quinta-feira, 11 de março de 2010

Produção do canal Fox, '9 MM' ganha nova temporada


"Dona Sueli, seu marido foi encontrado morto usando uma calcinha vermelha..." A viúva se assusta e chora. Tem ainda de ouvir do investigador a estranha notícia mais seis vezes, sempre chorando, até o diretor dizer: "Para mim está OK".

O complexo de estúdios na Barra Funda (zona oeste de São Paulo) não tem ar-condicionado, e os ventiladores são desligados durante as filmagens para não interferir no som.

A cidade estava um forno há 15 dias, quando a Folha acompanhou a gravação de um dos sete novos episódios da série "9 MM: São Paulo", primeira produção brasileira do canal Fox.

E o realismo do suor em cena pode entrar na lista das "vantagens" que o diretor e produtor da série, Roberto D'Avila, menciona, bem-humorado, de "filmar com baixo orçamento".

Afinal, não deve ser agradável a temperatura de um porão destinado ao trabalho de investigadores do departamento de homicídios da polícia civil de São Paulo, retratados na série.

A primeira temporada, exibida entre 2008 e 2009 no Brasil, elevou a Fox do décimo para o quinto lugar no ranking de audiência da TV paga no país.

Foi ao ar também na América Latina, no Japão, em Portugal e agora chega a países da África. A produção da série só foi possível graças a uma lei de incentivo fiscal a canais estrangeiros que investem em produção nacional independente.

A produtora de "9 MM" é a brasileira Moonshot Pictures, com criação de Roberto D'Avila, Newton Cannito e Carlos Amorim, autor do livro "CV PCC - A Irmandade do Crime".

Para os 13 primeiros episódios, a Ancine (Agência Nacional de Cinema) liberou o uso de R$ 4,1 milhões. O valor, somado a um investimento direto da Fox de pouco mais de R$ 550 mil, foi o único recurso da obra.

São cerca de R$ 384 mil para cada um dos capítulos, de 45 minutos de duração --como comparação, cada um dos episódios da série "A Lei e o Crime", da Record, custou R$ 500 mil, e os de "Capitu", da Globo, R$ 1 milhão, ambas produzidas pelas emissoras, sem incentivo.

Emiliano Saccone, vice-presidente sênior de conteúdo global da Fox International, elogia o fato de o Brasil ser um dos únicos países da América Latina com incentivos governamentais à produção independente. "Com certeza, se fosse na Colômbia, por exemplo, custaria muito mais. Além disso, o Brasil tem uma qualidade técnica impressionante."

Foco na sandália

Os sete episódios da nova temporada, cujas filmagens terminam nesta semana e têm estreia prevista para o segundo semestre, terão orçamento maior, de R$ 514 mil cada um.

No calor do estúdio, Roberto D'Avila grita para o operador de câmera: "Pode fazer uns enquadramentos estranhos à vontade". Ora o foco está na sandália da dona Sueli, a viúva do morto com a calcinha vermelha, ora o pé da cadeira fica em primeiro plano, com o distintivo na cintura do investigador ao fundo.

"Fugimos de regras clássicas da narrativa. A ideia é causar estranhamento no telespectador", diz D'Avila, após orientar a atriz Francine Missaka, a dona Sueli, a conter um pouco o choro ao saber da calcinha.

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