sexta-feira, 17 de abril de 2009

Review: Força-Tarefa


A única conclusão possível após assistir a estreia de Força-Tarefa, o novo drama policial de rede Globo, é que o caminho da teledramaturgia brasileira até o domínio da fórmula dos seriados de TV será longo, árduo e penoso. Mas o caminho está sendo trilhado, inclusive pela Globo, e é isto que importa.

Em seu episódio piloto, Força-Tarefa apresentou algumas ideias muito interessantes e também vários erros de execução.

A maior das boas ideias é sua premissa: fazer uma série sobre a Corregedoria da Polícia Militar. É uma ideia que cai bem com o momento da segurança pública no Rio de Janeiro e mesmo no Brasil, onde a força policial inspira medo e está associada ao crime. E também que protege o seriado das inevitáveis comparações com os seriados americanos – lá, a “internal affairs” ainda é a antagonista das histórias policiais, e eu realmente não me recordo de nenhum seriado, não que tenha feito sucesso, que mostrasse policiais do órgão no centro da ação.

E não sei se foi proposital, mas a ideia de Força-Tarefa também protege a Globo de algumas problemas – mascara o problema do maniqueísmo do seriados policiais, evita polêmicas com a corporação e, especialmente, minimiza eventuais debates sobre violência e segurança pública, que geraram muita publicidade mas também ruído para o filme Tropa de Elite.

Foi também uma boa sacada dos roteiristas Marçal Aquino e Fernando Bonassi imaginar um grande elenco – o núcleo policial tem Murilo Benício, Milton Gonçalves, Hermylla Guedes, Rodrigo Einsfeld, Juliano Cazarre, Henrique Neves e Osvaldo Barauna. A série funcionaria com menos gente, mas isto é sinal de que eles estão pensando no seriado para frente e com isto tem uma gama de personagens para desenvolver. Também não faço ideia se a Corregedoria trabalha daquele jeito, equipes grandes reunidas em uma sala de reuniões, mas conceitualmente funcionou muito bem. Estas cenas do briefing da equipe foram as melhores do episódio (mas se eu estivesse lá eu não tomaria café num copinho, eu usaria direto um canecão!).

O último elogio ao roteiro é a sacada de colocar o protagonista, o Tenente Wilson (Benício), dialogando com o policial-defunto Jonas (Rogério Trindade). Curiosamente, este mesmo recurso narrativo está sendo usado atualmente em outras duas séries da TV americana, que são Grey’s Anatomy e Fringe, irritando muita gente. Mas aqui ele funciona perfeitamente. Wilson me parece um homem de intelecto limitado (ora bolas, ele é um policial, e ainda por cima honesto!) e o roteiro precisava criar uma forma do personagem expressar seus sentimentos, sem que fosse dialogando com a namorada (Fabíula Nascimento) ou algum parceiro. As alternativas (ele narrando em off, ou se consultando com um terapeuta) não teriam um resultado tão bom como este.

Quais os problemas da série? Do ponto de vista do roteiro, o desapontamento é que a primeira história, o primeiro caso da série, tenha sido tão simplório. É um problema comum também na série brasileira 9mm: São Paulo: a dificuldade do roteiro de encaixar uma história mais sofisticada, ou de ao menos fazer a história parecer mais sofisticada, em um curto período de tempo.

A verdade é que os grandes problemas de Força-Tarefa não estão no texto. Estão no resto. A direção de arte foi exagerada, criando imagens belíssimas (a cena de abertura no lixão é boa) e outras estúpidas (os motociclistas largando as motos e correndo em direção ao helicóptero, a mulher do policial corrupto assistindo TV sentada num engradado e depois dormindo sobre uma mesa na casa vazia).

A direção dos atores poderia ser melhor (algumas falas ainda não soam naturais). E o pior foi a cena final, má dirigida e má editada, tornando a cena final, da morte do policial corrupto, previsível e sem emoção. A trilha sonora é confusa (misturando música brega e aquela trilha sonora incidental óbvia e irritante de novela das oito); E, falando em trilha, uma versão de “Polícia” dos Titãs, sério? Foi o melhor que eles puderam pensar pra uma música-tema? Me senti assistindo a um daqueles vídeos toscos, que fazíamos na faculdade de comunicação, há uma década atrás. A trilha coroa uma abertura veloz, que não combina com o ritmo do programa, e que termina com uma logomarca da série que também não combina com o programa.

Força-Tarefa ainda está longe do que buscamos em termos de excelência no gênero para a TV brasileira. Mas é um começo. E é bem provável que faça sucesso, como quase tudo que a Globo faz. Para milhões de brasileiros, Toma Lá Dá Cá é uma comédia engraçada e Prison Break começou em fevereiro e é o melhor seriado de TV de todos os tempos. Mal sabem eles…

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