Mentiras reveladas, segredos descobertos… Nada será igual em Sertão após este oitavo capítulo de “Amores Roubados”…
Mantendo o ritmo sempre, a minissérie apresentou um oitavo capítulo
para cardíaco nenhum botar defeito e, mesmo que eu quisesse respirar,
mal consegui tirar os olhos da tela. Afinal, desde o momento em que
Isabel chegou à casa de Celeste e ouviu da amiga a revelação de que
Leandro era seu amante deu-se início uma reação em cadeia onde cada um
dos segredos mais obscuros das personagens principais foram caindo um
por um, com reações quase que imediatas.
O grande acontecimento do capítulo foi a revelação de que Celeste e
Isabel eram amantes de Leandro e, a partir deste ponto, foi-se
desenvolvendo uma cuidadosa trama explorando as dimensões psicológicas
que esta bomba causou nos diferentes relacionamentos da minissérie. E
aqui sou obrigado a destacar a perfeita união entre roteiro e direção
mas, sobretudo, uma edição ágil que, intercalando todos os
acontecimentos na casa de Celeste com algumas cenas esparsas de Jaime e
de Fortunato, foi de uma inteligência ímpar, deixando-me literalmente
ofegante.
Sou obrigado a começar a abordar esta sucessão de acontecimentos do
ponto de vista de Isabel. A última vez que vimos a personagem, ela
estava a beira da loucura, completamente sem rumo e se prendendo a um
fio de sanidade que ainda lhe restava. Quando escuta de Celeste que a
amiga também era amante de Leandro, este fiio se rompe e Isabel cede por
completo. É inimaginável tentar entender todo o drama pelo qual a
personagem passava – e aqui a frase de Jaime, de que faria a mulher
sangrar de dor, faz completo sentido – mas ainda assim, Patrícia Pillar
esteve tão espetacular em cena que, mesmo no meio do surto de sua
personagem, conseguiu atrair muito do capítulo para si.
A próxima impactada pela informação dos casos de Celeste e Isabel com
Leandro fora Antônia. Presenciar a própria mãe surtar e assumir o caso
com o seu amado foi demais para a personagem e Ísis Valverde foi soberba
neste momento. O choque, a dor, a dimensão de tudo o que acabara de
escutar, a forma com que se afasta da mãe desvalida procurando por ar,
foi tudo absolutamente perfeito. Cena fantástica para ambas as atrizes.
Aliás, cena fantástica para a teledramaturgia nacional e ponto. Mas não
acabou por aí, durante todo o resto do episódio o roteiro demonstrou um
cuidado especial com Antônia e, dentro do furacão em que se encontrava a
personagem, buscou mostrar sua dor com cenas simples e belas – com– a
do banheiro e a da piscina – para que, claramente, o público se
colocasse em seu lugar.
E então temos Celeste, cujo choque também foi genuíno, mas muito mais
egoísta que o das outras personagens. Antônia e Isabel estavam de luto,
sofrendo, sangrando pela dor que tamanhas mentiras lhe causaram.
Celeste, muito fiel à sua personalidade, continuava preocupada apenas
consigo mesmo. Tanto que, em seu momento chave no episódio, quando
revela toda a história ao pai de Isabel, ainda assim ela está em busca
do dinheiro que calaria a boca de Carolina e evitaria o prejuízo que
essa bomba causaria em seu casamento. E por mais odiável que tenha sido
essa atitude de Celeste – afinal, o fim de sua melhor amiga e sua filha
não deveria ser o seu também, em sua cabeça – não há como não bater
palmas para Dira Paes também. Odiável é a personagem, e a atriz a fez
com maestria. Acompanhar a reação de Celeste ao furacão que estava
acontecendo em sua casa deveria ser aula em cursos de teatro em todo o
país, para mostrar que mesmo sem ser o centro das atenções, mesmo sem
falas, uma grande atriz se faz presente em uma cena como essa.
Pena para Celeste que Cavalcanti friamente escutou toda a confissão
da mulher, barbarizado, apenas tentando digerir tudo o que escutava ali,
atrás da porta. E agora é chegado o momento que eu esperava desde que a
minissérie começou, aquele em que eu devo elogiar também Osmar Prado. O
ator foi simplesmente grandioso em cena – e olha que ele dividia o
texto com Dira Paes naquele momento – e, por mais que a cena tenha
durado pouco mais de dois minutos, acompanhar a gradação da reação de
Cavalcanti, desde sua incredulidade até sua ira, foi simplesmente
glorioso.
Quanto ao resto, a muitos quilômetros dali, vimos Fortunato fazer o
inimaginável e conseguir fugir – pelo menos neste primeiro momento – de
João e Bigode. Inteligente, o rapaz evitou que seu destino fosse o mesmo
de seu melhor amigo ao fugir e continua sendo uma grande pedra no
sapato de Jaime, mesmo que este não saiba disso graças à mentira de João
que, certamente, voltará para assombrá-lo quando Fortunato reaparecer.
Não que Jaime precise de mais pedras no sapato, na verdade, pois a
cena final do capítulo nos mostrou exatamente que essa história está bem
longe de terminar para o poderoso empresário. A descoberta de uma
gravação de ligação de Jaime para Bigode encomendando a morte de Leandro
era exatamente o que a personagem de Murilo Benício não precisava neste
momento e o cerco definitivamente se fecha ao seu redor. Vai ser lindo
ver Jaime bradar e descabelar-se quando não houver mais nada a fazer
senão aceitar as consequências de seu crime.
Aliás, a cena final do capítulo tem um poder gigantesco por nos
surpreender e mostrar o caminho de destruição que “Amores” continuará
seguindo até o seu fim. Se durante todo o capítulo vimos a destruição
psicológica total da família Favais, a prisão iminente de seu patriarca
selará a destruição fática da família.
Foi como um grande aviso de “Amores” nos falando: nos dois capítulos restantes, não sobrarão pedras sobre pedras.
Vai ser simplesmente explosivo.
::: Alguns Devaneios Finais:
- A Globo fez toda uma estratégia para evitar que a série perdesse
muita audiência no novo horário, incluindo diminuir o tempo do BBB – que
fez uma estreia corridíssima – e colocar o Bial o tempo todo falando
sobre a minissérie. Não deu certo, a minissérie fez 25 pontos no
consolidado de terça, com 49% de share. Não são números ruins, mas
prejudicam a média final da minissérie que com certeza terminaria sua
trajetória com média superior a 30 pontos, dada a tensão destes últimos
capítulos.
- Desde que começou a minissérie vejo gente reclamando de algumas
escalações como Cauã Reymond e Ísis Valverde o que sempre me deu a ideia
de comentar acerca deles, mas fui deixando que seus personagens
crescessem mais para fazê-lo.
- Sobre Cauã Reymond, divido da opinião de muitos leitores e o acho
um ator completamente mediano (isso para ser bom com ele). Houve sim um
crescimento em sua carreira, mas longe de garantir seu nome entre os
melhores de sua geração. Entretanto, e digo isso com grande surpresa,
presenciamos em “Amores Roubados” Cauã em seu melhor momento. Sua
composição de Leandro me convenceu por completo e foi a melhor atuação
do ator que vi em anos. Talvez sejam as características do personagem
que, como um Don Juan, o deixou mais relaxado. Ou o texto que,
privilegiando seus momentos de conquista o manteve distante de grandes
embates com outras personagens – Patrícia Pillar e Dira Paes iriam
simplesmente engoli-lo por completo em um embate desses – mas toda a
composição e trajetória do personagem foram perfeitas, ainda mais se
considerarmos as deficiências de seu intérprete. Portanto, pela atuação
de Cauã como Leandro Dantas, dou-lhe uma nota de 7,5. Muito acima das
expectativas que eu poderia ter.
- Aliás, em defesa de Cauã, sou obrigado a dizer que poucos atores na
Globo são mais do que medianos para mim, sobretudo nesta faixa etária
de 20 a 30 anos. A Globo tem atrizes fantásticas e algumas até
superiores a muitas estrelas americanas multipremiadas – alô, Fernanda
Montenegro – mas quando vamos olhar os homens, dá uma tristeza sem fim.
Entre os mais maduros, com mais de 40 anos, até encontramos grandes
atores, mas quando olhamos os “galãs” mais jovens, me dá uma tristeza
enorme. Esse é preço que se paga quando, ao iniciar na profissão, no
auge de seus vinte e poucos, os atores são mais cobrados pela beleza e
pelo físico do que pelo talento, afinal, atores da mesma idade “desses
Cauãs” da vida, mas com carreiras voltadas pro teatro e pro cinema –
como é o caso de Jesuíta Barbosa – demonstram nessas poucas chances que
têm na TV que o talento existe, a TV que não procura.
- Outro que vi algumas críticas – em menor escala, é claro – e que
também merece meu elogio é Murilo Benício. Tentarei não ser tiete, pois
sou fã absoluto do ator, e manter essa análise a mais crua possível.
Murilo Benício sofreu do mesmo problema que Cauã, virando um galã
rapidamente em razão da sua beleza e convencendo pouco, em razão de ser
muito cru para a TV. Mas logo Murilo cresceu e tenho que dizer que acho
que o tempo lhe fez muito bem. Primeiro porque, como ator, ele percebeu
suas imperfeições e usou isso a seu favor, como é o caso da sua dicção
problemática que se transformou em sotaques e trejeitos incríveis para
seus personagens – e sim, estou falando do inesquecível Arthur de “Pé na
Jaca” e do Dodi, de “A Favorita”. O segundo ponto foi que com a idade,
passaram a lhe destinar papéis mais maduros e estes papéis lhe caem
incrivelmente bem. Se compararmos qualquer um dos três “mocinhos” que
ele fez em “O Clone” e pegarmos esses papéis de “pai” que ele vem
fazendo ultimamente vemos a bagagem que o ator tem imprimido em seus
papéis e como isso o torna um dos melhores atores de sua geração no casting
da Globo atualmente e com uma versatilidade impressionante que o faz
sair de um papel cômico como em “Pé na Jaca” e impressionar em uma série
de ação como “Força-Tarefa” ou quando sai do doce e inocente Tufão de
“Avenida Brasil” e emenda no poderoso e amedrontador Jaime em “Amores
Roubados”.
- Aliás, acho que as escolhas de papéis também estão fazendo muito bem a Murilo Benício.
- Até aqui daria um 8.5 para a composição de Jaime feita por Murilo
Benício. Mas teremos muito Jaime pela frente e acho que essa nota ainda
aumenta mais um pouco.
- Só a título de curiosidade: amo Murilo Benício, amo João Emanuel
Carneiro e amo Avenida Brasil mas, mesmo marcante e emblemático –
afinal, Murilo até hoje é chamado de Tufão e continuará por um bom tempo
– acho esse um dos papéis recentes mais fracos do ator. Mas nem culpo
tanto Murilo por isso, muito menos o texto. Era culpa da personagem
mesmo.
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