terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Amores Roubados – Capítulo 6




Explosivo.

Começo a achar injusto ter assumido o compromisso de fazer essas reviews quando percebo que continuo sem palavra para tudo que assisti hoje em “Amores Roubados”. O “explosivo” que abriu esta pequena e humilde crítica é simples, mas revela toda a complexidade deste sexto capítulo da minissérie, que abre sua semana final de maneira fantástica.

Aliás, falando em coisas fantásticas, tenho que elogiar novamente a narrativa construída pelo brilhante roteiro de George Moura (Sérgio Goldenberg, Flávio Araújo e Teresa Frota) que foi gradativamente construindo a trama da ruína de Leandro Dantas, que chegou hoje ao seu ápice. Desta forma, com esta gradação da trama, ganhamos um capítulo melhor que o outro e se o quinto foi pólvora pura, este fez questão de acender o pavio e mandar tudo pelos ares.

É aquela velha história que venho contando desde que comecei a fazer esses textos: a trama envolvendo Leandro e suas três amantes é como um castelo de cartas: durante os três primeiros capítulos da minissérie as cartas foram sendo colocadas cuidadosamente uma sobre as outras… No quarto capítulo a audiência começou a perceber uma ou outra carta cair e a estrutura começar a ter pequenas aberturas. No quinto capítulo as cartas já não se mantinham e Leandro desesperadamente tentava encaixar as que iam caindo mas, a cada tentativa, mais duas ou três caíam… Então chegamos aqui, no sexto capítulo, quando este pequeno castelo desmoronou de vez.

Foi o fim para Leandro de sua inútil tentativa de mantê-lo em pé. E provavelmente foi o fim do próprio Leandro.

Começando exatamente de onde havia terminado o capítulo anterior, a minissérie abriu mão por completo das sutilezas que marcaram seu roteiro durante sua primeira semana de exibição e colocou o telespectador diante da ação alucinante que culminou na morte de Leandro. E preciso assumir sem medo de errar: toda a sequência de fuga do Leandro, a perseguição e o tiroteio intercalados com a belíssima cena de Antônia passando mal – cena de uma sensibilidade espetacular por parte da direção e de Ísis Valverde – foi uma das melhores sequências que já vi na televisão brasileira.

Que a Globo tem capacidade técnica para produzir cenas desse tipo todos nós já sabíamos há algum tempo, mas foi a primeira vez que vi algo ser feito em companhia de um roteiro de tamanha qualidade. E só para não deixar passar em branco: além dos atores, que estavam excepcionais em cena, a direção de Villamarim foi simplesmente primorosa, aliada ao sempre fantástico Walter Carvalho que é um dos melhores diretores de fotografia que temos no Brasil atualmente.

E o bom de uma cena tão bem executada é que ela é capaz de levar o telespectador para dentro da trama e este sentimento era essencial para que embarcássemos no restante do capítulo (afinal, a “morte” de Leandro ocupou apenas metade do capítulo) e assistíssemos o restante da trama de Jaime como se lá estivéssemos, e não como meros telespectadores. É aquela velha sensação de “ficar na ponta da cadeira” e, acreditem, poucas produções são competentes o suficiente para fazer isso.

E assim, no torpor daquele momento, acompanhamos numa sucessão de cenas muitíssimo bem costuradas pelo roteiro o prosseguimento do plano de Jaime, que incluía usar Oscar como bode expiatório para parecer que Leandro roubara a vinícola e fugira para São Paulo e a destruição que esta informação causou na família Favais. E foi simplesmente fantástico acompanhar as reações de Antônia e Isabel, em trabalhos irretocáveis de Ísis e Patrícia, à noticia de que seu amado havia feito algo tão sujo.

Ou seja, a minissérie deixou o público em choque e confuso (com a possibilidade de Leandro ainda estar vivo) e, aproveitando-se dessa situação frágil do telespectador, o jogou imediatamente num tubo de reações emocionais de outros personagens quando nem mesmo nós havíamos digerido por completo a situação. A este efeito eu dou o nome de “se afogar em um bom roteiro” e preciso assumir que adoro essa sensação.

Como ainda estou tentando colocar minhas ideias no lugar, encerro esta review por aqui, mas não sem antes citar uma adição importante à trama e comentar um outro momento. O primeiro ponto, que apenas citarei para não deixar em branco, mas vou esperar um pouco mais para comentar, é a gravidez de Antônia, que será a reviravolta final dessa história. E, por fim, não posso deixar de comentar a brilhante cena final, que colocou Carolina enfrentando e ameaçando Celeste. Dira Paes e Cássia Kis Magro são tão fantásticas e a construção de suas personagens foi tão magnífica que esse primeiro embate não pode passar em branco e já me deixa na expectativa de uma guerra entre essas duas. O público merece.

::: Alguns Devaneios Finais:
- A abertura da minissérie continua fantástica, mas passou por mudanças essa semana. As imagens foram trocadas e demonstram mais esse novo tom que a minissérie assumiu a partir de hoje.

- Ainda sobre esse tom mais sombrio, o mesmo é notado nas chamadas da minissérie, que estão bem mais aflitivas.

- Amores Dublados? Depois das reclamações constantes sobre o áudio da minissérie, a Globo optou por dublar algumas cenas. Não sei se isso já ocorreu neste capítulo, se foi, foi muito bem feita, pois não notei nada neste sentido.

- Murilo Benício esteve espetacular durante o episódio, Patrícia Pillar continua magnífica mas, para mim, quem roubou a cena, mesmo que praticamente calada, foi Ísis Valverde.

- E continuamos com a trilha sonora impecável da minissérie que mostrou neste capítulo ser capaz de mesclar The XX com a brasilidade poética de Geraldo Azevedo. O momento em que tocou “Coqueiros” foi um dos mais emocionantes para mim em toda a minissérie.

- Sobre Leandro, por mais que tenham deixado em aberto a possibilidade de ainda estar vivo, eu realmente acreditei em sua morte, pois não via como ele sobreviveria após o tiro e a queda do carro do precipício, mas enquanto escrevia essa review passou uma chamada do capítulo de amanhã que deixou ainda mais clara a possibilidade dele ter sobrevivido em uma pequena cena em que Jaime fala “mas esse diabo não morre não?”. Ou seja, Leandro Dantas ainda vive, gente.

- Me desculpem Irandhir Santos (João) e Jesuíta Barbosa (Fortunato) que também tiveram ótimos momentos no episódio e mereciam destaque nessa review, mas realmente ainda estou impactado demais para pensar melhor sobre qualquer outra coisa. Tenho certeza que vocês não deixarão passar nos comentários os elogios que ambos merecem.

Nenhum comentário: