sexta-feira, 15 de outubro de 2010

"A Cura" merece continuar


A primeira temporada de “A Cura” chegou ao fim deixando a sensação de que apenas nove episódios foi pouco para um projeto tão ambicioso e bem-sucedido. O programa de João Emanuel Carneiro e Marcos Bernstein se apropriou de um formato americano — o de seriado semanal — e construiu uma história totalmente brasileira, com elementos como o curandeirismo, a crendice popular, a mineiridade etc. Os autores se arriscaram nestes temas sem cair no realismo fantástico, ou sequer flertar com o absurdo. Criaram uma história crível do começo ao fim. Nada no roteiro acabou na conta da licença poética.

Como já tinha mostrado em “A Favorita”, João Emanuel não aposta no espectador distraído, ou complacente. Ele escreve para os exigentes, para os atentos que não se deixam enganar por uma trama apenas mais ou menos. Ricardo Waddington fez uma direção seca, evitando os efeitos especiais, e confiando na história acima de tudo.


Quando escolheu gravar com uma parte do elenco de diamantinenses não era gênero: “A Cura” refletiu as cores, a atmosfera, o ambiente moral, o jeito de caminhar local etc. O seriado teve personalidade. A escalação e a direção do elenco foram outros acertos. Todos os atores estiveram bem, sem exceção, de Selton Melo a Carmo Dalla Vecchia, passando por Juca de Oliveira, Ana Rosa, Nívea Maria, Ary Fontoura, Andreia Horta e Caco Ciocler.

Fechado com uma chave de ouro, mas uma chave capaz de abrir uma porta para toda uma trama nova, o programa foi um dos melhores no gênero — se não o melhor — já produzido pela TV aberta brasileira. E não mereceria morrer numa única temporada.

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