Com uma estrutura de 150 profissionais, mais frutas e legumes que
somavam R$ 10 mil, a Record montou ontem de manhã uma feira livre na
Ceagesp, um gigantesco entreposto de alimentos e flores na zona oeste de
São Paulo.
Lá, foi gravada a segunda cena do primeiro capítulo da novela Dona Xepa,
a estrear em maio, justamente a que apresenta a feirante Xepa (Angela
Leal) e sua rival de comércio, Matilda (Bia Montez), no local em que
elas abastecem suas barracas.
Como numa síntese do drama e do humor da personagem central, a cena
termina em barraco. Xepa e Matilda quase se agridem por causa de maçãs.
Faroeste mudo
"Estou criando um zigue-zague", diz Zettel para Angela, Bia e
Alessandra Loyola, mostrando o espaço dentro da feira livre cenográfica
em que elas irão se movimentar. Ele não quer "contato físico" nem
exagero no gestual no momento do confronto entre Xepa e Matilda.
Rápida, Bia Montez se antecipa à intenção do diretor.
"O início não é uma coisa de faroeste americano?", pergunta.
Já Angela quer saber se o diretor prefere Xepa cínica ou mais
desafiadora ao encontrar Matilda. "Não. É quase Sergio Leone", responde
Zettel.
A resposta remete à clássica introdução do faroeste Era Uma Vez no Oeste
(1968), em que o diretor italiano Sergio Leone cria uma atmosfera de
alta tensão baseada nos olhares dos gângsteres que tomam uma estação de
trem e nos detalhes que os cercam (uma mosca, goteiras).
Sem trilha sonora e quase sem falas, alternando planos abertos com
planos superfechados nos olhos dos personagens, são quase 13 minutos até
um rápido tiroteio.
"É uma pra cima da outra", explica o diretor, encenando um lento
movimento. "Só no olhar, né?", pergunta Bia, enquanto Angela ensaia uma
expressão desafiadora com os olhos.
"É isso aí", aprova Zettel.
Bom humor
A protagonista Angela Leal esbanjou simpatia, espalhando bom humor pelo set.
Deu inúmeras entrevistas, posou para fotos, conversou com
frequentadores do local, mandou beijinhos para fotógrafos, achou graça
do texto de Gustavo Reiz, fez piadas com os colegas.
Ela não pensou duas vezes antes de interromper uma orientação do
diretor com um comentário sobre uma peça da roupa de um operador de
câmera, uma bermuda do Flamengo: "Que beleza de short, hein?".
Antes de começar o ensaio, fez uma rápida e silenciosa prece. E
executou o diálogo da cena quase uma dezena de vezes, em diferentes
tomadas de câmeras, com um sotaque paulistano italianado. Que ela
aprendeu pelo YouTube.
Sotaque pela internet
"No Carnaval, eu me enfiei na internet. Ouvi Myriam Muniz [atriz
paulistana, 1931-2004], estudei a história da Mooca, a história do Brás
[bairros da zona leste de São Paulo onde a trama de Dona Xepa se ambienta]", contou.
"Tenho muito orgulho de fazer essa personagem do povo, essa mulher
brasileira", discursou Angela, que guarda fotografias da primeira
encenação da peça que empresta seu nome à novela, em 1952, no teatro
Rival, no Rio de Janeiro.
"É a história da mãe que se sacrifica pelos filhos, os filhos crescem
e sobem e têm vergonha de ter vergonha dela", conta. "Ela sofre, mas
tem humor".
A nova versão de Dona Xepa se passa em São Paulo por uma estratégia da Record, segundo o diretor Zettel.
Mas quase toda a novela será gravada no Rio, onde está sendo
reconstruída uma típica vila paulistana. As gravações em SP vão até
domingo. Além da Ceagesp, serão captadas cenas na rua Oscar Freire, no
Pacaembu e no viaduto do Chá.
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