quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Amores Roubados – Capítulo 8




Mentiras reveladas, segredos descobertos… Nada será igual em Sertão após este oitavo capítulo de “Amores Roubados”…

Mantendo o ritmo sempre, a minissérie apresentou um oitavo capítulo para cardíaco nenhum botar defeito e, mesmo que eu quisesse respirar, mal consegui tirar os olhos da tela. Afinal, desde o momento em que Isabel chegou à casa de Celeste e ouviu da amiga a revelação de que Leandro era seu amante deu-se início uma reação em cadeia onde cada um dos segredos mais obscuros das personagens principais foram caindo um por um, com reações quase que imediatas.

O grande acontecimento do capítulo foi a revelação de que Celeste e Isabel eram amantes de Leandro e, a partir deste ponto, foi-se desenvolvendo uma cuidadosa trama explorando as dimensões psicológicas que esta bomba causou nos diferentes relacionamentos da minissérie. E aqui sou obrigado a destacar a perfeita união entre roteiro e direção mas, sobretudo, uma edição ágil que, intercalando todos os acontecimentos na casa de Celeste com algumas cenas esparsas de Jaime e de Fortunato, foi de uma inteligência ímpar, deixando-me literalmente ofegante.

Sou obrigado a começar a abordar esta sucessão de acontecimentos do ponto de vista de Isabel. A última vez que vimos a personagem, ela estava a beira da loucura, completamente sem rumo e se prendendo a um fio de sanidade que ainda lhe restava. Quando escuta de Celeste que a amiga também era amante de Leandro, este fiio se rompe e Isabel cede por completo. É inimaginável tentar entender todo o drama pelo qual a personagem passava – e aqui a frase de Jaime, de que faria a mulher sangrar de dor, faz completo sentido – mas ainda assim, Patrícia Pillar esteve tão espetacular em cena que, mesmo no meio do surto de sua personagem, conseguiu atrair muito do capítulo para si.

A próxima impactada pela informação dos casos de Celeste e Isabel com Leandro fora Antônia. Presenciar a própria mãe surtar e assumir o caso com o seu amado foi demais para a personagem e Ísis Valverde foi soberba neste momento. O choque, a dor, a dimensão de tudo o que acabara de escutar, a forma com que se afasta da mãe desvalida procurando por ar, foi tudo absolutamente perfeito. Cena fantástica para ambas as atrizes. Aliás, cena fantástica para a teledramaturgia nacional e ponto. Mas não acabou por aí, durante todo o resto do episódio o roteiro demonstrou um cuidado especial com Antônia e, dentro do furacão em que se encontrava a personagem, buscou mostrar sua dor com cenas simples e belas – com– a do banheiro e a da piscina – para que, claramente, o público se colocasse em seu lugar.

E então temos Celeste, cujo choque também foi genuíno, mas muito mais egoísta que o das outras personagens. Antônia e Isabel estavam de luto, sofrendo, sangrando pela dor que tamanhas mentiras lhe causaram. Celeste, muito fiel à sua personalidade, continuava preocupada apenas consigo mesmo. Tanto que, em seu momento chave no episódio, quando revela toda a história ao pai de Isabel, ainda assim ela está em busca do dinheiro que calaria a boca de Carolina e evitaria o prejuízo que essa bomba causaria em seu casamento. E por mais odiável que tenha sido essa atitude de Celeste – afinal, o fim de sua melhor amiga e sua filha não deveria ser o seu também, em sua cabeça – não há como não bater palmas para Dira Paes também. Odiável é a personagem, e a atriz a fez com maestria. Acompanhar a reação de Celeste ao furacão que estava acontecendo em sua casa deveria ser aula em cursos de teatro em todo o país, para mostrar que mesmo sem ser o centro das atenções, mesmo sem falas, uma grande atriz se faz presente em uma cena como essa.

Pena para Celeste que Cavalcanti friamente escutou toda a confissão da mulher, barbarizado, apenas tentando digerir tudo o que escutava ali, atrás da porta. E agora é chegado o momento que eu esperava desde que a minissérie começou, aquele em que eu devo elogiar também Osmar Prado. O ator foi simplesmente grandioso em cena – e olha que ele dividia o texto com Dira Paes naquele momento – e, por mais que a cena tenha durado pouco mais de dois minutos, acompanhar a gradação da reação de Cavalcanti, desde sua incredulidade até sua ira, foi simplesmente glorioso.

Quanto ao resto, a muitos quilômetros dali, vimos Fortunato fazer o inimaginável e conseguir fugir – pelo menos neste primeiro momento – de João e Bigode. Inteligente, o rapaz evitou que seu destino fosse o mesmo de seu melhor amigo ao fugir e continua sendo uma grande pedra no sapato de Jaime, mesmo que este não saiba disso graças à mentira de João que, certamente, voltará para assombrá-lo quando Fortunato reaparecer.

Não que Jaime precise de mais pedras no sapato, na verdade, pois a cena final do capítulo nos mostrou exatamente que essa história está bem longe de terminar para o poderoso empresário. A descoberta de uma gravação de ligação de Jaime para Bigode encomendando a morte de Leandro era exatamente o que a personagem de Murilo Benício não precisava neste momento e o cerco definitivamente se fecha ao seu redor. Vai ser lindo ver Jaime bradar e descabelar-se quando não houver mais nada a fazer senão aceitar as consequências de seu crime.

Aliás, a cena final do capítulo tem um poder gigantesco por nos surpreender e mostrar o caminho de destruição que “Amores” continuará seguindo até o seu fim. Se durante todo o capítulo vimos a destruição psicológica total da família Favais, a prisão iminente de seu patriarca selará a destruição fática da família.

Foi como um grande aviso de “Amores” nos falando: nos dois capítulos restantes, não sobrarão pedras sobre pedras.

Vai ser simplesmente explosivo.

::: Alguns Devaneios Finais:
- A Globo fez toda uma estratégia para evitar que a série perdesse muita audiência no novo horário, incluindo diminuir o tempo do BBB – que fez uma estreia corridíssima – e colocar o Bial o tempo todo falando sobre a minissérie. Não deu certo, a minissérie fez 25 pontos no consolidado de terça, com 49% de share. Não são números ruins, mas prejudicam a média final da minissérie que com certeza terminaria sua trajetória com média superior a 30 pontos, dada a tensão destes últimos capítulos.

- Desde que começou a minissérie vejo gente reclamando de algumas escalações como Cauã Reymond e Ísis Valverde o que sempre me deu a ideia de comentar acerca deles, mas fui deixando que seus personagens crescessem mais para fazê-lo.

- Sobre Cauã Reymond, divido da opinião de muitos leitores e o acho um ator completamente mediano (isso para ser bom com ele). Houve sim um crescimento em sua carreira, mas longe de garantir seu nome entre os melhores de sua geração. Entretanto, e digo isso com grande surpresa, presenciamos em “Amores Roubados” Cauã em seu melhor momento. Sua composição de Leandro me convenceu por completo e foi a melhor atuação do ator que vi em anos. Talvez sejam as características do personagem que, como um Don Juan, o deixou mais relaxado. Ou o texto que, privilegiando seus momentos de conquista o manteve distante de grandes embates com outras personagens – Patrícia Pillar e Dira Paes iriam simplesmente engoli-lo por completo em um embate desses – mas toda a composição e trajetória do personagem foram perfeitas, ainda mais se considerarmos as deficiências de seu intérprete. Portanto, pela atuação de Cauã como Leandro Dantas, dou-lhe uma nota de 7,5. Muito acima das expectativas que eu poderia ter.

- Aliás, em defesa de Cauã, sou obrigado a dizer que poucos atores na Globo são mais do que medianos para mim, sobretudo nesta faixa etária de 20 a 30 anos. A Globo tem atrizes fantásticas e algumas até superiores a muitas estrelas americanas multipremiadas – alô, Fernanda Montenegro – mas quando vamos olhar os homens, dá uma tristeza sem fim. Entre os mais maduros, com mais de 40 anos, até encontramos grandes atores, mas quando olhamos os “galãs” mais jovens, me dá uma tristeza enorme. Esse é preço que se paga quando, ao iniciar na profissão, no auge de seus vinte e poucos, os atores são mais cobrados pela beleza e pelo físico do que pelo talento, afinal, atores da mesma idade “desses Cauãs” da vida, mas com carreiras voltadas pro teatro e pro cinema – como é o caso de Jesuíta Barbosa – demonstram nessas poucas chances que têm na TV que o talento existe, a TV que não procura.

- Outro que vi algumas críticas – em menor escala, é claro – e que também merece meu elogio é Murilo Benício. Tentarei não ser tiete, pois sou fã absoluto do ator, e manter essa análise a mais crua possível. Murilo Benício sofreu do mesmo problema que Cauã, virando um galã rapidamente em razão da sua beleza e convencendo pouco, em razão de ser muito cru para a TV. Mas logo Murilo cresceu e tenho que dizer que acho que o tempo lhe fez muito bem. Primeiro porque, como ator, ele percebeu suas imperfeições e usou isso a seu favor, como é o caso da sua dicção problemática que se transformou em sotaques e trejeitos incríveis para seus personagens – e sim, estou falando do inesquecível Arthur de “Pé na Jaca” e do Dodi, de “A Favorita”. O segundo ponto foi que com a idade, passaram a lhe destinar papéis mais maduros e estes papéis lhe caem incrivelmente bem. Se compararmos qualquer um dos três “mocinhos” que ele fez em “O Clone” e pegarmos esses papéis de “pai” que ele vem fazendo ultimamente vemos a bagagem que o ator tem imprimido em seus papéis e como isso o torna um dos melhores atores de sua geração no casting da Globo atualmente e com uma versatilidade impressionante que o faz sair de um papel cômico como em “Pé na Jaca” e impressionar em uma série de ação como “Força-Tarefa” ou quando sai do doce e inocente Tufão de “Avenida Brasil” e emenda no poderoso e amedrontador Jaime em “Amores Roubados”.

- Aliás, acho que as escolhas de papéis também estão fazendo muito bem a Murilo Benício.
- Até aqui daria um 8.5 para a composição de Jaime feita por Murilo Benício. Mas teremos muito Jaime pela frente e acho que essa nota ainda aumenta mais um pouco.

- Só a título de curiosidade: amo Murilo Benício, amo João Emanuel Carneiro e amo Avenida Brasil mas, mesmo marcante e emblemático – afinal, Murilo até hoje é chamado de Tufão e continuará por um bom tempo – acho esse um dos papéis recentes mais fracos do ator. Mas nem culpo tanto Murilo por isso, muito menos o texto. Era culpa da personagem mesmo.

Nenhum comentário: