domingo, 22 de novembro de 2009

Crítica: Ó Paí, Ó perde a graça


Ó Paí, Ó é um daqueles seriados de TV, filhotes de cinema, que se saem melhor do que o filme que os gerou. Isso já aconteceu com Antônia (2006). Mas não é regra. Com Carandiru foi o contrário. A série Carandiru – Outras Histórias (2005) não chegava nem aos pés do filme de Hector Babenco que a inspirou.

A estreia da segunda temporada de Ó Paí, Ó, no entanto, revelou um programa que perdeu a mão. Ou melhor, a graça.

As agruras de um grupo de moradores de um cortiço do Pelourinho, em Salvador, se transformaram em um editorial contra as igrejas evangélicas. A graça que existia nas tiradas de humor sobre os conflitos entre evangélicos e adeptos do candomblé deu lugar a uma piada repetida à exaustão.

No episódio, o cortiço do Pelourinho treme justamente quando Roque (Lázaro Ramos), o protagonista, ensaia sua nova música, que inscreveu em um festival. Eis que aparece Queixão (o ótimo Matheus Nachtergaele), o vilão do seriado, o bandidão, na pele de um pastor impostor. Apontando um arma, Queixão (agora bispo Moisés) expulsa e rouba o pastor da área e funda no cortiço a Igreja do Tremor Divino. E passa a equipar a igreja a preços superfaturados.

Está dada a deixa para uma série de situações que os evangélicos, provavelmente, não acharam a menor graça. Há um festival de piadas sobre o dízimo. Tem até uma faixa na linha “Deposite aqui o seu dízimo”. Tentam cobrar dízimo até sobre o prêmio que Roque ganhou no festival de axé.

A crítica à mercantilização da fé, que era sutil na primeira temporada, tornou-se escrachada, agresssiva. Você discorda? OK. Então agora imagina uma rede de TV fazendo um programa em que o vilão é um padre pedófilo. Pegaria pesado, não?

Aparentemente, até Ó Paí, Ó entrou na guerra entre a Globo e a Record e a Igreja Universal do Reino de Deus.

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