segunda-feira, 15 de setembro de 2008
ENTREVISTA: Antonio Calmon
O surfe sempre foi um tema que Antonio Calmon gostou de abordar. Não é à toa que o esporte esteve presente em dois filmes, no seriado ‘Armação Ilimitada’ e em quatro novelas. “É uma temática ‘aventuresca’ que eu gosto de abordar e acho que estava na hora de revisitá-la. E, antes que me perguntem, eu não sou surfista, só peguei onda ‘de jacaré’! Não tenho amigos surfistas, nunca freqüentei nem freqüento o meio! Mas ia sempre ao Arpoador, tenho olhos, ouvidos, cérebro e imaginação”, brinca o autor.
Aos 19 anos, Calmon abandonou a Escola de Sociologia e Política da PUC para ir atrás de uma das suas maiores paixões: o cinema. Sua filmografia inclui 12 longas-metragens, dentre eles se destacam participações como argumentista, diretor ou roteirista de obras como Eu Matei Lúcio Flávio (1979), Menino do Rio (1982), Garota Dourada (1983). Segundo o autor, em ‘Três Irmãs’, há referências de vários filmes. “Eu sou cineasta e sou cinéfilo. Cinema é uma constante na minha vida, assim como a leitura. Então, a referência ao cinema é inevitável”, destaca Calmon.
Em 1985, foi convidado por Daniel Filho para trabalhar na TV Globo, integrando a equipe de roteiristas do então inovador “Armação Ilimitada”. Pouco depois, começou a escrever novelas. Sua estréia foi “Top Model” (1989), ao lado de Walther Negrão. Dentre seus maiores sucessos da teledramaturgia estão “Vamp” (1991), “Olho no Olho” (1993), “Sex Appeal” (1993), “Cara & Coroa” (1995), “A Justiceira” (1997), “Corpo Dourado” (1998), “Um Anjo Caiu do Céu” (2001) e “O Beijo do Vampiro” (2002).
Com ‘Três Irmãs’, Calmon quer divertir o telespectador: “Quero dar 40 minutos de alegria, humor, beleza visual, sonho e romance. Não acho que isso seja alienar as pessoas. Acredito que é dar um respiro, uma folga, um alívio”.
Qual é o tema central de ‘Três Irmãs’?
Antonio Calmon: “Três Irmãs” é uma comédia romântica que tem dois vértices. De um lado, ela obedece aos padrões tradicionais de novela. Tem um tema basicamente feminino e, por outro lado, tem o surfe, uma temática que eu gosto de abordar. Eu quero atrair dois públicos: as donas-de-casa e a garotada. Para isso, localizei essa família de mulheres numa cidade que é um point de surfe e misturei a vida delas com a desses surfistas. No mais, é uma novela basicamente cômica, com elementos de melodrama que são necessários para fazer a trama andar. Até os vilões são engraçadíssimos.
Onde busca referências para criar seus personagens, suas histórias?
Antonio Calmon: Cada vez mais eu pego referências em minha própria biografia, fatos pessoais. Cada autor tem um estilo, sua praia. A partir de uma certa idade, você começa a se inspirar na sua própria vida. Eu me inspirei nos meus avós para criar a Virgínia e o Augusto, inclusive os nomes. A minha avó Virgínia era uma mulher simples, do interior do Espírito Santo, que se tornou pastora da igreja Batista e formou oito filhos. Meu avô Augusto era um boêmio, fazia filhos e sumia. Era adorável, irresistível. Eu quis colocar a história dessa mulher, que formou e criou sozinha as filhas, e destacar a união entre elas.
Você sempre escreveu novelas das 19h. Qual a maior dificuldade deste horário?
Antonio Calmon: Cada horário de novela tem suas características, suas peculiaridades, suas dificuldades. E cada autor tem uma praia. A minha é essa: o horário das 19h. Uma das diferenças deste horário em relação aos demais é o público, que é muito diversificado. As pessoas estão chegando, saindo, preparando jantar. É muito difícil captar a atenção delas. Por outro lado, o horário das 19h me permite brincar com a imaginação. Você tem muito mais liberdade, pode ser mais leve e brincar com a história.
O personagem Augusto, interpretado pelo José Wilker, tem um pouco do realismo fantástico do Dias Gomes?
Antonio Calmon: Essa novela é uma homenagem ao Dias Gomes, que sempre foi absolutamente gentil e correto comigo. Eu adoro as coisas que ele fez. Dias Gomes é indiscutivelmente o autor do maior sucesso da televisão brasileira, ‘Roque Santeiro’. Estou revisitando esse universo, através da cidadezinha, das coisas meio mágicas, meio estranhas, que acontecem nela. No meio da novela, Augusto chega à cidade com outro nome e fica a dúvida sobre quem ele realmente é: se é o Augusto, um sósia, uma figura negativa. Como aconteceu em ‘Roque Santeiro’. O Glauco, personagem do Guilherme Piva, por exemplo, é dono de uma funerária que está indo à falência, porque ninguém morre na cidade. Toda vez que alguém está doente, ele fica na porta que nem um urubu, para ver se a pessoa morre.
Você fala muito da luta do bem contra o mal. Como ela será mostrada em ‘Três Irmãs’?
Antonio Calmon: A luta entre o bem e o mal é inevitável, é um elemento das novelas. Em ‘Três Irmãs’, eu transformei essa luta do bem contra o mal numa luta pela ecologia, encabeçada pelos surfistas Zig (Brenno Leone) e Thor (Caio Vaz). Vamos focar muito na defesa da praia que os vilões querem não só tomar da população e ocupar, como também fazer uma grande negociata com o dinheiro público.
Logo no primeiro capítulo, a personagem Natalia (Cecília Dassi) fica grávida. Alma (Giovanna Antonelli) é uma ginecologista que trabalha no ambulatório de Caramirim. Como você vai abordar questões como gravidez na adolescência e saúde da mulher?
Antonio Calmon: Eu não me programo sobre os temas que vou abordar. As tramas saem naturalmente, porque eu me informo, leio jornal, livro, vejo televisão. Na história, Natalia tem 17 anos. No mundo real, tem casos de gravidez muito mais cedo do que eu estou mostrando. Outra questão que surgiu com naturalidade foi a da saúde da mulher. Como eu tenho uma experiência prévia do seriado ‘Mulher’ e a personagem da Giovanna será uma ginecologista, vamos falar sobre o problema seríssimo de HPV e do câncer de mama. As pessoas na cidade de ‘Três irmãs’ têm vergonha de fazer o exame, porque o único médico da cidade é homem. A Alma vai tentar vencer essa resistência.
Como é sua relação com o elenco?
Antonio Calmon: Gosto de me reunir com os atores antes da novela começar. Chamo de vestir o personagem para o ator. Ou seja, chamo a atriz e quero ver como ela está ou conhecê-la, se for o caso. Eu quero ouvir a sua voz para saber como escrever os diálogos. Quero saber o que ela está achando do personagem, o que gosta mais, o que gosta menos, se tem alguma idéia. Cada encontro me dá umas cinco idéias de trama e me enriquece muito. Eu adoro ator inventivo. Eles já chegam cheios de idéias. A Dora tinha um tom mais pesado, mas a Cacau (Claudia Abreu) me convenceu a mudá-la. Chegou cheia de idéias e, inclusive, com uma sugestão de trilha sonora para a personagem. Acho isso comovente e incorporo à trama. A Regina Duarte, por exemplo, mudou o personagem dela e nós topamos porque ficou muito divertido. Este será o primeiro personagem, desde a Viúva Porcina, que sai do “padrão Regina Duarte”. Ela vem a mil por aí, cheia de gás. É um personagem que estamos fazendo juntos, em um trabalho coletivo.
Como é a escolha da trilha sonora?
Antonio Calmon: Eu participo muito da trilha sonora da novela. Tenho reuniões para decidir o tema de abertura, as trilhas incidentais. Haverá uma novidade: pela primeira vez, os dois discos serão mistos: nacional e internacional. E já adianto: a trilha de ‘Três Irmãs’ será bem diversificada.
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