segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Tempos Modernos ou Clichês Modernos?


Por João Gabriel Batista

A Globo estreou na primeira quinzena de janeiro "Tempos Modernos", a primeira novela assinada por Bosco Brasil na emissora. O autor estava de volta à emissora carioca após dois anos na Record. Bosco tinha - e ainda tem - uma importante missão: manter em alta a audiência herdada de "Caras & Bocas", objetivo o qual está longe de ser cumprido e sobram motivos para justificar o fracasso dos primeiros capítulos. E o problema não está na direção e muito menos na produção, que seguem com o padrão Globo de qualidade.

Uma das primeiras falhas de "Tempos Modernos" pode ser percebida logo em seu primeiro capítulo, completo dos chamados "deja vu" - aquela sensação de que já presenciamos determinada situação antes. O casal principal é formado por Thiago Rodrigues e Fernanda Vasconcellos. De novo. É o terceiro trabalho consecutivo da dupla, como casal principal. Apenas aqui já gera uma insatisfação no telespectador, que não aparenta estar tão disposto a rever essa novela. Ainda no primeiro capítulo, a mocinha, rebelde, acaba ficando presa por uma corda prestes a romper no edifício em que a novela se passa. O mocinho, como sempre, aparece para salvar e os dois começam a discutir. Qualquer semelhança com o início de "Vidas Opostas", onde os protagonistas, que começaram a se detestar em uma escalada ao Pão de Açúcar, é mera coincidência.

Outras repetições também são claramente identificadas no texto de Bosco Brasil. O personagem de Antonio Fagundes por exemplo é uma reedição quase que integral de Juvenal Antena, papel que interpretava em "Duas Caras", cujo autor Aguinaldo Silva é o atual supervisor de Bosco. Leal pode ser descrito como um homem ambicioso, mas de bom caráter e que quer manter o controle de seus domínios e posses. Substitua Leal por Juvenal e veja se a descrição não se encaixa perfeitamente.

Essas são só algumas das repetições de "Tempos Modernos". O drama de Hélia, que acreditava que Zeca e Nelinha fossem irmãos, é outro clichê que já foi usado e "re-usado" nas novelas. O recurso é tão barato que em "Cama de Gato" e em "Bela, a Feia", ambas no ar, existem referências ao mesmo caso. O autor poderia ter tomado nota disso e evitado usar a mesma história agora. Claro que novelas não passam de repetições, mas elas não precisam ser tão visíveis assim.

Além da sensação de já-vi-isso-em-algum-lugar, a nova novela das sete da Globo tem uma falha imperdoável e que não deveria ter ocorrido novamente: o nome dos personagens. Novelas são produtos assistidos por todas as classes mas com ampla penetração nas classes C, D e E. Os nomes devem ser fáceis para cair na boca do povo. Bodanksi, Deodora, Gaulês, Jannis, Niemann, Zuppo, Zapata, Valvênio e etc. são, além de feios, difíceis de serem lembrados. E o mau gosto não para por ai... tem personagem chamado Duba Lumbriga. Se a intenção era fazer rir, passou longe. Lembrando que "Bang Bang" teve o mesmo problema. Mool Flanders, Pátrik Gogol, Neon Bullock, Catty McGold e outros foram alguns dos fatores que prejudicaram a popularização do folhetim.

O que resta a Globo fazer? Chamar um autor mais experiente, talvez o próprio Aguinaldo Silva, para tentar salvar o folhetim. Usar de situações menos batidas já seria um bom começo. E claro, realizar pesquisas com os telespectadores, afinal ninguém melhor que os telespectadores para responder o que há de errado em "Tempos Modernos". E isso deverá ser feito logo após o Carnaval.

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