“Amor e Revolução” teve tudo pra dar certo: um bom elenco, uma direção invejável de Reynaldo Boury, cenários e figurinos que revelam boa pesquisa e estudo prévio, uma boa trama, um bom horário e uma emissora decidida em investir. Mas tudo isso não foi capaz de encobrir uma história mal contada. Primeiro pelo fato de não se tratar de total ficção - na sua essência - segundo por que mexe com uma parte dolorosa de nosso passado, que ainda não cicatrizou totalmente e terceiro é o fato da ditadura estar sendo contada por alguém que não a viveu, o que torna tudo mais delicado.
Tiago Santiago investiu tanto em clichês, que os atores ficaram impedidos de mostrar naturalidade em cena, naturalidade que é extremamente necessária em novelas do tipo. As cenas se mostraram forçadas e infantis já que o autor pensou que era professor e seus alunos (leia-se telespectadores) crianças de ensino fundamental nível 1; a cena que melhor provou isso foi quando Maria Paixão salvou um cachorrinho num incêndio no prédio da UNE, logo no primeiro capítulo. Cena digna de uma heroína. Mas o detalhe é que numa história de vida real, não existem heróis nem vilões e sim pessoas, humanos, dignas de erros e mortais. Querer mostrar mocinhas e bruxas significa ser imparcial, e é aí que mora o perigo.
Tudo isso sem falar dos erros grosseiros que o autor cometeu no que se diz respeito ao que realmente aconteceu nos anos de regime militar. Torturas no hospital do exército do Rio nunca existiram, oficiais do exército jamais se infiltraram nos movimentos estudantis, principalmente no dia da revolução, pois esse não era o perfil da força armada. Também não existe nenhum relato de que oficiais tenham determinado o sequestro de crianças filhos de presos, para entregá-las à outras famílias. A novela citou Costa e Silva, que naquela época em nada mandava, o poder era de Castelo Branco, primeiro presidente em 1964. Outra invenção de Santiago foi em relação aos centros de tortura que, diferentemente do que foi mostrado na novela, só foram criados em 1969.
O SBT poderia ter errado em tudo, na parte técnica, dramatização, roteiro e arte. Porem não tinha o direito de assassinar a verdadeira história do país.
Um outro detalhe que irritou o telespectador foi a constante troca de horário, uma estratégia desrespeitosa e idiota feita pela direção da emissora. Por quase dois meses as chamadas anunciavam para as 22h15 o folhetim, e nas primeiras semanas foram dezenas de horários diferentes. Isso, claro, se repetiu no Ibope, que caiu drasticamente em relação ao primeiro capítulo. Não é raro ver a Band e a Rede TV! se aproximarem da emissora de Silvio Santos no horário em que “Amor e Revolução” é exibida.
Resumindo: com um show da parte técnica, comentários excelentes no final da novela, fotografias beirando a perfeição, erros risíveis de registros históricos, instabilidade no horário, recordes de clichês e mais incontáveis outros erros, “Amor e Revolução” fecha com saldo negativo nesse seu começo.
Um saldo negativo que pode custar caro no futuro.
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