sexta-feira, 9 de abril de 2010
“A Vida Alheia” faz retrato arrasador do jornalismo de celebridades
A continuar no ritmo que exibiu no primeiro episódio, “A Vida Alheia” promete ser uma das boas novidades da programação da Globo em 2010. O seriado criado por Miguel Falabella gira em torno de uma revista especializada em fofocas, cuja proprietária, Catarina Faissol (Marília Pêra), e sua editora-chefe, Alberta Peçanha (Claudia Gimenez), são absolutamente cínicas e inescrupulosas.
O episódio de estreia girou em torno da descoberta que o filho de uma famosa celebridade, casada com um banqueiro, é na verdade fruto de uma relação extraconjugal dela com um modelo. Só que, no lugar de estampar a capa da revista “A Vida Alheia”, a notícia é engavetada em troca de um contrato de publicidade assinado pelo banqueiro com a publicação.
Alberta Peçanha, vulgo Peçonha, é a personagem para quem Falabella canaliza os maiores venenos. Ela ordena a uma repórter iniciante que recolha declarações negativas sobre determinada celebridade e, diante do fracasso da jovem, inventa ela própria a frase que aparecerá na revista. Mente para outra celebridade, para conseguir fazer uma capa. Trata mal os seus subordinados – “Veja se você justifica o excelente salário que você não ganha”, diz para a ambiciosa Manuela (Daniela Winitts).
Já Catarina é uma socialite que herdou a revista do pai, mas adora o poder que a publicação lhe proporciona. Ao chegar à redação deixa que uma secretária carregue a sua bolsa. Casada por conveniência com Júlio (Carlos Gregório), não se separa para não pagar pensão ao marido. Transmite fofocas pesadas da sociedade para Alberta, mas quando uma amiga, Isa (Tereza Rachel), reclama da perseguição que está sofrendo, lamenta: “Não sou eu que edito a revista”.
Falabella colocou o dedo na ferida e apertou, mas ainda falta mostrar como as celebridades – entre as quais, os atores globais – usam e abusam dos jornalistas e das revistas. Como se sabe, há uma relação pouco profissional de troca neste mercado. Boa parte das capas com “flagrantes” são combinadas – os famosos topam aparecer em troca de reportagens elogiosas e fotos retocadas com generosidade.
Também falta mostrar o papel das relações públicas, dos assessores de imprensa e dos produtores de eventos que gravitam em torno do mundo do jornalismo de celebridades, alimentando sites e revistas do gênero em troca de favores para os seus clientes.
Escrito com a colaboração de Antonia Pellegrino, Carlos Lombardi e Flávio Marinho, o texto de “A Vida Alheia”, se prosseguir na mesma temperatura do primeiro episódio, tem a chance de expor ao grande público, que consome este noticiário, o lado B de um dos ramos mais polêmicos do jornalismo.
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