sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

"Passione" termina com uma história boa mal contada e uma Mariana Ximenes estupenda


Quando estreou em maio com a árdua missão de substituir a sonolenta “Viver a Vida” de Manoel Carlos, “Passione” demonstrara em suas chamadas que seria um bom aperitivo para os desenganados fãs das novelas das “oito”, com o tempo essa subversão foi se alterando e a antipatia florescente da antecessora acabou por impregnar a trama italiana.

Com um enredo entrelaçado entre Brasil e Itália, a saga de Totó e Cia se arrastou durante seus primeiros 40 capítulos, período em que o núcleo italiano vivia em seu país de origem. Mesmo com a morte de Eugênio Gouveia, a trama não conseguiu prender o público que regressara à procura de algo animador. Com exceção do núcleo de humor que segurou bem a peteca durante os dois primeiros meses, a trama em si manteve-se fraca. Com a vinda dos italianos as coisas começavam a fluir de forma frenética, até o assassinato de Saulo a trama parecia ter entrado nos trilhos, mas logo depois veio a frustração. Com a morte do personagem de Werner Schunemann, Silvio de Abreu demonstrava perder a mão mais uma vez.

Situações fora do comum chamavam a atenção. Como que Stela poderia pegar o sobrinho (Agnelo) do seu marido corno (Saulo), sendo que ele com o tempo se envolveria com a própria prima (Lorena)? Ou o bígamo Berilo que se relacionou com a filha de Totó que porventura era filho de seu sogro (Olavo), pai de sua mulher brasileira (Jéssica), que viria ser tia de Agostina? Ou Danilo que ficou com Clara, que por sua vez se casou com Totó, que por conseqüência era tio do ciclista que também pegou a Fátima que é filha de seu tio Gerson que com o tempo se relacionaria com seu irmão Sinval? Ou o próprio Gerson que foi abusado pela “velha porca” Valentina que é avó de Clara que cuidou de seu pai Eugênio até a morte? Numa São Paulo de contrastes absurdos, imaginar esse novelo se desenvolver é quase surreal.

Mariana Ximenes teve em suas mãos a chance de provar, definitivamente, que é uma grande atriz. A intérprete da esquifoza Clara engoliu o resto do elenco numa construção brilhante de uma vagaba que fingia ser boa, depois se redimia, depois voltava a aprontar, enganando vários personagens e telespectadores que acabaram dando um voto de confiança na moça. Nota mil para Mariana, grande e talentosa atriz. Falar de “Passione” e não citar os monstros sagrados é um despautério: Fernanda Montenegro, Aracy Balabanian, Leonardo Villar, Cleyde Yáconis, Irene Ravache, Francisco Cuoco, Flávio Migliaccio, Vera Holtz, Tony Ramos, Daisy Lúcidi, Emiliano Queiroz, Elias Gleiser deram um show à parte somado a um elenco jovem que deu conta do recado: Cauã Reymond, Reinaldo Gianecchini, Marcelo Antony, Leandra Leal, Gabriela Duarte, Bruno Gagliasso, Mayana Moura, Alexandra Richter, Débora Duboc, Simone Gutierrez, Andrea Bassit, Daniel Boaventura, Marcelo Médici e Larissa Maciel não fizeram feio. Alguns canastrões, os que não foram citados, destoaram durante quase toda a trama, era insuportável ver cenas com certos atores.

De positivo fica o núcleo de humor da trama, as cenas de Candê com o Filho Fred, Valentina e Clara, Bete Gouveia, Totó e Gemma, a abordagem das drogas e da exploração de menores. De negativo fica a interpretação chocha de Maitê Proença, Carolina Dieckmann, Rodrigo Lombardi e Werner Schünemann, o segredo tonto do Gerson, a falta de ritmo em boa parte da trama, as histórias arrastadas e uma família Gouveia chata.

Segundo dados prévios do IBOPE, “Passione” tem média geral de 35,1 na Grande São Paulo, a menor média do horário até então, dificilmente irá superar “Viver a Vida” (35,8). Nas duas últimas semanas deu uma guinada, chegando a atingir 54 pontos de média, mesmo assim ficará longe da meta.

“Passione” tinha tudo para ser sucesso, contava com um dos melhores autores deste país, um elenco nunca antes reunido, bons chamativos e temas polêmicos, mas faltou uma pitada de inovação alinhada a uma forma mais ágil de mostrar os fatos sem frustrar os telespectadores, como ocorreu várias vezes. Silvio de Abreu bem que tentou, mas errou no segredo de Gerson, na construção da mocinha Diana, nos embates entre a família rica e deixou de lado alguns monstros sagrados como Vera Holtz e Aracy Balabanian que mereciam um pouco mais de destaque. Sai de cena com a pior média do horário, com a sensação de missão não cumprida e certeza que não fará tanta falta assim. No geral merece uma nota 6. “Passione” termina com uma história boa mal contada, uma pena.

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