quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Em cena desde a primeira transmissão de TV no país, há 60 anos, Lima Duarte não cogita parar


Lima Duarte conhece os bastidores da televisão com a propriedade de quem estava no grupo escalado para aguardar, no porto de Santos, em São Paulo, a chegada dos primeiros receptores. O ano era 1950, e o proprietário dos Diários Associados, Assis Chateaubriand, colocaria no ar, há exatos 60 anos, a primeira emissora de TV do Brasil, a Tupi.
 
- Eu não fui para a televisão. Ela é que veio a mim. 

Mineiro e bom contador de causos, durante conversa com o GLOBO, Lima (na identidade, Ariclenes Venâncio Martins, nascido em Nossa Senhora da Purificação do Desemboque e do Sagrado Sacramento, em 1930) pede permissão para voltar um pouco no tempo nessa história. Quando a TV o encontrou, ele já era, havia quatro anos, funcionário da rádio Tupi, onde começou na sonoplastia. Foi parar lá, depois de ser expulso de casa, aos 16 anos, pelo pai, que disse que não ia sustentar "um homão desse tamanho". Sem alternativa, pegou a estrada, escondido entre mangas dentro de um caminhão, que só parou em São Paulo. Para sobreviver, descarregava frutas e passou as primeiras noites dormindo debaixo da carroceria.

- Até que um moleque de rua como eu perguntou se eu não queria conhecer a zona. Entrei na casa de uma judia francesa, chamada Madame Paulette. Devo ter sido uma maravilha para ela, porque me empregou e me deixou morando na sua casa - conta ele, que só via uma maneira de provar ao pai que tinha dado certo na vida: conseguir emprego numa rádio.

O veterano foi levado por Paulette à Tupi para fazer o seu primeiro teste e ouviu um sonoro "não".

- O locutor disse que eu tinha "voz de sovaco" e só fiquei porque o operador de som, me vendo ir embora, com aquela meio mãe, meio puta, ficou com dó e perguntou se eu não queria trabalhar com ele. Assim, tudo começou.

Com mais de 30 folhetins (ele foi o primeiro bandido da TV, em "Sua vida me pertence", de 1951) e muitos pares românticos no currículo, o ator diz que já confundiu os sentimentos.

- Numa novela, você passa meses dizendo para a mesma mulher que a ama e o público te empurra para esse amor - diz.

Sair de cena é uma ação que não está prevista no roteiro. Bastou um encontro com Walther Negrão numa cantina italiana para aceitar o papel de Max, em "Araguaia", próxima trama das 18h da TV Globo.

Tanta dedicação é o que Lima não enxerga em muitos da nova geração de atores.

- Alguns são muito mal preparados. Eles deviam aprender a falar, ler capítulos inteiros em voz alta. Isso me aflige. Eu vejo as grandes cenas como grandes sinfonias. Eles, não. Saem daqui, botam a roupa de surfe e vão embora. Não entendem a responsabilidade de viver um ser humano - diz. - Eu não quero dar autógrafo para ninguém. Eu quero que as pessoas se ajoelhem aos meus pés e pensem: "Meu Deus, que personagem!"

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