quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Primeiras Impressões: Sessão de Terapia

 
Com direção de Selton Mello e roteiro adaptado de Jaqueline Vargas, “Sessão de Terapia” coloca o Brasil numa lista de países que realizaram suas próprias versões da aclamada série israelense Be Tipul, que já contém EUA, Argentina, Holanda, Canadá, Romênia, entre outros. Contudo, o que todo mundo realmente quer saber é se a nossa versão está fazendo jus à série. Nesse review, tentei resumir minhas impressões sobre a série após a exibição da sua primeira semana de episódios.
 
Spoiles Abaixo:

Ao longo da temporada brasileira, que contará com um total de 45 episódios, sendo estes exibidos de segunda a sexta, sendo um paciente a cada dia, entre segunda e quinta, e na sexta o próprio terapeuta se consultando com sua antiga supervisora, o público brasileiro poderá descobrir que um roteiro bem amarrado e um elenco em sintonia são mais que suficientes para fazer um produto televisivo de qualidade, sem precisar apelar a baixarias ou pirotecnias.
 
Admito que adaptar uma série de sucesso internacional não é um trabalho fácil, especialmente quando o diretor é relativamente novato na profissão. Mesmo assim, e esse já é sem dúvida um dos pontos fortes de Sessão de Terapia, a direção soube copiar de maneira bastante competente o que foi visto por aqueles que assistiram a versão americana da série, In Treatment. Focando-se exclusivamente nos atores, sempre no centro da tela, ora em closes ora em planos médios, Selton Mello soube usar sua própria experiência como ator para capturar os melhores ângulos do elenco durante os episódios, fazendo sua parte para que este colocasse na prática o que o roteiro lhe exigia.
Antes de prosseguirmos, adianto ao leitor, até mesmo por uma questão de honestidade, que já assisti In Treatment e sou fã dessa versão. Gabriel Byrne, o ator responsável por interpretar o terapeuta na versão americana, está simplesmente brilhante em sua atuação. Como bem comentou comigo uma conhecida, ele é aquela série e, sem ele, simplesmente nada faz sentido. Byrne é o melhor retrato de um terapeuta que eu jamais vi em toda minha vida; as pequenas nuances de sua performance durante as sessões fictícias são tão contidas como as reações de um verdadeiro terapeuta em ação (já fiz terapia e conheço alguns). Em resumo, ele estava perfeito naquele papel. Não surpreende que tenha inclusive ganho um Globo de Ouro de Melhor Ator pela sua atuação.
 
Talvez seja justamente por isso que foi difícil não torcer o nariz inúmeras vezes durante os episódios dessa primeira semana ao trabalho realizado por Zécarlos Machado no papel de Theo (nos EUA, o personagem se chamava Paul). Não que sua atuação seja algo horrível, mas lhe falta um pouco mais de tato para encarnar um personagem tão complexo e fascinante, especialmente quando o que mais ele tem que aprender a fazer em cena é como se expressar para o público sem precisar dizer nada.
Posto isto, podemos agora abordar cada uma das histórias vistas em cada um dos cinco episódios (ou sessões) mostradas nessa primeira semana da série:
 
 
Segunda – Júlia
A adaptação do piloto não surpreendeu nem inovou, preferindo se manter plenamente fiel a versão americana. É curioso que durante todo o episódio de estreia, Sessão de Terapia só tenha conseguido me fazer lembrar completamente de cada detalhe do piloto de In Treatment. Pior: não foi só o roteiro que ficou idêntico (com as devidas adaptações a realidade brasileira, evidentemente), mas até mesmo as atuações e trejeitos dos personagens (para não comentar sobre o escritório do terapeuta que ficou igual ao americano) pareciam uma simulação total da versão feita nos EUA.
 
A atriz Maria Fernanda Cândido deixou muito a desejar no papel de Júlia (em In Treatment, a personagem se chamava Laura), uma anestesista que tem problemas com relacionamentos. Aliás, aqui cabe comentar que, ao contrário da química entre Gabriel Byrne e Melissa George na versão americana, aqui os atores Zécarlos e Maria Fernanda pareciam se esforçar, às vezes com maior ou menor intensidade, para convencer o público da veracidade do que seus personagens diziam ou gesticulavam.
 
No mais, o clichê (entendido aqui de forma positiva) presente no piloto da série original e das demais versões foi mantido de forma integral: paciente caindo em lágrimas; terapeuta tentando confortá-la; paciente culpando os outros por seus problemas; terapeuta a fazendo perceber que os problemas estavam nela mesmo; paciente declarando está apaixonada pelo terapeuta.
 
A crítica fica por conta do fato de que senti falta de algo nesse episódio que desse a versão brasileira uma identidade própria. Por exemplo: na versão americana, ao contrário da original, o escritório do terapeuta é bem mais fechado e com um ambiente familiar. Pode parecer algo insignificante, mas é uma mudança interessante. No nosso caso, contudo, se optou em simplesmente copiar em tudo o cenário e roteiro da versão dos EUA. Dito isto, não tenho nada mais a comentar sobre essa sessão.
 
 
Terça – Breno
Em seu 2º episódio, o que faltou, em minha opinião, no piloto de Sessão de Terapia finalmente foi dado ao público: uma identidade. Breno, interpretado pelo ator Sérgio Guizé, em muito me lembrou do trabalho feito pelo ator Blair Underwood no mesmo papel, em In Treatment. As roupas, o modo de falar e as expressões corporais do personagem foram seguidos da mesmíssima forma em que o personagem foi apresentado na versão americana, mas tivemos uma ótima inovação aqui.
 
A história do personagem teve que ser obrigatoriamente alterada quanto à versão original e a dos EUA. Primeiramente porque ao contrário desses países, nossas Forças Armadas não estão envolvidas em conflitos internacionais. Em segundo lugar, porque a ideia de transformar o personagem, na versão nacional, em um atirador de elite que mata um inocente (uma criança ainda por cima) acidentalmente é algo que já ocorreu no Brasil, gerando assim um feedback interessante com o público, sem que para isso tenha sido preciso fugir da essência do problema enfrentado pelo paciente em todas as demais versões.
 
Só me incomodou mesmo a falta de coragem do roteiro nacional de alterar alguns elementos das versões anteriores que seriam dispensáveis, como é o caso da obsessão do personagem por café. Excetuando-se essa questão, a sessão de terça foi realmente boa.
 
 
Quarta – Nina
Confesso que estava ansioso pela sessão de quarta. Isso porque a minha paciente favorita na 1ª temporada de In Treatment é a Sophie (que no Brasil, virou Nina). Estava realmente na torcida para que a atriz Bianca Müller chegasse próximo do nível de atuação que a Mia Wasikowska conferiu a personagem.
 
Então finalmente chegou a quarta-feira. O problema foi que terminei ficando levemente decepcionado com a versão brasileira da paciente ginasta com tendências suicidas. Obviamente não desconsidero que o desafio que a jovem atriz Bianca encarou era enorme, especialmente quando a última intérprete da sua personagem foi ninguém menos que Mia Wasikowska.
 
O que realmente achei é que, mesmo ficando incomodado com o excesso de vezes em que a palavra “bosta” foi dita (aliás, porque a vasta maioria das produções nacionais acredita que para demonstrar raiva o personagem precisa xingar muito?), ela até que conseguiu fazer um bom trabalho. Há inclusive uma forte possibilidade de ela crescer em sua atuação ao longo dos episódios, o que realmente torço para que ocorra. Portanto, é prudente aguardar mais um pouco para realizar uma avaliação completa.
 
No mais, a história da personagem tem todos os elementos para ser, como na versão americana, a melhor de todas. Por isso recomendo que não percam as sessões de quarta. Quanto a Zécarlos, assim como nas duas sessões anteriores, ele ainda não tinha conseguido me convencer com o seu personagem. Foi a partir daqui que preferi tentar ignorá-lo, ainda que tenha falhado neste intento.
 
 
Quinta – Ana e João
Não vou esconder que o casal não foi uma das tramas que tenha me agradado em In Treatment e, pelo que pude perceber nesse episódio de estreia, não será dessa vez que eles me farão repensar meu ponto de vista.
 
Ana (Mariana Lima) e João (André Frateschi) são, em Sessão de Terapia, respectivamente, uma executiva bem sucedida e um ator desempregado. No caso, assim como na versão americana, o casal quer que Theo atue como um mediador em suas constantes brigas, só que dessa vez focando-se exclusivamente em uma questão: Ana deve ou não abortar sua gravidez?
 
Não sei vocês, e aqui abro um adendo, mas, provavelmente meu lado mais conservador pense assim, nunca achei que um relacionamento que surja de uma traição (Ana era casada quando começou a se envolver com João), tenha muitas chances de ter um futuro a longo prazo.
 
O que ficou claro é que a tônica de brigas, ofensas e desconfianças será o grande forte das sessões de quinta. O problema é que depois de já ter acompanhado a mesma história uma vez, meu interesse pela trama do casal (que foi até bem desenvolvida em In Treatment) não será tão grande assim.
 
Obs.: Na versão americana, mesmo existindo uma polêmica envolvendo a questão do aborto, ao menos por lá isso é legal. Já no Brasil, até onde me lembro, ainda é crime. Portanto, na versão nacional, a polêmica envolvendo o tema é maior ainda, afinal estamos falando de um terapeuta que tem que aconselhar seus pacientes a cometerem ou não um crime.
 
 
Sexta – Dora
Senti vergonha. Não consigo usar outro termo para descrever este confronto de egos em forma de sessão de terapia. Zécarlos e Selma Egrei agiram de forma tão confusa e perdida em cena que era difícil saber o que realmente estava ocorrendo. Reconheço que o problema nem foi no roteiro, mas na forma como os atores tentavam interpretar ao mesmo tema o misto de emoções que existiam, pelo menos em tese, naquele momento.
 
Primeiramente, porque se em In Treatment, Gabriel Bryne é o espírito da série na forma do terapeuta Paul, ao menos na 1ª temporada, Dianne Wiest é o corpo no papel de antiga orientadora e amiga Gina. Em segundo lugar, porque nesse episódio teríamos que ver dois terapeutas experientes em seu melhor, e não foi isso que vi. Aliás, desde o início do episódio, no momento em que Theo senta na poltrona de Dora, a forma como ela reage foi tão bruta que foi inevitável não notar a diferença substancial entre o jeito frágil e calmo da personagem na outra versão e nessa.
 
Quanto a trama em si, nada muito diferente das demais versões: Theo revela que seus problemas em casa, desde a distância sexual e emocional com a sua esposa (a qual ele acredita subconscientemente que o está traindo) até a maneira como vem tratando seus pacientes, “pulando etapas” para ficar nas palavras do mesmo, deixam claro que a vida pessoal e profissional estão começando a se afetarem mutuamente.
 
A atriz Selma, por sua vez, que por algum motivo acha que parecer uma estátua é o mesmo que atuar, até que foi tentando demonstrar que os problemas de Theo são uma prova de que o terapeuta precisa de supervisão, possibilidade que ele afasta completamente (por enquanto, claro).
 
Resumo da Semana
Ok, ok. Há potencial para um desenvolvimento gradual e de alto nível nas tramas de Sessão de Terapia, mesmo que no geral as impressões iniciais não tenham sido as melhores. Com uma direção competente, o grande empecilho da série será mesmo as atuações. Obviamente, por se tratar de primeiras impressões de episódios de estreias de cada um, eles terão mais nove semanas ainda (consequentemente nove episódios cada) para mostrar que podem transmitir toda a carga dramática que seus personagens exigem e, mais importante de tudo, fazer o público simpatizar com seus dramas pessoais. Se tivesse que apostar em quais serão as tramas mais promissoras no decorrer da série, diria que são as da ginasta Nina e do casal João e Ana, tendo mais por base o roteiro do que as atuações.
 
E vocês? O que acharam de Sessão de Terapia? Gostaram? Detestaram? Ainda não formaram uma opinião? Comentem.

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