sábado, 14 de dezembro de 2013

Lauro César Muniz conta bastidores da Record e fala em sabotagem; confira


Após anunciar que o seu contrato não será renovado no fim deste ano, Lauro César Muniz, de 75 anos, resolveu comentar sobre o seu trabalho na Record e fala em “sabotagem” na época de “Máscaras”. Confira mais detalhes do depoimento dado ao jornalista Daniel Castro, do site “Notícias da TV”.

Já sobre a Globo, afirma que também houve uma briga com Jayme Monjardim, diretor-geral de “Aquarela do Brasil” (2000). “Ele mexia demais no texto e na edição, achava que o ritmo não estava adequado. Os atores reclamavam. Fui aguentando, até certo ponto. Fiz um comentário e não gostaram.”

Depois de ficar quatro anos sem produzir nada na emissora carioca, Lauro recebeu um convite da Record, que foi sugerido por Tiago Santiago. “Isso foi antes de eu ter problemas com o Tiago. Como supervisor de teledramaturgia, ele queria uma impor uma linguagem. É difícil impor algo para um autor experiente como eu. Ele queria coisas mais esquemáticas, mais maniqueístas. Eu não concordava.”

Em 2012, o fracasso de “Máscaras” chocou a Record. A história, a última de Lauro César Muniz no canal, era considerada confusa e muito sofisticada para o público. “Até hoje não entendo direito o que aconteceu. Houve um desentendimento total, um absurdo. Ignácio Coqueiro [diretor-geral] queria outra novela. Um dia, pouco antes da estreia, tive uma crise no RecNov, me tranquei no banheiro, vomitei muito. Eu pressentia o desastre.”

Outros problemas internos também atrapalharam o desenvolvimento de “Máscaras”. “Durante uma visita da produção ao navio, procurei pelo Ignácio longamente. Fui encontrá-lo isolado, muito angustiado. O cenário era muito ruim. Havia também a limitação das jornadas de trabalho das equipes técnicas. Uma novela que começa assim não pode ser consertada”, finaliza.

A falta de estratégia da Record é destacada pelo autor. “Antes de ‘Máscaras’, colocaram uma reprise de ‘Vidas Opostas’, uma trama ótima do Marcílio Moraes. Mas havia 14 atores comuns nas duas novelas. Isso foi desastroso. O público fazia piada com os atores. Eu recebia com três pontos [no Ibope]. Um erro elementar. Dois terços da novela foram exibidos depois das 23h30. Eu não sabia se era a última novela do dia ou a primeira do dia seguinte.”

Sobre os problemas com o texto, muito divulgados na época, Lauro avalia o próprio trabalho. “O texto era muito sofisticado, e nisso eu errei. Mas não era confusa, tanto assim que teve um enorme sucesso quando exibida em canais por assinatura na Europa. Em Portugal, alcançou o primeiro lugar de audiência”, relembra ele.

O autor também fala em sabotagem, mas diz que não tem como provar. “O fracasso provocou a queda do Hiran [Silveira] e mais adiante pesou indiretamente na substituição do [Honorilton] Gonçalves. Fui o último a cair. Sabotagem? Não tenho provas para falar nisso, mas parecia que o comitê artístico estava em choque com o RecNov. Quem viria nos escritórios em São Paulo, percebia isso. Eu comecei a me sentir o bode expiatório dentro de uma guerra de poder.”

A Record também desistiu da ideia de produzir uma minissérie sobre o maestro Carlos Gomes. Com a mudança da direção, o projeto foi rejeitado. “Depois de uma rápida conversa por telefone com o novo chefe da teledramaturgia, recebi uma informação: ‘A grade de 2014 e 20115, em teledramaturgia, está completa’. Então eu respondi: ‘Volto em 2016′. Na verdade, trata-se de uma questão financeira. Dois anos de meus ganhos é um valor alto demais para a empresa.”

Lauro também não esconde que sente um pouco de mágoa da emissora. “Nos nove anos em que trabalhei lá, eu me senti isolado.” O autor afirma que os diretores não entendem do assunto e que o canal não confia no setor. “O diálogo é difícil. As pessoas que cuidam da teledramaturgia se esforçam, mas não são do meio.”

Sobre a saída recente de vários atores da Record, Lauro é direto e critica a posição da emissora. “Não podiam perder atores e atrizes como o Gabriel Braga Nunes, Marcelo Serrado, Tuca Andrada, Miriam Freeland, Bianca Rinaldi. A última estrela da Record é a Paloma [Duarte]. Há bons atores, mas faltam grandes astros protagonistas.”

Tranquilo por estar no fim de contrato, Lauro vai “retomar a vida. Uma nova era.” 

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