domingo, 15 de novembro de 2009
'Por toda minha vida' apresenta leva inédita de docudramas musicais a partir desta semana
Ausente do filme "Cazuza - O tempo não para", dirigido por Sandra Werneck e Walter Carvalho em 2004, Ney Matogrosso encara a câmera e deixa claro seu papel na vida do cantor de "Exagerado", morto em 1990 depois de sacudir a música brasileira com farras, poesia e rock'n'roll: "A gente se gostava. Independentemente de qualquer coisa, né? Nós éramos amigos de verdade. O que nos uniu inicialmente foi sexo. Mas nós entendemos que existia alguma coisa muito além do sexo, sabe? Isso durou pouco! Essa coisa nossa durou três meses. E a nossa amizade foi para o resto da vida".
O depoimento sincero - e raro - vai ao ar na próxima quinta, depois de "A grande família", no "Por toda minha vida", programa que, desde 2006, revela a trajetória de artistas da música nacional com uma receita que une dramaturgia e documentário. Pela terceira vez na briga por uma estatueta do Emmy Internacional, o Oscar da televisão - a premiação acontece no próximo dia 23 -, a atração da Globo já investigou nomes tão diversos quanto Nara Leão, Renato Russo e o grupo Mamonas Assassinas (o episódio concorrente desta vez).
O especial dedicado a Cazuza, vivido dos 15 aos 32 anos pelo pouco conhecido Daniel Granieri, é o primeiro da safra deste ano do programa, que pertence ao núcleo do diretor Ricardo Waddington. Depois dele, estão previstos Claudinho (parceiro de Buchecha, no dia 26) e Raul Seixas (no dia 3 de dezembro). Outros cinco vão ao ar no próximo ano. Entre os nomes prováveis, estão Cássia Eller e Clara Nunes. Os retratados são escolhidos não só por suas contribuições musicais como por suas vidas extraordinárias.
- Nosso critério mistura a relevância artística e uma biografia que tenha forte comunicação com o público - diz o roteirista George Moura, que já pôs no papel lances dramáticos de dois artistas devastados pelo vírus HIV (Renato e Cazuza), um grupo vitimado por um acidente de avião (Mamonas) e uma cantora e compositora morta por overdose de barbitúricos (Dolores Duran).
Embora também tenha sua dose garantida de lágrimas, o docudrama sobre Cazuza destaca um artista solar, capaz de cativar seu grupo, Barão Vermelho, logo no primeiro ensaio, e de colecionar paixões. Entre homens e mulheres. Uma delas, a atriz Denise Dumont, hoje afastada da vida artística e morando em Nova York, dá um depoimento afetuoso para o especial. João Araújo, produtor musical e pai do cantor, geralmente avesso aos holofotes, embarga a voz para falar do período final da vida do biografado. O apresentador Pedro Bial lembra com saudade da infância ao lado do amigo.
- O programa nasce das pesquisas e dos depoimentos. Toda a dramaturgia é feita em cima desse material, para ilustrar o que a parte documental trouxe - explica Moura.
Por unir reportagem e encenação, os créditos de "Por toda minha vida" são multifacetados. Incluem a apresentadora, Fernanda Lima, o roteirista e seus colaboradores, além de dois pesquisadores e dois repórteres, que vão a campo falar com as famílias dos perfilados. Antes de tudo, a equipe pede autorização a parentes, uma vez que, até agora, $os retratados não estão mais vivos.
- Não só é bom para o programa ter o aval das famílias, como é um gesto nosso de respeito à memória daquele artista - frisa Waddington, que confessa ter enfrentando algumas resistências no início do projeto, concebido originalmente como especial de fim de ano.
Depois de receber a carta branca, a equipe recorre a biografias, a imagens de arquivo, do Centro de Documentação da Globo e de cinematecas, e a acervos fotográficos e de áudios inéditos (no programa de Cazuza, há uma gravação caseira de "Preciso dizer que te amo" dublada pelos atores). Além disso, são entrevistadas de 15 a 20 pessoas, entre amigos e parentes. Todo o processo leva até três meses.
Nesse período de imersão, surgem algumas preciosidades, como a descoberta de duas filhas americanas de Raul Seixas, de mães diferentes, que só foram se encontrar pela primeira vez diante das câmeras. Ou quando a cantora Maria Rita, sempre reticente em relação a comparações com a mãe, cantou pela primeira vez uma música do repertório de Elis ("Essa mulher") no programa dedicado à cantora.
Desde que a atração foi ao ar pela primeira vez, uma leva de documentários sobre música brasileira - que inclui "Simonal - Ninguém sabe o duro que dei", "'Titãs - A vida até parece uma festa" e "Herbert de perto" - inundou os cinemas. Na TV, veio a minissérie "Maysa" e, para janeiro, está prevista "Dalva e Herivelto". Para Moura, esse revisionismo está longe de se esgotar.
- Essas iniciativas não são redundantes. A trajetória desses artistas rende muito mais que um filme e um especial de TV. Eles são como gatos, têm sete vidas - brinca.
Por enquanto, a receita parece estar longe de perder a força. "Por toda minha vida" mantém a respeitável média de 23 pontos no Ibope, comparável à da novela das 18h. O programa de estreia, sobre Elis, foi o recordista de audiência, com 31.
O sucesso se reflete em subprodutos. Ainda este mês sai o DVD do programa dos Mamonas Assassinas, o primeiro de uma leva de três (os outros, de Renato Russo e de Leandro, da dupla com Leonardo, devem sair próximo semestre). Também para 2010, está prevista uma nova atração, concebida por Moura e Waddington, com a mesma fórmula. Desta vez, os retratados serão ídolos do futebol, que narrarão suas próprias histórias. Zagallo, Ronaldo e Romário inauguram a série. Já o formato musical vai expandir seus horizontes e incluir a música clássica, com Carlos Gomes, e grupos como Novos Baianos e As Frenéticas.
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