quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Amores Roubados – Capítulo 7




Entrando em sua reta final, Amores Roubados abre mão do romance e se assume como um ótimo e eletrizante thriller.

E eis que o que eu não imaginava aconteceu: “Amores Roubados” conseguiu surpreender e, mesmo em um capítulo que teoricamente não aconteceria muita coisa, continuou com sua trajetória ascendente, deixando-nos mais uma vez aflitos com todos os acontecimentos que presenciamos após a morte de Leandro.

O mais fantástico na minissérie, a esta altura do campeonato, é como ela vestiu a camisa e se assumiu por completo como um thriller, mantendo a atenção e a expectativa do público a cada instante. Após a morte de Leandro era de se esperar uma pisada no freio, um episódio mais calmo e mais focado no luto daqueles que o amavam. Mas não foi o que aconteceu neste sétimo capítulo. Toda a tensão que a série desenvolveu até aqui, toda a história do triângulo amoroso, todo o mistério foi mantido e apenas redirecionado a um novo núcleo, que tem Jaime, João e Fortunato como destaque.

É aquela velha história do castelo de cartas novamente. Assim como expliquei que Leandro, ao brincar com mulheres casadas com poderosos homens de Sertão, estava construindo um castelo de cartas que hora ou outra iria desmoronar – e desmoronou – quem vê seu próprio castelo desmoronar agora é Jaime, afinal, não existe crime perfeito e foi isso que este sétimo capítulo nos mostrou.

Por mais que Jaime tenha articulado um plano meticuloso e bem inteligente, plantando a ideia de que Leandro roubou a vinícola e fugiu e usando Oscar para se passar pelo rapaz – de forma que o corpo parecesse o do próprio Oscar, que aparentemente teria dirigido bêbado e causado o acidente – é exatamente nos detalhes não pensados que se encontra a ruína de Jaime. É exatamente pelas coisas que ele não pensou – e tantas outras que ele não previu – que, cedo ou tarde, a revelação de sua participação na morte do sommelier virá à tona.

A começar pela própria arrogância que é característica da personalidade de um homem da posição social de Jaime. Óbvio que na cabeça dele Leandro era um pobre coitado, sem ninguém que se importasse com ele, sem ninguém que o conhecesse e notasse as inconsistências dessa história, de forma a querer tirá-la a limpo. Aqui está o primeiro grande erro de Jaime. Fortunato, Carolina, Antônia e até mesmo Celeste terão motivos o suficiente para buscar respostas sobre o sumiço do rapaz.

Aliás, já neste capítulo Fortunato se torna a grande pedra no sapato de Jaime e, sobretudo, de João. O rapaz, que havia recebido um telefonema do amigo pouco antes de seu assassinato foi atrás das respostas necessárias e rapidamente fez os links cabíveis para perceber que se tratava de uma queima de arquivo. Ele, como confidente de Leandro, sabe que Jaime tinha motivos, estava no local do crime e tinha condições de executar o sommelier. Neste momento, vale destacar o brilhante trabalho de Jesuíta Barbosa que já vinha se destacando com o pouco que o roteiro lhe reservava mas aqui teve seu momento de glória. O jovem ator – que já conta com um ótimo currículo no cinema – soube mostrar bem o luto e a dor de Fortunato pela perda do amigo e, sobretudo, soube mostrar com precisão a dúvida que se encontrava entre buscar vingança pelo Leandro – o que o colocaria em risco de vida – ou calar-se.

Mas Fortunato criou a coragem necessária e, em seu melhor momento no episódio, desafiou perante todos a versão da morte de Oscar que era dada como certa até então. Aqui entra outra observação sobre aqueles detalhes que Jaime desconhecia: Oscar não sabia dirigir. Se Fortunato sabe disso, certamente outras pessoas em Sertão também sabem. E cito outras pessoas porque a situação da Fortunato não tornou-se nada boa após gritar para todos a verdade, já que ele logo caiu no radar de João e tem grandes chances de ser a próxima vítima de Jaime/João.

Não quero que Fortunato morra, acho que o personagem tem muito para mostrar nessa nova fase investigativa de “Amores”, mas é o mais lógico que o roteiro nos apresenta. Além do mais, vai corroborar a ideia de que não há crime perfeito. Certamente, para evitar ser pego, Jaime ainda vai precisar matar muitas outras pessoas para, em vão, tentar esconder seus rastros. A ficção já nos mostrou inúmeras vezes que cometer um assassinato é como derrubar uma peça de dominó que começará uma reação em cadeia.

Outro fator que Jaime não poderia prever é o bilhete deixado por Oscar para Isabel. O garoto continua rondando a casa dos Favais e se desencontrando de Isabel simplesmente para nos deixar aflitos. É um recurso conhecido – e competente – da dramaturgia, em geral. Certamente Isabel colocará as mãos naquele bilhete oportuno.

E isso sem falar em Carolina. Ela realmente acredita, neste primeiro momento, na fuga do filho e, por isso, está mais focada na chantagem à Celeste. Mas, mesmo tendo uma índole terrível, Carolina sempre se mostrou uma mãe preocupada com o filho. Quando perceber que há algo errado nesta “fuga” de Leandro, ela não vai parar até descobrir tudo. E o amor é um sentimento forte, mas o amor de mãe simplesmente não há limites.

Por fim temos Antônia. Grávida de Leandro, ela simplesmente se nega a acreditar que ele a abandonaria e, mesmo que pareça ceder a esta história pouco a pouco, ainda tem aquela voz na cabeça dela que grita que há algo errado. A sequência que mesclou sua investigação com a de Fortunato foi excelente e serviu para mostrar exatamente que nada vai fazer aquela mulher esquecer o homem que ama tão facilmente. Ou seja, Jaime tem uma inimiga dentro de sua própria casa.

Por fim temos Isabel. Engraçado notar que ela foi a única personagem de luto durante o capítulo, afinal, além de Fortunato – que só descobriu a morte do amigo mais adiante – ninguém mais vê Leandro como morto. Mas ela vê. Para ela, o que eles viveram foi tão intenso que a suposta traição de Leandro significa o mesmo que sua morte. Por isso, o que presenciamos de Isabel durante todo o episódio foi puro e genuíno luto. Aquela mulher, que nunca esteve bem, diga-se de passagem, se desmontou por completo, perdeu seu rumo. E aqui vale destacar a poesia da cena em que ela dirige que traduz para o audiovisual a perda de rumo, com o carro ziguezagueando na pista enquanto lembranças lhe vinham à memória.

Assumindo-se como um thriller e deixando seu público sem fôlego, “Amores Roubados” continua marcando sua trajetória de maneira positiva na televisão brasileira, mostrando que mesmo em seu sétimo capítulo consegue prender seu público da mesma maneira que fazia quando estreou. A audiência sempre crescente da série demonstra isso.

::: Alguns Devaneios Finais:
- A crítica em si quase não faz citações aos atores – com exceção de Jesuíta Barbosa – simplesmente porque, desde a estreia, este foi o capítulo mais equilibrado da minissérie, com todos os atores principais tendo praticamente o mesmo destaque e ninguém roubando a cena. Desta forma, meus parabéns à Ísis Valverde, Patrícia Pillar, Murilo Benício e Irandhir Santos que estiveram irretocáveis no episódio.

- O clima de thriller, além da abertura e das chamadas, também atingiu a trilha sonora que adotou tons mais sombrios e mais sérios neste capítulo. “Angels”, por exemplo, só tocou rapidamente num raro momento mais leve, quando Antônia revia vídeos de Leandro.

- Alguns problemas de ordem lógica surgiram para mim no episódio, mas não a ponto de parecerem furos do roteiro. O primeiro é sobre a aceitação da palavra de Jaime. Acho que um teste de DNA na vítima era obrigatório para certificar sua morte, não? O segundo é sobre o fato de ter ocorrido um tiroteio antes da queda do carro, o que simplesmente inviabiliza a história de Jaime e João, de que Oscar teria dirigido bêbado e causado o acidente, afinal, deve haver várias marcas de tiro e até capsulas das balas dentro do veículo.

- Esses problemas, no entanto, não se tornaram tão grandes, pois podem ser abordados nos próximos capítulos – e eu estou apenas me apressando – ou podem ter uma justificativa de ordem prática plausível: o velho coronelismo brasileiro, que encerraria uma investigação com base na palavra de um figurão como Jaime Favais.

- Sobre a audiência, “Amores Roubados” novamente surpreendeu a Globo e quebrou seus próprios recordes no capítulo de ontem. A minissérie atingiu 32 pontos em São Paulo (com picos de 35) e um share (índice de televisores sintonizados na Globo) de 59%, superior ao de “Amor a Vida” no mesmo dia. No Rio os números foram ainda mais impressionantes: 34 pontos (picos de 37) e um share assustador de 64%.

- A audiência surpreendente da minissérie quebrou por completo o planejamento de começo de ano da Globo. Dessa forma, há comentários que para evitar quedas com a estreia do BBB, a Globo reajustou toda sua grade (“roubando” alguns minutos de alguns programas no decorrer do dia) de forma a garantir que a minissérie entre no ar antes das 23h. Mesmo que as fontes sobre essa informação não sejam das mais famosas, isso se verificou hoje, tendo até mesmo o BBB tido uma estreia bem corrida. Veremos amanhã se isto se confirma.

- A imagem que abre essa review faz parte de uma das cenas mais lindas do capítulo – e mais memoráveis de Ísis na série – quando ela grita por Leandro e, em desespero, assume sua gravidez para a amiga.

- Por outro lado, achei completamente irreal a cena de Isabel transando com um completo desconhecido que atropelou na rua. Entendi seu propósito de mostrar como a personagem estava perdida. Mas foi irreal demais. Nada crível.

- Faltando três capítulos para o encerramento da minissérie, começarei amanhã a tecer alguns comentários sobre a atuação, em geral, de alguns atores aqui nestes devaneios finais. Começarei com Cauã e Ísis. A ideia era começar hoje mas, com o tamanho desta review, optei por não deixa-la maior ainda.

- Adoro a relação que crio com vocês através dessas reviews, nos comentários. Mas estou dando uma pausa nela a partir de hoje e evitarei ler os comentários. Apesar de 99% de eles serem úteis e inteligentes, infelizmente tenho me deparado com gente idiota (me perdoem a grosseria) que dá spoilers sobre a trama sem ao menos avisá-los. Odeio spoilers, perco o tesão de acompanhar algo quando me “estragam” o final e acho isso atitude de gente mesquinha, sem o mínimo de bom-senso… Aliás, sem o mínimo de noção. Por isso, vou deixar que o Michel faça a moderação dos comentários e abro àqueles que realmente querem comentar a série comigo o meu Twitter e Facebook. Adorarei respondê-los lá.

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