estúpido – o motivo banal para Nando (Ângelo Paes Leme) matar o sogro, a vingança desmedida de Romero (Caio Junqueira) ou a forma tosca como o arrastão dos traficantes dá errado. A série enche os olhos, com a iluminação indireta, seus múltiplos cortes, os ângulos diferenciados de câmera, a boa edição.
(E eu ia reclamar do som. Mas depois do péssimo áudio que a estréia da minissérie Maysa apresentou, com cenas quase mudas, sem nenhum som ambiente, ficou mais difícil criticar A Lei e o Crime).
E, claro, temos a favela e os tiroteios. Na pior das hipóteses, A Lei e o Crime valeria a pena pela longa seqüência que mostra Nando assumindo o controle do morro – com direito a granadas da mão, bazucas e assassinato a sangue frio, numa cena que não deve nada as melhores seqüências de The Unit e outras séries de guerra.
Vale a pena assistir ao segundo episódio!
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