quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Caixa com DVD duplo de 'Viva o gordo' traz personagens clássicos criados por Jô Soares na década de 80


Há 28 anos o Rio de Janeiro era violento, o preço de um apartamento na Zona Sul era um absurdo, os turistas eram enganados nas praias, os políticos eram corruptos e ter uns quilinhos a mais era motivo de piada. Assistir aos DVDs da caixa "Viva o Gordo" (R$ 49,90), que a Globo Marcas acaba de lançar, é ter a impressão de que o tempo parou e o Brasil não avançou em nada. Mas é maravilhoso perceber que as tiradas dos mais de 300 personagens criados por Jô Soares continuam mais atuais do que nunca.

A caixa, cujo conteúdo ultrapassa cinco horas de duração, tem dois DVDs com os melhores esquetes que foram ao ar no programa humorístico, exibido na Globo entre 1981 e 1987. O material foi selecionado por Jô, em parceria com Hilton Marques, que escreveu boa parte dos programas do comediante e apresentador.

- O projeto surgiu porque as pessoas gostariam de ter um registro de um trabalho que foi muito marcante, e cobravam isso - explica Jô, em entrevista à Revista da TV por email, na qual ainda afirma que morre de saudade dos tipos que fizeram parte de sua vida por tanto tempo. - Tenho saudade de todos, mas sem saudosismo nenhum. É claro que existem personagens muito queridos, como Gardelon, Reizinho, Vovó Naná e Sebá, O ÚItimo Exilado. Norminha, minha primeira personagem feminina, também é especial. E sem esquecer do Bebezinho...

Na primeira cena do DVD, um número musical no qual as virtudes dos gordinhos são exaltadas, uma das bailarinas é a atriz Claudia Jimenez, ainda em início de carreira. Em seguida, Jô ensaia uma espécie de stand up comedy - muito antes de o gênero se popularizar por aqui - e discorre sobre a obesidade. Na sequência, começam as esquetes, com participações de luxo como Pedro Paulo Rangel, Flávio Migliaccio, Francisco Milani, Paulo Silvino e Cláudia Raia, entre outros.

Mesmo tendo deixado saudade e boas lembranças, Jô garante que não tem vontade de reviver nenhum desses papéis.

- Se eu voltasse a fazer o mesmo agora, daria a impressão daquelas senhoras que se maquiam excessivamente para parecerem mais jovens ou daqueles senhores que pintam o cabelo de preto ou acaju, a cor da moda de muitos políticos brasileiros - diz, sem perder a piada.

O "Viva o gordo" era derivado de "Viva o gordo, abaixo o regime!", espetáculo teatral onde Jô ironizava os tempos da ditadura. Aliás, a ditadura e o posterior processo de abertura política eram temas frequentes nos quadros, que sempre faziam alusão à falta de liberdade de expressão e às prisões deliberadas da época. O personagem mais emblemático do período era Sebá, O Último Exilado, que, de Paris, sempre ligava para sua mulher no Brasil. A cada novidade que ela contava ele replicava com o bordão: "Você não quer que eu volte!".

No programa, Jô imortalizou outros tipos clássicos, como o Reizinho (ele se ajoelhava para interpretar o déspota de um país muito similar ao Brasil e que perguntava para seus súditos "Sois rei?"), o Capitão Gay (um super-herói que defendia os "fracos e oprimidos") e o Zé da Galera (o torcedor fanático que ligava para o técnico Telê Santana para dar palpites na escalação da seleção). Um prato cheio tanto para quem acompanhava a atração, como para quem não viveu os anos 80 e só conhece Jô como entrevistador.

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