domingo, 2 de janeiro de 2011

Minissérie 'Amor em 4 atos' leva a obra de Chico Buarque e seu universo feminino para a TV


Versos que fazem parte da História da música popular brasileira e, mais ainda, da memória afetiva de muita gente: "Amor em 4 atos", microssérie que estreia no dia 11, na TV Globo, transpõe para a linguagem televisiva clássicos da obra de Chico Buarque. Parte de um projeto do produtor Rodrigo Teixeira, que adquiriu os direitos de dez canções do compositor, os quatro episódios são inspirados em cinco músicas: "Mil perdões", "Ela faz cinema", "Construção", "Folhetim" e "As vitrines". O universo feminino, tão presente em todas as letras, será representado por atrizes como Alinne Moraes, Marjorie Estiano, Carolina Ferraz, Camila Morgado e Gisele Fróes.

Com direção-geral de Roberto Talma e episódios dirigidos por ele, Tande Bressane, Tadeu Jungle e Bruno Barreto, "Amor em 4 atos" será exibida de terça a sexta-feira, logo após o "Big Brother Brasil 11". A princípio, diz o diretor, há o interesse em transformar outras obras musicais em dramaturgia.

- Acho que vale para os bons autores: Caetano Veloso, Gilberto Gil, Tom Jobim, Roberto Carlos, Lupicínio Rodrigues... Acho e gostaríamos de fazer outros - afirma Talma, empolgado: - No fundo são coisas que falam de amor. Conseguimos contar a história sem sermos óbvios e, sim, apaixonados.

Paixão que transparece nos episódios. O da estreia, "Meu único defeito foi não saber te amar", baseado em "Mil perdões", traz Dalton Vigh e Carolina Ferraz como Lauro e Maria, um casal em crise por conta dos ciúmes dela em relação à ex do marido, Dora (Gisele Fróes). Numa festa, Dora aparece ao lado de Fernando (Dudu Azevedo). É o que basta para colocar o casamento em xeque, em meio a uma avalanche de sentimentos.

- Antes do desafio, o prazer de transpor para dramaturgia as músicas do Chico foi o que mais encantou a todos nós que participamos do projeto. A poesia do Chico é próxima de todos nós e faz com que o embalo das palavras nos envolva sempre - completa o diretor-geral.

Marjorie Estiano, que depois da marcante Tônia de "Caminho das Índias", de 2009, fez apenas uma participação na série "S.O.S. Emergência" no ano passado, volta agora em "Amor em 4 atos". A atriz e cantora, fã de Chico Buarque - já gravou uma canção dele, "Até o fim" -, vai viver a cineasta Letícia em "Ela faz cinema", no segundo episódio. Na história, ela tenta finalizar seu primeiro videoclipe quando uma obra no andar de cima a faz encontrar Antônio (Malvino Salvador). Além da canção-título, a intensa "Construção" serve de base para a ação.

- "Ela faz cinema" é uma comédia romântica. A densidade fica em cima da letra de Chico. Letícia é uma cineasta que está fazendo um clipe de "Construção" com Arnaldo Antunes. Ela se incomoda com o barulho da obra, reclama e se envolve com o vizinho. Na verdade, ele é o pedreiro - adianta Marjorie, que se diz incapaz de escolher uma só música como preferida: - Chico tem um material muito rico, que dá margem para muitas outras microsséries, séries, novelas... Cada música dele daria até um longa.

Para Roberto Talma, o time feminino da atração serve de espelho para todas as mulheres retratadas em tantas músicas:

- A intimidade que as mulheres do Chico têm com as brasileiras só faz com que nossas atrizes tenham longo conhecimento do que significa uma musa do poeta. Elas foram brilhantes.

Estrela dos dois últimos episódios, "Folhetim" e "Vitrines", baseados em duas das mais conhecidas canções de Chico Buarque, Alinne Moraes conta que hoje enxerga os versos "Se acaso me quiseres, sou dessas mulheres que só dizem sim" de outra forma. Para ela, que encarna a prostituta Vera na trama, essa é uma forma de aceitar o que está por vir em sua vida e em sua carreira.

- Disse para o Bruno (Barreto, o diretor): "Acabei de fazer uma Cinderela de cadeira de rodas" (a personagem Luciana, na novela "Viver a vida"). E Vera é uma espécie de bonequinha de luxo da Rua Augusta. Tenho traços fortes, sempre trabalhei com beleza, teria que ser algo mais real. Deixei as olheiras: ela trabalha na noite, seria mais crível. Se fosse a Alinne antes da personagem, alguém poderia perguntar "Por que essa menina está na Augusta?" - explica a atriz: - Vera tem uma tristeza, uma coisa contida no olhar.

Nos episódios - que tiveram o famoso edifício Copan como um de seus cenários - o casamento de Ary (Vladimir Brichta) e Selma (Camila Morgado) está nas últimas. Um dia, depois de uma briga, ele sai vagando pelas ruas de São Paulo. É quando conhece Vera, com quem passa a noite, sem saber de seu ofício. Apaixonado, volta para casa, encontra apenas um bilhete da mulher e decide buscar outro lugar para morar. É assim que vai parar no Copan, onde a prostituta também vive.

- Vera é uma prostituta da Rua Augusta, mais profunda. Tem uma história mal resolvida com o ex-marido e, por isso, começa a se castigar. Ela não acredita mais nos homens e usa a prostituição para fugir dos próprios problemas; é amargurada, desiludida, vive o aqui e agora e não se envolve porque não quer sofrer - diz Alinne.

Produtor da microssérie, Rodrigo Teixeira conta que a condição para adaptar as canções para a TV e para o cinema - "Olhos nos olhos" virou o filme "Eclipse de Violeta", dirigido por Karim Ainouz - era que todas as músicas fossem exclusivamente de autoria de Chico. As outras cinco canções, cujos direitos foram adquiridos, são para livros.

- Em "Amor em 4 atos" temos três histórias de amor, cada uma com um caminho diferente. E cada diretor tem um jeito particular de lidar com o conteúdo - avalia.

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