terça-feira, 24 de março de 2009

Globo retoma seriados policias com 'Força tarefa'


Redobre sua atenção aos táxis que circularem pela noite carioca até o dia 16 de abril - data agendada pela Rede Globo para a estreia do seriado "Força-tarefa". Se um taxista chamado Wilson, com a cara do Murilo Benício, cruzar seu caminho até lá, algo de errado você fez. Atravessando o Rio com um disfarce de motorista, na bandeira dois, Wilson é um dos sete membros de um departamento que traz muita dor de cabeça aos homens da lei de pouca ética e muita ganância: a corregedoria, ou na gíria da PM, "a polícia da polícia", cuja meta é flagrar as formas de corrupção encobertas sob distintivos e uniformes azuis.

- Estou descobrindo que eu não sei segurar uma arma como um policial faz - diz Benício, escolhido para viver o tenente Wilson, homem da lei atormentado pela própria incorruptibilidade na série que deseja reviver a tradição de tramas investigativas na TV brasileira. - Eu, que sou fascinado por "Família Soprano", estou sambando aqui, buscando um tipo de interpretação a que não estou acostumado, uma "desatuação", mais naturalista. Acho que por isso o (José, diretor) Alvarenga falou em "Serpico", com o Al Pacino.

Benício se refere ao filme homônimo de 1973, dirigido por Sidney Lumet a partir de fatos reais, no qual Pacino (seu astro preferido) vivia Frank Serpico, oficial que devassou a polícia de Nova York em 1971, ao denunciar as atividades escusas de seus colegas. Com uma narrativa hiperrealista, árida para os padrões hollywoodianos do gênero, o longa-metragem de Lumet destaca-se entre as referências estéticas de José Alvarenga Jr., cineasta responsável por blockbusters como "O casamento dos Trapalhões" (1988) e que dirigiu séries populares como "A diarista" e "Os normais".

- Como ser incorruptível em uma realidade onde as negociações ocorrem a céu aberto? Como reage uma classe que corre o risco de levar um tiro de armas que seus próprios colegas venderam aos traficantes? A repressão ainda é fundamental para que uma sociedade exista? Era urgente que a Globo falasse disso em um Brasil que virou um país de filme policial - diz Alvarenga.

Originalmente, ele foi escalado pela Globo para cuidar do projeto de transposição do fenômeno "Tropa de elite" para a TV, como série.

- Como as negociações com o José Padilha e o Marcos Prado (diretor e produtor das aventuras do Capitão Nascimento) desandaram depois que eles optaram por um "Tropa 2", a emissora me pediu que pensasse em um seriado policial. Foi aí que tivemos a ideia de chamar o Marçal Aquino (escritor e roteirista de "Os matadores", "O invasor" e dos demais filmes de Beto Brant) e o Fernando Bonassi (dramaturgo, escritor e co-roteirista de "Carandiru"). Os capítulos que eles escrevem em 15 dias, nós filmamos em sete.

Aquino e Bonassi delinearam o perfil à moda Pacino de Wilson, que é atormentado pela morte de seu padrinho, o policial Jonas (Rogério Trindade). Obcecado pela integridade, fiel à tese de que é preciso ser honesto para impor a lei, Wilson descobriu que Jonas estava ligado ao submundo e tentou prendê-lo. Para não ver seu nome sujo, Jonas se mata, mas continua a frequentar o imaginário de seu "afilhado", como se fosse um fantasma.

- Jonas aparece como um demônio para Wilson. Às vezes, é ele quem dá a luz do caso para herói. Em outras, vai agredi-lo com palavras que incomodam por serem verdadeiras. Jonas gera inquietação - diz Alvarenga.


Mas Wilson não é um exército de um homem só na luta para confinar policiais corruptos atrás das grades. A "Força-tarefa" de Aquino e Bonassi reúne mais seis agentes, cujos intérpretes são mais conhecidos nos palcos e no cinema do que na TV: Samuca (Nando Cunha), Jorge (Rodrigo Einsfeld), Irineu (Juliano Cazarré), Oberdan (Henrique Neves), Genival (Osvaldo Baraúna) e Selma (Hermylla Guedes), a única mulher no time. Fabiula Nascimento, do filme "Estômago", será Jaqueline, auxiliar de enfermagem e namorada de Wilson.

- Depois de 15 anos de TV, ser surpreendido com uma nova proposta como esta é um modo de se livrar dos vícios, observando gente que está começando - diz Benício, que há dois meses estava no vídeo como o bandido Dodi, de "A favorita".

Embora desbrave a fronteira dos novos rostos, Alvarenga confiou à experiência de Milton Gonçalves a tarefa de encarnar o líder de sua "Força-tarefa", o coronel Caetano.

- Coronel Caetano é o bastião da lei que dá um caminho para a juventude da série seguir. E Milton, que é nosso Morgan Freeman, cria esse oficial que também tem seus conflitos.

Gonçalves, que já encarnou delegados, detetives, inspetores e afins em filmes como "Um trem para as estrelas" e "O cobrador", enxerga uma dimensão social em "Força-tarefa".

- Um dos componentes mais importantes da teledramaturgia brasileira é discutir o sistema para permitir que a população reveja seus conceitos - diz Gonçalves, fardado no interior dos estúdios do Projac.

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