
No  ar há apenas duas semanas, “A vida da gente” já parece ter superado um  de seus principais desafios: prender o espectador depois de um sucesso  como “Cordel encantado”. A história de Duca Rachid e Thelma Guedes  encantou o público com sua originalidade (entre inúmeras outras  virtudes). Agora, Lícia Manzo, autora da atual produção das 18h, parece  ter se dado bem com sua história realista. Os índices de audiência da  última semana foram ascendentes (24 de média na segunda, 25, o recorde,  na terça). 
A primeira razão do êxito, claro, é porque Lícia criou uma história bem amarrada. A segunda é que o novelão tradicional, desde que de boa qualidade, continua agradando. Vale lembrar ainda que a plateia dessa faixa, pesquisas atestam, é majoritariamente de mulheres adeptas dos enredos românticos. A impressão de que o espectador, depois de provar da mistura de Seráfia com o sertão, rejeitaria uma trama mais convencional era, portanto, equivocada.
Ingênua o bastante para  ter a cara do horário, “A vida da gente” também discute temas pesados,  como a maternidade precoce e as relações tirânicas intrafamiliares. Há  duas personagens especialmente promissoras — e defendidas por atrizes de  talento. Uma é Vitória (Gisele Fróes), treinadora devotada à causa do  esporte, mesmo que por ela tenha que pagar qualquer preço. A outra é Eva  (Ana Beatriz Nogueira), uma mãe com desvios de caráter, mas convicta de  estar sempre fazendo o melhor por sua família.
Na semana passada,  Eva solucionou o impasse que se apresentou com a gravidez inesperada da  tenista (Ana/Fernanda Vasconcellos) com uma decisão duvidosa: registrou  a neta recém-nascida como filha. As trivialidades em “A vida da gente”,  às vezes, ganham um tom de filme de horror. Foi assim na cena em que  Eva surpreendeu Ana com seu bebê no meio da noite. Tomou a criança dos  braços da filha atleta e a despachou para a cama, para descansar. Em  seguida, começou a ninar a menina ao som de “Boi da cara preta”. Além de  suas atitudes arrepiantes, as falas de Eva apontam para um certo  desequilíbrio que indica que “A vida da gente” não é tão caretinha como  parece à primeira vista.
 
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