quarta-feira, 15 de setembro de 2010

REVIEW: A Cura – 1 x06


A disputa de poder. Muito mais do que religiosidade, do que fé, do que misticismo e até do que violência, a premissa de A Cura é apenas e tão somente a disputa de poder. Ao menos foi isso que o eletrizante e excelente 6º episódio da série, exibido pela Rede Globo na última terça-feira, nos mostrou. A bem da verdade é que as cortinas para a reta final já se abriram e começam a revelar histórias surpreendentes, além de um enredo muito bem elaborado e instigante.

Se muito do que foi dito sobre Oto (Juca de Oliveira) ao longo de toda a temporada mostrou-se como uma grande conspiração dos inimigos do curandeira, não é possível também afirmar que ele seja um santo. O que se viu no episódio é suficiente para mostrar haver um domínio amplo do personagem entre seus seguidores. Como se passar-se por morto já não fosse suficiente para demonstrar que ele nunca foi assim tão santo, a aceitação que ele tem em ser devotado por alguns personagens da história e o controle – inclusive com ajuda mensal financeira – que ele exerce sobre a vida de muitos é assustadora e mostra que Oto não é assim tão bondoso.

Mas é preciso entender que tudo isso foi mostrado de leve. O telespectador quem deveria concluir as falhas de caráter de Oto, o verdadeiro protagonista da trama, conforme ia assistindo ao 6º episódio e a história do curandeiro ia se revelando. Afinal, após ser pintado como um demônio pela maioria dos moradores mais antigos de Diamantina, agora, ele foi mostrado por Ciro (Rogério Marcico) como um verdadeiro deus – não a toa ele trata o personagem como “pai”, assim como outros devotos. O que se viu, através de um vídeo mostrado por Ciro a Dimas (Selton Melo) e Rosângela (Andréia Horta) foi que todos os inimigos de Oto já foram amigos um dia.

O ponto fundamental da história mantém-se no mistério da “morte”. Afinal, por que o curandeiro precisou se passar por morto? E o que tanto os personagens de Diamantina escondem de seus filhos sobre a nebulosa história de Oto? É isso que Luis Camilo (Caco Ciocler) e Rosângela vão descobrindo aos poucos enquanto também descobrem não estarem mais tão próximos, já que Rosângela parece perdidamente apaixonada pelo namorado de infância e fascinada pelo poder de Dimas.

Dimas aliás que, mesmo curando Carlindo (Jackson Antunes) foi preso por ter invadido o hospital, porém, logo liberado por ter sido comprovado seu poder de cura. O mais impressionante é que quanto mais conhece seu poder, mais confuso Dimas fica. Depois de ter dito claramente que “vai curar”, ele teve outra de suas crises e fugiu dos doentes, não aceitando o que parece ser seu destino.

Enquanto isso, na realidade paralela do século XVIII, Silvério (Carmo Dalla Vechia) tentou a todo custo convencer Ezequiel (Dyjhan Henrique) a curá-lo. O menino, contudo, permanece convencido a não realizar a cirurgia espiritual para curar o vilão. Silvério então dá mais mostras de seu caráter maligno e decide que, a cada vez que o menino der um “não”, ele irá fazer algum escravo sofrer na melhor das pressões psicológicas. Numa das melhores cenas de A Cura até o momento, Ezequiel tenta curar uma escrava que havia sofrido violência e, Silvério chegando em cena, dá mostras de sua crueldade e assassina a sangue-frio a escrava, diante dos olhos da criança com um corte no pescoço da vítima feito por uma faca, numa cena forte e que chocou o telespectador. Após a escrava cair nua e sem vida, Silvério usa a faca do crime para lamber (sim lamber) o sangue da escrava que ficou na lâmina e olhando profundamente para o menino solta a frase que pode ser toda a premissa da série: “Você acha que tem poder? Meu poder é maior que o teu, menino. Quem tem poder sobre a morte é maior do que quem tem poder sobre a vida”. Delicioso texto de João Emanuel Carneiro.

Por fim, já no presente. Dimas no ápice de seus conflitos internos, ainda foi abordado por homens que não creem em seu poder e começaram a agredí-lo. Apanhando, num beco escuro, parecia o fim da linha para o personagem, mas eis que surge o ‘salvador da pátria’ Oto, armado e decidido e o ajuda. E o episódio termina com a revelação bombástica de Ciro para Dimas: “Este, meu neto, é o Dr. Oto”. Faltam somente dois episódios para o fim da espetacular série que parece embrenhada por mistérios difíceis de se compreender.

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