Recordar é viver. Não à toa o canal de reprises da TV Globo se chama “Viva”. Mas não foi em uma reprise que a audiência das 23h se emocionou na noite dessa quinta-feira. Foi em um remake: “O Astro”, adaptada da obra de Janete Clair por Alcides Nogueira, no ar na Globo nos dias de hoje. A cena foi entre Ferragus (Francisco Cuoco) e Herculano Quintanilha (papel que também foi de Cuoco na versão original e que hoje é interpretado por Rodrigo Lombardi).
Ferragus tenta consolar Herculano sobre as desilusões do amor contando que ele mesmo já foi muito feliz ao lado de uma mulher. A partir daí, o diretor Mauro Mendonça Filho usou, sob forma de “flashback”, imagens da novela original. Em pé, ao lado de uma cama, sem barba, cabelos já bastante grisalhos, calças justas, camisa estampada, o peito à mostra, está Cuoco. Ele cobre de jóias Dina Sfat (a Amanda de 1978, hoje vivida por Carolina Ferraz). Ela, com as maçãs do rosto rosadas, o batom vermelho cor de carne, sombra nos olhos, um vestido lilás, cara de êxtase. Os dois se beijam intensamente.
A direção de “O Astro” foi esperta. Desde que começou a reprise de “Vale Tudo” no canal a cabo “Viva” e a novela virou sensação nas redes sociais, a Globo percebeu que tem um público segmentado para este produto. Um pessoal que dorme tarde, de nível superior, que tem um gosto mais apurado para as artes, que tem TV a cabo, que tuíta, mas que também sente falta daquele folhetim “das antigas”, intenso, com bons atores falando diálogos vivos, inteligentes e com interpretações convincentes.
Isso o remake tem de sobra. Os atores atuais não deixam nada a desejar em relação à grandeza do que foi essa novela e seus personagens em 1978. Os roteiristas escrevem diálogos instigantes e contemporâneos e a direção é elegante. Mas como segurar e estender esses 18,9 pontos no Ibope das 23h53 para o programa todo? Apelar para a emoção de um público cansado de lágrimas de cristal japonês.
Ver a dupla de atores em imagens da versão original foi como olhar para os nossos pais nos anos 1970, quando eles tinham a idade que temos hoje e vestiam as mesmas camisas estampadas do Cuoco, a mesma maquiagem da Dina Sfat e ouviam as trilhas sonoras da Som Livre. Deu saudade, principalmente quando Ferragus dizia que nada era mais triste do que recordar o tempo em que fomos felizes.
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