quarta-feira, 31 de outubro de 2012

(fdp) – 1×02/03: A Mãe/Entre a Chuteira e a Sapatilha


¡És un ladrón!

Spoilers Abaixo:

Após uma boa estreia, as expectativas para os episódios seguintes de (fdp) estavam bem altas. Felizmente, a série vem mostrando que é uma bola dentro da HBO Brasil (depois da enfadonha Preamar). Seja aprofundando o lado pessoal da vida do juiz boa pinta (em “A Mãe”), ou o lado profissional (em “Entre a Chuteira e a Sapatilha”), a produção segue cumprindo seu papel, apostando em um humor bem feito, divertido e politicamente incorreto.
 
1×02: A Mãe
¡Hijo de puta! O segundo episódio de (fdp) também termina com a expressão que dá nome à série. Só que dessa vez em espanhol, dada a introdução de mais um personagem: Bartolomeu Guzman, o “namorado/amante/parceiro sexual” argentino da mãe de Juarez. Ô dona Rosali, tinha que ser um argentino? E Guzman cumpre exatamente o seu papel: ser um argentino canastrão. A cena em que ele conhece o árbitro, com o velho pelado abrindo a porta da geladeira, é um trauma para toda a vida! Entendo totalmente Juarez agindo como menino birrento, virando a cara pro “novo pai” (e depois de ter “ouvido” toda a movimentação no quarto ao lado – sabe como é, depois que inventaram o Viagra…). Pobre Juarez!
 
Tal encontro se deu pelo fato de o árbitro ter que voltar para casa por falta de dinheiro (devo considerar que acho um absurdo botar a culpa no advogado – só cobramos o justo e necessário para uma representação de qualidade!). Muito além da humilhação imbuída na situação, o pior é ter que, além de aturar o autoproclamado padrasto argentino, lidar com dona Rosali, que se mostrou ácida como um abacaxi (filtro entre o cérebro e a boca passou foi longe). Como essa mulher solta pérola! Não basta mandar o filho para o quarto de costura, tem que frisar que ele não é tão bem vindo ali.
 
Além dos problemas da “velha nova casa”, em geral o segundo episódio de (fdp) foi muito bom, corrigindo alguns problemas que observei no episódio piloto. Naquela ocasião, embora tenha gostado bastante da estreia, tinha ficado com uma impressão de amadorismo: os atores não pareciam tão confortáveis e a direção deu algumas escapadas. Contudo, neste episódio, tudo pareceu mais acertado, e as personificações estavam mais confortáveis e realistas. Tanto que, quando me dei conta, o episódio já tinha acabado.
 
Em um roteiro bem feito, me agradaram as observações sobre a paixão brasileira pelo futebol: os torcedores que xingam só por que o juiz favoreceu time rival, sem se importar com a realidade; os clichês da cobertura esportiva (“um amistoso com clima de decisão!”); as propagandas invasivas no meio do jogo; a torcida violenta, e por aí vai. É importante notar, também, como são bons os coadjuvantes. Os bandeirinhas continuam ótimos alívios cômicos, em especial Caravalhosa. Um amor de pessoa, ele sempre tem um comentário fdp para fazer. O que não me convenceu ainda foi o draminha da ex-esposa Manu (desculpa, eu olho pra ela, mas só vejo a “me serve vadia” da novela das 8). Meio que foi um repeteco do piloto (“ah, você me transmitiu sífilis, e agora estou com raiva eterna de você e por isso não pode ver meu filho nunca mais”). Porém, compreendo que o enredo é necessário. Só tem que evoluir, nada de ficar no mesmo draminha de sempre, ok?
 
Ainda, pode parecer picuinha minha, mas uma coisa me incomoda: a partida de futebol em si. Como no episódio anterior, ficou artificial demais. O espectador pôde perceber que a partida não ocorria de verdade (e não é função da mágica linguagem televisa nos fazer crer no que não aconteceu?). Por exemplo, a arquibancada que mostrava a torcida era sempre a mesma. Pior, os barulhos da torcida eram plásticos (como nas laughtracks das sitcoms): às vezes a torcida aparecia calma, mas o som era de uma multidão em polvorosa. As jogadas eram as mesmas poucas ensaiadas, repetidas. É um pequeno detalhe, que não interfere tanto no resultado final – mas que certamente deveria ser levado em conta.
 
Por fim, quanto ao jogo da semana, mais uma vez Juarez teve que enfrentar um interessante dilema ético. Se no primeiro episódio foi confirmada toda a hombridade do árbitro, dessa vez os roteiristas acertaram em nos deixar na dúvida: será que Juarez apitou novamente um pênalti aos quarenta e tantos minutos do segundo tempo só para “se vingar” do padrasto que torcia pelo time argentino? Pelas imagens que foram mostradas, tenho minhas dúvidas, mas me inclino a achar que o orgulho ferido de ver a mãe se enroscando com o velho falou mais alto. Recebo muito bem tal conclusão, para tirar aquela aura idealista e pouco realista que poderia se criar em torno de um juiz-que-nunca-comete-injustiças.
 
1×03: Entre a Chuteira e a Sapatilha
O terceiro episódio de (fdp) veio para nos mostrar como é difícil ser árbitro de futebol. Ser xingado eternamente e correr risco de ser linchado após a partida, não é pra qualquer um. Nesse caso, apitar o jogo Siete Cruces x Punta Del Este traz consigo uma grande pressão, por ocorrer o jogo na casa do time uruguaio. E o episódio ilustrou muito bem a situação, ao mostrar a reação da torcida – jogando garrafas e latinhas logo no início do jogo – e do comentarista uruguaio (que soltou a frase que abre esta review). Pressão esta que se repete a cada jogo, e aumenta conforme a importância do campeonato – no caso a Libertadores. Assim como no episódio piloto, o juiz não se deixou abater e, pelo que foi mostrado, apitou a partida como deveria – mesmo que isso signifique enfurecer a torcida do estádio onde você está.
 
E, ainda que com alguma dose de artificialidade, a partida da Libertadores foi bem mais convincente do que as anteriores – aleluia! Contudo, está começando a ficar repetitivo e fora da realidade o fato de que, em todos os jogos, algo só acontece após os 40 minutos do segundo tempo. Nesse caso foi a não marcação de um pênalti e a anulação de um gol do time da casa – tudo a poucos minutos do fim do jogo. Por enquanto, relevemos para dar mais emoção ao episódio, mas uma hora isso tem que mudar. O ponto positivo foi que, dessa vez, chamaram mais figurantes, e a cena da corrida tresloucada do trio de arbitragem para salvar suas vidas foi bem verossímil (e hilária) – dava pra ver o desespero na cara dos coitados! Quem salvou o dia foi Serjão, faixa preta em taekwondo – falemos disso.
 
Tenho que dizer que achei uma sacanagem o site oficial da HBO denotar a homossexualidade do personagem antes mesmo de os episódios começarem (fica a dica: permaneça longe daquele site, que tem informações demais sobre o enredo de episódios futuros). Como já sabia disso, a revelação deste episódio não me pegou de surpresa, já esperava desde o piloto que algo do gênero fosse ocorrer. Ainda assim, achei bem pertinente a série abordar o tema, até por que, depois de sair do armário para o amigo Juarez (bem enfaticamente, até!), o personagem melhorou muito: bem resolvido e sem dramas, Serjão se dedica a fazer piadinhas canastras para o protagonista. Sobram piscadelas, insinuações de beijo e frases de duplo sentido, que, claro, deixam o encabulado Juarez ainda mais desconcertado. Quero ver quando Carvalhosa descobrir, a zoação que não vai ser.
 
Por falar em homossexualidade, a parte do drama familiar essa semana foi um pouco mais divertida, com a história do filho querer uma sapatilha de ginástica artística só para conquistar uma menina. Juarez, mesmo sem querer admitir, estava travadinho, torcendo pelo filho querer voltar ao boxe. E nossa, como o juiz respirou aliviado ao ter certeza que Vinny gosta do sexo oposto. E daí se construiu o já tradicional “filho da puta” do fim desse episódio, desta vez enunciado, claro, por Serjão (e com toda razão!).
 
Quanto a história da ex-mulher, continua um porre. Ô criatura azia, boa de procurar algo para fazer! Além de abusar da paciência de Juarez, todo o romancinho com o advogado foi totalmente dispensável. Todo mundo já sabe que eles estão juntos, não precisava a cena do restaurante chique como se fosse o primeiro encontro.
 
Obviamente, o saldo é mais que positivo. Após os episódios, fiquei ainda mais contente com a série que, até agora, é a surpresa da fall season (esticando o termo para o Brasil), pois está ficando difícil achar uma comédia de qualidade. Há muito não me empolgava tanto com uma série do gênero, e já estou torcendo pelo trio de arbitragem – que consigam apitar a Copa do Mundo! E estarei lá para acompanhar, na primeira fila da arquibancada.
 
Observações:
- Imperdível mesmo é o programa do Neri Nelson, sempre com sua enxurrada de merchan. Tal e qual a cobertura esportiva de muitos canais. E não esqueça: “Preservativos UAU, ela vai te achar um animal!”
- O advogado Rui diz que a apelação movida por Juarez fora julgada improcedente, mas que a advogada do réu vai apelar. Mas de novo? Olha que assessoria jurídica é importante, Prodigo Filmes, sejamos verossímeis!
- Senti falta, no terceiro episódio, do casal na Rosali e Guzman! Nem sequer uma pérola de sabedoria deles neste capítulo. Absurdo!
Aprenda a ser sutil com (fdp):
- Juarez: “Vou ficar só até eu me acertar”
Rosali: “Da última vez levou 25 anos”.
———-
- Torcida: “Aê juiz cuzão, trouxe a mamãezinha também?”
Rosali: “Vai tomar no seu cu, seu viado!”
———-
- Arquibancada: “Viado!”
Serjão: “Preto é foda!”
———-
- Juarez, irônico: “Você escolhe bem as palavras, entende bem os problemas dos outros…”
Carvalhosa: “Cara, sou teu amigo, eu sirvo pra tomar cerveja. Quer colo? Liga pra mamãe!”
———-
- Rosali: “Hoje tô aqui, jantando sozinha”
Juarez: “E eu sou o que, um fantasma?”
Rosali: “Logo agora, que aprendi a chegar no orgasmo…”
———-
- Juarez, após o filho ir tentar a sorte com uma garota: “Esse menino, vai ser um comedor!”

Nenhum comentário: