quarta-feira, 14 de julho de 2010

Review: Na Forma da lei: Debaixo da Pele (01×02)


Um corretor o acompanha pelas alamedas de um bairro. Você vem ouvindo faz algum tempo que há um imóvel, um casarão luxuoso a ser comprado. Segundo informações que lhe são passadas entre faixas de pedestres e esquinas furtivas, é coisa que nunca se viu pela cidade: um verdadeiro achado, e que deve atender a todas as suas expectativas.

Quando finalmente chegam ao lugar, eis que o homem, sorridente, lhe apresenta aquilo de que tanto falara. Você então percebe que o palacete, que a mansão tão anunciada, tudo era lábia de vendedor. A propriedade é grande, mas apenas se comparada a uma casa simples, o gramado tem buracos e irregularidades, os cômodos têm decoração ultrapassada e as janelas não dão para muros, mas a vista não é nada de excepcional.

Bem vindo ao segundo episódio de Na Forma da Lei.

Como disse na semana passada, sou dos que sempre torceram pela exibição de uma série jurídica, ou com contornos jurídicos no Brasil. A razão vai para além de eu ser advogado e ator: tal qual o David E. Kelley, penso que as situações da vida real ganham novo colorido quando vistas sob a ótica do Direito. Acessórios que venham, como política e enredo policial, mas aquilo que o telespectador brasileiro não conhece, aquilo com que ele não tem contato ao sentar de frente pra televisão… Isso é o que eu quero ver. E isso é que me anunciaram quando do burburinho antes da estréia.

Quero dizer que veio o segundo episódio, e continuo frustrado. O que mais me incomoda nessa série não é o trabalho dos atores (embora certas personagens não estejam no ponto por falha de casting), não é a abertura piegas ao som de The Amazing Race cover, não é nem mesmo a falta de verrosimilhança das cenas de ação (como a da morte do rapaz no primeiro episódio e a do tiroteio no de ontem). Me irrita é essa novelização da proposta do seriado, que tinha tudo pra ser tremendamente interessante, mas que está seguindo a idéia das velhas minisséries globais, como Engraçadinha ou Agosto. Salvo raros momentos em que as interpretações de um José Wilker, de um Luís Melo, de um Osmar Prado ou mesmo de uma Ângela Vieira me distraíram, tive a nítida sensação de estar vendo um capítulo de A Próxima Vítima.

A exibição de ontem serviu para destacar a vilania e a corrupção orquestradas pela família Viegas. Um deputado federal é usado como laranja num esquema de desvio de verbas públicas, e enquanto seus serviços são úteis ao senador, continua rico e influente. Assim que as coisas dão errado, o homem perde tudo – a depender de Maurício, como vimos, até mesmo a vida. Gostaria de ter visto mais interação entre os advogados, mais destaque para a “sentença de morte” dada pelo Dr. Mourão ao político. Gostaria de ter visto um Henri Castelli diferente na discussão com o pai. Mas não vi nenhuma dessas coisas.

Embora não esteja gostando da série até agora, ainda torço pra que a Luana Piovani apareça bem menos e para que o Márcio Garcia se encontre naquele papel. Espero também ver um terceiro episódio mergulhado no universo jurídico, com roteiro e atores em franca exploração de todas as facetas do Direito Penal e do Direito Processual Penal, dando aos telespectadores brasileiros aquilo que eu senti não poucas vezes em The Practice e Boston Legal. Quero ver uma Ana Paula Arósio com duas libras a menos de melodrama, usando das técnicas argumentativas mais variadas para incriminar pai e filho, ou apenas o filho. Quem sabe chega o dia em que eu comente a série sem consumir a redação com ressalvas.

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