domingo, 3 de janeiro de 2010

Minissérie lembra a história de Dalva de Oliveira e Herivelto Martins


Ao explicar o que há de realidade e o que há de ficção na minissérie "Dalva e Herivelto, uma canção de amor", que estreia na segunda-feira na Globo, depois de "Viver a vida", a autora Maria Adelaide Amaral dá o exemplo de uma liberdade poética que tomou ao descrever um episódio passado na Venezuela. Imediatamente, é corrigida pela filha do biografado, Yaçanã Martins, presente no papo com jornalistas.

- Ah, isso também aconteceu? Chega uma hora que a gente não sabe mais o que é verdade e o que não é - diverte-se a autora, que partiu de biografias, entrevistas e farto material jornalístico para rememorar a trajetória de um dos casais mais célebres (e expostos) da história da música brasileira.

A confusão serve para mostrar o quanto a história da união - artística e amorosa - entre o compositor Herivelto Martins e a cantora Dalva de Oliveira se aproxima do exagero ficcional. Em cinco capítulos, a minissérie dirigida por Dennis Carvalho vai esmiuçar uma relação que juntou aclamação popular, companheirismo, deslealdade, brigas homéricas e ofensas públicas.

- Foi uma linda história de amor, mas também um grande drama, um novelão - resume Maria Adelaide, famosa por outros trabalhos de época como "A muralha", "Os Maias" e "JK".

Originalmente, a proposta da autora era homenagear a cantora Isaurinha Garcia. Mas acabou convencida pelo diretor musical da Globo, Mariozinho Rocha, de que as vidas de Dalva e Herivelto dariam mais pano pra manga. Não só pelos episódios privados. Vivido por Adriana Esteves e Fábio Assunção, o casal de protagonistas também serve de fio condutor para um painel da era do rádio, que nas décadas de 1940 e 50 atraía multidões no Brasil com a mesma força da televisão de hoje.

A história contada pela minissérie começa em 1972, no leito de morte da cantora. Em sonho, Dalva imagina uma visita do ex-marido, que havia rompido relações com ela e encontrado um novo amor, a aeromoça Lurdes Torelly (Maria Fernanda Cândido). A partir desse encontro imaginário, a trama percorre a parceria da dupla, desde o início, em 1936, quando ele se conheceram no Teatro Pátria, passando pela formação do Trio de Ouro com Nilo Chagas (Maurício Xavier), cujos sambas faziam enorme sucesso nas rádios e em shows no Cassino da Urca.

Paralelamente à ascensão profissional, outra história se desenrola: a do amor entre dois ídolos da música. Logo no lançamento do disco de estreia do trio, a cantora se descobriu grávida do primeiro filho com Herivelto, Pery (Gabriel Moura quando adolescente e Thiago Fragoso, já adulto). Assim como era dedicado à sua estrela, o compositor se descuidava com o casamento. Sedutor, vivia em noitadas com outras mulheres. Enquanto isso, Dalva sofria com ciúme e mergulhava no álcool. O rompimento veio em 1949, depois de uma turnê desastrosa do grupo pela Venezuela ao lado de Dercy Gonçalves (Fafy Siqueira).

- Ela foi uma grande artista, que morreu de amor. Teve um vida dura, foi trocada, sofreu muito. Eu entendo suas dores e tenho uma grande admiração por ela - diz Adriana, que para entrar no universo da cantora leu biografias, ouviu suas músicas obsessivamente, visitou seu fã clube e teve encontros com familiares do casal. - Procurei ser fiel ao seu gestual de palco, mas mais importante para mim foi compor a Dalva íntima.

Irreconhecível com os cabelos encaracolados e os olhos verdes da diva, Adriana não se arriscou a tentar reproduzir, nos números musicais, a voz de Dalva, cuja extensão ia do contralto ao soprano. Mas, aplicada, cantava junto com a música original em cada gravação de show ("é uma forma de mostrar o esforço", explica). Para criar seu Herivelto, Fábio Assunção também trabalhou duro. Fez aulas de violão de sete cordas, oficina de atuação com Camila Amado e saiu da dieta para se aproximar do visual mais roliço do compositor. Nos trechos musicais, cantou para valer.

- Como ele era mais uma personalidade musical de que propriamente um cantor, não me acanhei de usar minha própria voz - afirma o ator, que tocou guitarra e piano numa banda na adolescência.

Defender o personagem Herivelto não foi tarefa das mais fáceis. Depois da separação, o músico ganhou a pecha de vilão do público graças a uma campanha que empreendeu contra a ex-mulher. A briga pública incluía músicas endereçadas a Dalva, como "Caminho certo" ("transformava o lar na minha ausência/em qualquer coisa/abaixo da decência"), e uma série de 22 artigos ofensivos publicados no "Diário da noite", escritos com David Nasser (Jandir Ferrari).

- Tento não ter julgamento. Quando faço ele se divertindo com as cabrochas, tento me divertir junto. Procurei criar um machão light - diz o galã, de volta à TV depois de seu tratamento contra a dependência química. - Novela tem uma carga pesada. Voltar numa minissérie foi incrível. Tem um clima de cinema.

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